Chart of the Week - Inclinação da yield curve nos EUA e recessão económica

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(O Chart of the Week desta semana é da autoria de António Mello Campello, partner da Bluecrow)

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Desde o início do ano que temos vindo a ser "assombrados" pela suposta capacidade da inclinação da yield curve nos EUA prever a próxima recessão económica. Esta repentina correlação vem no seguimento de várias outras métricas usadas em anos anteriores e que, após provadas serem de pouca relevância, caíram no esquecimento.

mello_campello_bluecrowA redução da intervenção da FED na economia americana tem vindo a provocar, ao longo dos últimos 2 anos, uma subida das taxas de juro de curto prazo mais acentuada que a subida verificada no longo prazo, fazendo com que a inclinação da curva de taxas de juro nos EUA se tenha reduzido para os actuais  0,29%, oferecendo aos "caçadores de gráficos" e "repórteres agoirentos" uma nova medida de previsão de uma possível recessão no curto prazo.  

É importante, no entanto, reforçar e relembrar que este indicador não demonstrou ser uma boa métrica na previsão das ultimas cinco recessões, tendo a yield curve virado negativa com mais 20 meses de distância da recessão, oferecendo ainda, em muitos casos, uma valorização positiva do S&P até ao início de uma recessão económica.

Como ilustração anexo um pequeno gráfico que junta a inclinação da yield curve a evolução do preço do S&P. Como podemos observar, esta métrica não foi suficiente para prever a grande crise de 2008, tendo inclusivamente acontecido a 21 meses do máximo no S&P. Em relação à grande correcção das Dotcom, e usando apenas a última inversão, e não a primeira em meados de 1998, a previsão foi de 6 meses até ao máximo do S&P.

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Face ao exposto, vários aspectos devem ser tidos em consideração na análise da yield curve, entre eles, as já tradicionais inflação e risco económico. Ambos estão bastante controlados, como se pode ver no gráfico abaixo, adicionando ao facto de que a FED tem ainda um balanço bastante pesado, que tem vindo a desinvestir de forma cuidada.

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Acreditamos, por isso, que uma recessão poderá estar ainda longe, pelo menos a mais de 20 meses de distância, dependendo dos temas geopolíticos em voga. Mas tal não significa que uma correção de mercado não esteja para acontecer nos próximos meses! Atenção à yield a 10 anos, a relação entre os EUA e o mundo e a relação entre Estados na UE sobre o tema dos emigrantes. Todos nos relembramos do FED tantrum do verão de 2013.