Chart of the Week - Iene japonês toca em mínimos dos últimos 34 anos

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Luís Marinho. Créditos: Cedida (Fidelidade)

O Chart of the Week é da autoria de Luís Marinho, gestor de produto na Fidelidade.

Na quarta-feira passada, o iene tocou em mínimos de 34 anos. O movimento aconteceu no seguimento de uma mudança histórica no rumo da política monetária do BoJ para uma postura mais restritiva, pondo fim a 17 anos de luta contra a deflação.

Alterações à política monetária e impacto no iene

Na sua última decisão de política monetária, a 19 de março, o BoJ terminou oficialmente a sua política de taxas de juro negativas. Ao mesmo tempo, terminou o yield curve control e pôs fim à compra de ETF e J-REIT. Apenas a compra de dívida pública japonesa foi mantida aos níveis atuais. Não obstante a mudança radical, a leitura de muitos investidores foi de que o anúncio das medidas era largamente esperado e o tom foi inclusive dovish após o comentário de que as condições financeiras acomodatícias serão mantidas.

No rescaldo do anúncio do BoJ, as taxas de juro de longo prazo desvalorizaram, o iene japonês recuou face ao dólar e as ações japonesas reagiram em alta.

Se por um lado sabemos que um iene mais fraco suporta as exportadoras e os lucros das empresas nipónicas, por outro, também é verdade que torna as importações mais caras, fomentando pressões inflacionistas.

Previsões do mercado

As opiniões dividem-se, a descida do iene tanto pode ser o resultado de uma mistura de uma saída estrutural de capital como significado de um dólar/iene carry elevado. Ou será apenas mera especulação?

Se por um lado a fraqueza do iene foi justificada até agora pela divergência de política monetária entre o BoJ e os outros bancos centrais, por outro, o iene cumpre o papel de ativo refúgio e é também, ao mesmo tempo, bastante popular em operações carry trade - operações financeiras onde se contraem empréstimos numa moeda com taxas de juro baixas para investir numa moeda com taxas mais altas, de forma a ganhar com a diferencial de taxas. Sabemos que esse tipo de operações enfraquecem o iene à medida que ganham volume, mas rapidamente causam uma súbita apreciação quando os especuladores invertem abruptamente as suas posições cambiais, o que pode acontecer precisamente em alturas de mudança de regime de política monetária.

Há, portanto, múltiplas teorias que podem justificar o facto de o iene estar perto de mínimos das últimas décadas, no entanto, importa agora tentar perceber potenciais reações do BoJ, que pode intervir em mercado, e o potencial impacto nos preços dos ativos.