IMGA: "Para o segundo semestre de 2023 esperamos um crescimento da economia mundial abaixo do seu potencial"

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Créditos: Silas Baisch (Unsplash)

TRIBUNA da equipa de Investimentos da IM Gestão de Ativos.

Para o segundo semestre de 2023 esperamos um crescimento da economia mundial abaixo do seu potencial, com riscos de ocorrência de quebras no nível de atividade nos EUA e na Europa. Na base deste arrefecimento estarão o impacto desfasado das subidas das taxas de juro, a quebra do crédito bancário e dos lucros empresariais e o término das poupanças excedentárias das famílias. Dito isto, salvo a ocorrência de choques económicos adicionais de maior impacto, não antecipamos uma quebra económica muito significativa. A evolução do mercado laboral contribuirá para a dimensão desta desaceleração.

Inflação e taxas diretoras

No que diz respeito à inflação, perspetivamos a continuação da trajetória descendente, sobretudo devido ao arrefecimento da procura, à normalização das cadeias de abastecimento e à capacidade inferior do aumento das margens de lucros das empresas. No entanto, no curto prazo haverá ainda pressões altistas, principalmente no setor alimentar, relacionadas com os apoios estatais às famílias. Fenómenos meteorológicos, como o El Niño ou o possível inverno mais rigoroso na Europa no final de 2023, poderão levar ao aumento de preços dos cereais ou da energia, existindo por isso o risco, não negligenciável, da inflação permanecer elevada durante mais tempo do que o previsto, o que forçaria potencialmente uma postura mais agressiva dos principais bancos centrais mundiais.

Nesse âmbito, assistiu-se no último ano ao maior acréscimo das taxas diretoras desde o início da década de 80, sendo que perspetivamos que este processo esteja já próximo do fim. Com as taxas diretoras em nível neutral ou mesmo restritivo, haverá naturalmente uma maior propensão para pausar e avaliar o impacto das subidas na economia e na inflação. Por isso, pensamos que a mais longo prazo a possibilidade para potenciais cortes é maior do que novas subidas. Apenas em caso de maior resiliência económica e surpresas inflacionistas nos parece possível ocorrerem subidas superiores ao descontado pelos investidores.

Políticas orçamentais

No capítulo das políticas orçamentais, os apoios às famílias na Europa amorteceram parcialmente o impacto da perda do poder de compra e da subida dos preços da energia em 2022. Grande parte destas medidas foram revertidas em 2023, o que significa uma menor pressão orçamental para este ano. O governo norte-americano ficou também com menor espaço para gastos depois do acordo do limite da dívida que apertou ainda mais a expansão da despesa. China será a exceção, mas ainda assim as expectativas são de que o suporte à atividade económica seja direcionado para setores específicos e não de uma forma abrangente.

A subida dos preços no setor dos serviços e a subida dos salários terá como consequência um enorme desafio para a política monetária do BCE e da Fed. As taxas de juro deverão permanecer elevadas durante mais tempo com o objetivo de alinhar os objetivos de inflação dos bancos centrais, mesmo que isso tenha impacto negativo na atividade económica. Adicionalmente, o pagamento do TLTRO e a redução dos programas APP terão um efeito negativo na evolução das taxas de juro na Europa. Ainda assim, embora o pico possa ainda não ter sido atingido, contamos que a tendência de subida seja interrompida no segundo semestre.

Crédito

No crédito, fruto de um ambiente macroeconómico mais desafiante, pensamos que os spreads na dívida corporate terão uma tendência de alargamento. No segmento de high yield projetamos um maior alargamento de spreads que no segmento de investment grade e dependente da dimensão do abrandamento económico. Os níveis de incumprimento deverão também aumentar, o que levará a uma deterioração das notações de rating das empresas. O facto de os EUA estarem mais adiantados neste ciclo económico deverá continuar para uma maior pressão nesta região, embora naturalmente isso venha também a afetar a Europa.

Perspetivas para o segundo semestre

Para o segundo semestre do ano as nossas perspetivas passam por um crescimento de resultados nulo a moderado, com o setor tecnológico e o Japão a destacarem-se pela positiva. Ao contrário do que aconteceu no primeiro semestre, e face aos níveis atuais de valorização, pensamos existir muito menos espaço para uma expansão de múltiplos. Assim, o nosso cenário central aponta em grande medida para uma manutenção das dinâmicas na primeira metade do ano, ainda que sem uma valorização dos mercados acionistas tão extremada. De igual forma, a disparidade de resultados entre diferentes regiões e setores deverá manter-se, embora com menor amplitude.

Em conclusão, um cenário económico em que as taxas de juro tenderão a ter um impacto adicional negativo e que será conducente a uma desaceleração do crescimento. Neste cenário, os ativos de maior risco oferecem menor atratividade, em especial depois de um primeiro semestre com retornos tão positivos. Dito isto, não antecipamos maiores riscos que os referidos anteriormente e face ao posicionamento dos principais bancos centrais que têm conseguido no último ano, voltar a ter espaço para reduzir taxas se for necessário, dando assim suporte às diferentes classes de ativos se as condições de mercado evoluírem de forma muito desfavorável.