Esta semana vou estar de olho… na inflação nos EUA e na zona euro

Isabel Hrotko
Isabel Hrotko. Créditos: Vitor Duarte

O Esta semana vou estar de olho... é da autoria de Isabel Hrotko, investment strategist na Millennium bcp - DWM.

Apesar da desaceleração significativa nos últimos meses, o comportamento da inflação continua a ser extremamente importante para a evolução dos ativos financeiros, uma vez que os bancos centrais mantêm a dependência em relação aos dados na condução da política monetária. Por outro lado, persiste entre os investidores a incerteza de se, depois de uma descida considerável, a inflação irá demonstrar resistência em continuar a desaceleração sustentada em direção ao target de 2%, resumida na citação “is the last mile the hardest?”.

Inflação nos EUA

Nas últimas semanas, as yields voltaram a subir, com os investidores a adiarem sucessivamente as expetativas de descida das taxas de juros dos bancos centrais, passando também a descontar um menor número de corte de taxas em 2024. No caso dos EUA, o pricing de mercado passou de cerca de seis cortes, descontados em dezembro, para 3-4 cortes de taxas, encontrando-se cada vez mais próximo da projeção da Fed de três cortes na taxa diretora em 2024. Esta dinâmica deveu-se aos dados resilientes de atividade económica, que se mantêm consistentes com a continuação da expansão e com a criação de emprego e, por outro lado, ao comportamento da inflação.

De facto, os dados de janeiro do índice de preços no consumidor e no produtor tiveram uma desaceleração menos rápida do que o esperado, que se deveu, em parte, ao aumento inesperado de preços em items como a habitação. No entanto, estas categorias têm um menor peso na medida favorita de inflação da Fed - o PCE, que será divulgado na próxima semana. Devido à diferente composição, por norma, a inflação medida pelo PCE é mais baixa que a medida pelo CPI, o que é visível na média anualizada dos últimos seis meses do PCE, que se encontra próximo do target de 2%, abrindo espaço para a Fed cortar taxas. Assim, importa monitorizar este dado e avaliar um potencial desvio na trajetória recente, que poderá afetar de forma relevante as expetativas em relação à condução da política monetária, que, por sua vez, se mantém como um dos principias drivers dos movimentos nos ativos financeiros.

Inflação na zona euro

Na zona euro, os dados macro recentes justificariam potencialmente uma descida mais rápida das taxas de juro, mas o BCE pretende evitar uma descida prematura de taxas e tem focado o discurso na evolução dos salários, pelo que os dados da inflação, mesmo que evidenciem uma evolução favorável, poderão ter um impacto mais limitado nos mercados.