Chart of the Week - Estaremos perante um pico nas margens de lucro?

Rina Guerra. Créditos: Cedida (Miguel Baltazar)

Chart of the Week é da autoria de Rina Guerra, gestora de ações no Banco Carregosa.

Este gráfico ilustra que o setor empresarial gozou de um período extremamente favorável nos últimos 40 anos, com rentabilidades operacionais e margens de lucros atualmente em máximos históricos e (quase sempre) em trajetória ascendente.

Este sucesso resultou, não só de um corporate governance em constante melhoria (aumento de transparência, comunicação, maior profissionalismo), mas também de vários tailwinds económicos que abaixo descrevo. O mais natural é que estejamos perante um pico nas margens de lucro, pelo que uma compressão no futuro próximo poderá ser inevitável pelas seguintes razões:

  1. A globalização das economias, aliada ao florescimento da internet, trouxe muitos benefícios, nomeadamente uma redução estrutural dos custos. É provável que o pico da globalização tenha sido atingido. Consequentemente, os custos de gerir um negócio irão seguramente continuar a aumentar – quer seja por via de matérias-primas, salários ou cadeias de aprovisionamento mais onerosas;
  2. Custo de vida mais exigentes – os consumidores saíram da pandemia recente com níveis de poupanças historicamente elevadas, que agora poderão desvanecer face à diminuição do rendimento disponível, pressionando a procura agregada;
  3. O tailwind relacionado com taxas de imposto extremamente baixas poderá estar perto do fim – os governos precisam de financiar os seus orçamentos cada vez mais dispendiosos (planos de infraestruturas, combate às alterações climáticas, orçamentos para a defesa, etc.);
  4. A época de dinheiro fácil e (praticamente gratuito) a chegar ao fim, com a provável subida das taxas de juro de forma transversal em todo o mundo – as empresas terão, consequentemente, custos financeiros estruturalmente mais elevados;
  5. Uma Nova Ordem Mundial – acionistas versus outros stakeholders. Com o aumento do foco na sustentabilidade (i.e., ESG), tem sido dada importância crescente a outros agentes económicos em detrimento do acionista, que havia sido a figura principal nos últimos anos;
  6. Tendência para a desglobalização: o pós-Segunda Guerra Mundial, trouxe a liberalização do comércio que conduziu à globalização e todas as vantagens que daí advieram. Desde a crise 2008/09, e sobretudo as próprias dinâmicas geopolíticas atuais, têm estado gradualmente a reverter esta tendência, reduzindo o nível de eficiência à escala mundial;
  7. Bipolarização Oeste/Este com a Guerra Fria II – a premissa de paz no mundo ocidental foi posta em causa com a guerra na Ucrânia. As implicações para os investidores e para as empresas, de uma maior incerteza e a quebra na confiança, são penalizadoras para o crescimento económico saudável.

Constata-se, portanto, uma mudança de paradigma no mundo corporate que será inevitável para os próximos anos. A questão é agora perceber como os investidores e os analistas de mercado irão incorporar esta nova realidade nas suas decisões de investimento e nas suas estimativas. Uma coisa parece clara: será difícil que nesta Nova Ordem mundial, as empresas consigam manter estes níveis de margens de lucro.