Brasil em contraciclo

Paulo Pacheco, Banco Português de Gestão
Vitor Duarte

O corrente ano tem sido um desafio para os investidores em multiativos. Vivemos um período de grande volatilidade, que se demarca dos últimos anos. Esta volatilidade é transversal aos vários blocos, mas acentua-se nos mercados emergentes. As razões que suportam esta volatilidade são a situação politico-financeira na Turquia, novo plano de ajuda à Argentina, o abrandamento económico na China (ainda bastante robusto para os padrões ocidentais), a guerra comercial entre os EUA e a China e por último as recentes eleições no Brasil. Ao longo dos anos, o investimento nos mercados emergentes vem perdendo o seu glamour. Os retornos já não são o que eram, refletindo o seu novo estágio de desenvolvimento, mas acima de tudo, estão cada vez mais correlacionados com os mercados desenvolvidos, perdendo eficácia na diversificação de carteiras.

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O Brasil, país irmão, tem a sua própria história e desempenha papel fulcral na sua região de influência. Ao invés da maioria dos emergentes, o mercado acionista Brasileiro tem sido bastante resiliente (+16% YTD – 07/Nov./18), se tivermos em conta os fatores económicos e políticos vividos por este gigante mundial: um ex-presidente preso, uma presidente destituída das suas funções, casos de corrupção envolvendo grandes figuras da política e dos negócios, uma dívida pública em rápida aceleração, uma inflação bem acima do nível de referência (10,7% em 2015 e 6,3% em 2016) e umas eleições que ameaçavam dividir a população. Contudo, o comportamento dos investidores foi de reconhecimento nas capacidades e nos fundamentais do país.

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As perspetivas para a economia Brasileira não são extraordinárias, mas refletem um caminho de progressão. Espera-se uma aceleração do PIB, ainda que as taxas sejam relativamente modestas, uma subida generalizada dos preços, mas dentro do intervalo definido pelo BCB e um maior controlo da dívida pública. Por outro lado, com a vitória de Bolsonaro e de acordo com as declarações proferidas, deverá haver uma alteração da política externa Brasileira, que estava centrada nos restantes membros dos BRICS e na América Latina para uma aproximação aos EUA. A abertura da economia Brasileira e o plano de privatizações poderá dar um novo fôlego ao investimento estrangeiro e estancar a desvalorização do real. Os fatores de risco são os recorrentes, instabilidade política, acentuada pela dura campanha vivida recentemente, confronto entre órgãos de soberania e dificuldade em criar condições de crescimento sustentável (investimento, educação, saúde). Em suma, o Brasil continuará a “correr na sua própria pista” onde o prémio de risco terá que compensar a imprevisibilidade característica deste país.