Como incluir green bonds na carteira

Julien Bras, Allianz GI noticia
Julien Bras. Créditos: Cedida

Como incluir green bonds na carteira

TRIBUNA de Julien Bras, CFA, gestor do fundo Allianz Green Bonds, Allianz Global Investors (AllianzGI). Comentário patrocinado pela Allianz GI.

Com as green bonds (obrigações verdes ou sustentáveis), assistimos ao nascimento de uma nova classe de ativos. Enquanto investidores neste novo segmento desde 2015, temos acompanhado com interesse a sua evolução e estamos satisfeitos com o seu rápido crescimento. Mas não devemos perder a perspetiva. Ainda há muito a fazer e, se queremos que o financiamento da transição energética seja uma realidade, necessitamos que se juntem mais emissores, de mais setores e de diferentes regiões.

As green bonds já não são um nicho de mercado. Constituem uma classe de ativos por direito próprio, comparável em tamanho, por exemplo, ao mercado europeu de obrigações de alto rendimento (high yield). E o progresso tem sido muito rápido. No final de 2015, as green bonds apenas representavam 0,1% de um índice de obrigações internacional, percentagem que ascendeu a 1%, com um volume que ronda os 500 mil milhões de euros.

O interesse atual pelas green bonds é notável entre os investidores europeus, que assistiram ao auge dos fundos de investimento especializados nesta classe de obrigações nos últimos anos. O fenómeno começa a estender-se aos Estados Unidos e à Ásia. É provável que a eleição de Joe Biden, comprometido com a reintegração dos EUA no Acordo de Paris, exerça uma influência positiva. Na Ásia, principalmente na China, a crise sanitária está a servir para impulsionar os projetos voltados para o ambiente e, portanto, o uso das green bonds. Embora esteja longe de responder aos padrões globalmente aceites, espera-se que o mercado continue a expandir-se por aí.

Rumo à normalização

O mercado caminha a passo firme para a autorregulação e uma maior transparência. Atualmente a denominação de green bond é outorgada pelo próprio emissor. Para mitigar a falta de normas precisas e facilitar uma maior transparência do mercado, a Associação Internacional de Mercados de Capitais (ICMA, da sua sigla em inglês) criou, em 2014, os Princípios dos Green Bonds, a partir dos quais podem ser definidas normas para os emissores. A Comissão Europeia anunciou o lançamento de uma norma europeia para as green bonds que, embora se assemelhe aos Princípios, vai incluir obrigações adicionais.

Quando lançámos o nosso fundo de green bonds, foi sempre muito claro que o objetivo era mobilizar capital para financiar a transição energética rumo a uma economia de baixas emissões de CO2, à preservação do património natural e ao combate às alterações climáticas. Por isso, optámos por sobrepesar os emissores corporativos. Esta preferência explica-se pelo facto de que o capital aportado por organismos públicos como os governos não vai poder atingir as enormes quantias anuais exigidas pelos objetivos do Acordo de Paris sem a participação essencial do setor privado.

Para começar, não evitamos nenhum setor, exceto o das tabaqueiras. Aceitamos que empresas de setores intensivos em emissões de gases de efeito estufa possam emitir green bonds se mostrarem o compromisso de transformar o seu negócio e empreenderem uma verdadeira transição para um modelo em sintonia com os objetivos climáticos do Acordo de Paris, com uma estratégia sólida e ambiciosa.

Como encaixam as green bonds numa carteira

Alguns investidores têm dúvidas sobre como incorporar as green bonds nas suas carteiras. A nosso ver, a sua utilidade reside no facto de poderem diversificar uma alocação em rendimento fixo internacional, dada a semelhança do seu rácio rentabilidade-risco com o de um índice de dívida agregada global. Apesar de estarem altamente correlacionados, existem certas diferenças estruturais entre os dois que fazem das green bonds uma verdadeira fonte de diversificação graças a uma duração um pouco mais longa, à sua inclinação para a zona euro e uma maior exposição aos emissores empresariais, já que os títulos soberanos têm uma presença bastante elevada em índices agregados internacionais. Daí que se possa recorrer às green bonds ​​para diversificar uma carteira agregada internacional, mantendo um perfil de risco-rentabilidade semelhante, mas com uma composição diferente.

Acreditamos que as green bonds devem ser posicionadas como uma classe de ativos diferenciada de modo a que se possa calcular a contribuição dos investimentos correspondentes. É por isso que nos limitamos a fundos constituídos exclusivamente por green bonds que reportam com transparência o uso dos financiamentos captados pelos emissores. Dessa forma, cingindo-nos a estratégias puras de green bonds, sem combiná-las com outros tipos de emissões, tiramos o máximo partido da classe de ativos.