Matteo Salvini afirmou recentemente que o spread a dez anos da dívida italiana face à alemã não iria atingir os 400 bps. O contributo desta semana é de Francisco Almeida, portfolio manager do Banco CTT, que questiona e analisa a afirmação em causa.
A semana passada Paulo Joaquim estava de olho no Orçamento Italiano. Esta semana vou estar de olhos postos no spread a 10 anos da Dívida Italiana face à Alemanha. Matteo Salvini também. Mostrou a certeza absoluta de que não iria atingir os 400 bps na televisão Italiana. Porquê definir esta linha na areia? O Ministro das Finanças Tria veio logo de seguida colocar água na fervura, ao dizer que o governo tomaria medidas concretas caso houvesse uma catástrofe nos mercados. Que medidas seriam essas? Recordo-me quando, em outubro de 2010, o então ministro português Teixeira dos Santos afirmou que "Com taxas de juro que se aproximem dos 7% entramos num terreno onde essa alternativa começa a colocar-se [a entrada do FMI]"; em novembro atingiram. Em abril de 2011 pedimos ajuda ao FMI.
Em gestão de risco é fundamental definirem-se limites estabelecidos para agir; na política apontar para um número específico pode não ser a melhor estratégia. Afirmar que não se mexe um milímetro no défice de 2.4% para 2019 destrói qualquer possibilidade de uma negociação aberta com Bruxelas.
Salvini considera o “mundo das agências de rating virtual”. A Standard&Poor’s irá rever a notação de risco dia 26 e a Fitch pelo final do mês. Para já estão ambas a atribuir uma notação dois níveis acima de junk. A possibilidade de perder a notação de Investment Grade é assunto real.
Em 2019 Itália tem mais de €280 mil milhões para se refinanciar em reembolsos de títulos sem contar com juros. Mais um défice de 2,40%... Sem dúvida que o spread é assunto que vou estar de olho esta semana.
Nota: a informação e análise é da exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a opinião do Banco CTT.