Guilherme Neves, gestor de carteiras na Invest GA, afirma que "a Europa terá que ter necessariamente algum desconto, ou seja, uma earnings yield maior do que o mercado norte-americano".
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O ano de 2023 trouxe o regresso de um paradigma que já não se verificava desde 2002, a existência de um spread negativo entre a earnings yield do S&P-500 e das US Treasuries a 10 anos (Figura 1). Este spread que se cifra em 70 pontos base negativos atualmente, contrasta com os 486 pontos base positivos no caso do EuroStoxx-50 (Figura 2).
Figura 1- Earnings yield do S&P 500 e taxa de juro das treasuries a 10 anos desde 1994.
Fonte: Bloomberg
Figura 2- Earnings yield do EuroStoxx 50 e taxa Swap em EUR a 10 anos desde 2002.
Fonte: Bloomberg
Antes do leitor retirar conclusões definitivas deve ser tido em conta que entre 2013 e 2023 os lucros do S&P-500 cresceram 95,7% vs 65,5% no caso do Eurostoxx. É ainda mais assombrador o facto de o EPS do Eurostoxx-50 ter registado em 2023 um nível de earnings per share em linha com 2007.
Figura 3- Composição setorial e por país do ETF ishares Core EuroStoxx 50
Fonte: Bloomberg
Figura 4- Composição setorial e por país do ETF SPDR S&P 500 Trust
Fonte: Bloomberg
Importa aferir a composição setorial de ambos os mercados (Figuras 3 e 4), dado que a mesma ajuda a contextualizar a diferença entre as yield gaps nos dois mercados. Assim, o S&P-500 é um índice com uma maior diversificação setorial e uma exposição a setores com maior crescimento estrutural. Pelo contrário, o EuroStoxx-50 é um índice com subponderação ao setor tecnológico face ao congénere norte-americano e uma maior exposição ao setor financeiro com níveis mais elevados de regulação e ciclicidade que terão no passado prejudicado substancialmente a performance do mesmo.
Daqui podemos inferir que a Europa terá que ter necessariamente algum desconto, ou seja, uma earnings yield maior do que o mercado norte-americano, restando aferir se o desconto atual não será exagerado na certeza que o mercado por terras do tio Sam apresenta uma margem de segurança diminuta.
Assim, resta esperar que a economia americana continue a desempenhar bem e que consequentemente os resultados empresariais continuem a registar crescimentos fortes de modo a justificar as elevadas valorizações existentes. Desta forma, deve reforçar-se ainda mais o papel da gestão ativa neste contexto de mercado desafiante.