Greenwashing – o que é e como combatê-lo

Alvaro Anton Luna
Álvaro Antón Luna. Créditos: Cedida (abrdn)

TRIBUNA de Álvaro Antón Luna, responsável de negócio para a Península Ibérica, Aberdeen SI. Comentário patrocionado pela Aberdeen Standard Investments.

Muitas pessoas já ouviram falar de greenwashing, mas a sua definição e as suas práticas ainda não são bem conhecidas. Analisámos este fenómeno e o que significa para os investidores.

De uma forma simplista, o greenwashing ocorre quando uma empresa sobrevaloriza as suas credenciais ecológicas. Infelizmente, esta prática é comum no ambiente empresarial atual. Talvez seja compreensível, já que a sustentabilidade se tornou um grande negócio e as empresas enfrentam uma maior pressão para comunicarem os seus relatórios ambientais a um público cada vez mais exigente.

Mas para os investidores focados em fatores ambientais, sociais e de governação corporativa (ESG), pode ser um verdadeiro desafio perceber se os dados empresariais relativos à sustentabilidade são ou não rigorosos.

De acordo com o Governance and Accountability Institute, cerca de 90% das empresas que compõem o índice Fortune 500 disponibilizam algum tipo de relatório de sustentabilidade neste momento. A história repete-se na Europa.

No entanto, num discurso em 2019, Hans Hoogervorst, Presidente do Conselho das Normas Internacionais de Contabilidade, afirmou que seria pouco provável que o aumento na criação de relatórios se traduzisse em empresas mais verdes. “Não devemos acreditar que os relatórios de sustentabilidade sejam muito eficazes a induzir as empresas a darem prioridade ao planeta sobre os lucros”, afirmou. “O crescimento do greenwashing é galopante.”

A ascensão do investimento ESG

Apenas há uma década atrás, poucos eram os investidores que prestavam muita atenção aos relatórios de sustentabilidade. Mas o investimento de acordo com critérios ESG foi-se tornando mainstream, com cada vez mais investidores a equacionarem fatores ambientais nas suas decisões de investimento.

O coronavírus veio acelerar esta tendência. De acordo com dados da Morningstar, entre abril e junho de 2020, o investimento ESG atraiu fluxos líquidos de 71.100 milhões de dólares globalmente, o que levou a que os ativos geridos ascendessem a mais de 1 bilião de dólares. No Reino Unido, os fluxos entre abril e julho ultrapassaram os fluxos combinados dos cinco anos anteriores, de acordo com a rede de transações Calastone.

Outro fator a contribuir para esta aceleração é o facto de os investidores estarem cada vez mais cientes de que definir e cumprir metas ambientais ambiciosas é, muitas vezes, sinal de uma boa gestão empresarial.

Se uma empresa conseguir reduzir o seu consumo de energia ao mesmo tempo que mantém ou aumenta a produção, é inegável que isso beneficia diretamente os acionistas. A redução das emissões de carbono não é só uma questão de preservação do planeta; muitas vezes, é uma proxy para uma boa gestão, o que, por sua vez, pode trazer uma visão genuína e de adição de valor relativamente à qualidade de um investimento.

No entanto, com os relatórios de sustentabilidade criados atualmente, muitos investidores não ficam mais esclarecidos relativamente ao verdadeiro nível de sustentabilidade de uma empresa. Um dos problemas é o facto de as empresas terem de criar relatórios para um grupo alargado de stakeholders, incluindo funcionários, organizações não governamentais, clientes e entidades reguladoras. Isto traduz-se numa grande variedade de informação e muita dessa informação não é especialmente relevante para os investidores focados em critérios ESG.

Além disso, os relatórios de sustentabilidade evoluíram de forma fragmentada, o que deu origem a um segundo problema: uma multiplicidade de informação que permite uma menor transparência por parte das empresas e que deixa os investidores mais confusos.

Conforme indicado pela consultora McKinsey: “Estes parâmetros e padrões dão às empresas uma liberdade considerável de escolha dos dados que apresentam em matéria de sustentabilidade.” E acrescenta: “Os investidores afirmam que não conseguem utilizar facilmente os dados de sustentabilidade divulgados para a tomada de decisões de investimento e para um aconselhamento rigoroso.”

Como podemos combater este problema?

Se pensarmos nas estratégias mais eficazes contra o greenwashing, concluímos que é necessário muito trabalho e análise. A avaliação e interrogação contínuas são cruciais.

Sem dúvida que existem vários padrões, mas uma filtragem dos resultados permite uma maior confiança. Sabemos que, atualmente, é mais difícil uma empresa apresentar visões qualitativas de alto nível que não sejam suportadas por medidas quantitativas que demonstrem a sua pegada de carbono. É uma grande mudança.

Também é importante analisarmos em que medida uma empresa institucionaliza a sustentabilidade. Por exemplo: a empresa tem um conselho de supervisão de problemas ecológicos? A remuneração dos quadros executivos está associada à redução das emissões de carbono?

Mas não nos podemos esquecer da importância de colocar questões numa estratégia contra o greenwashing. Neste caso, manter o investimento numa empresa e ter a capacidade de colocar questões de gestão pode ajudar a descortinar o que está por detrás dos números. Um exemplo seria uma empresa que cumpre sempre as suas metas de sustentabilidade, comparativamente a uma empresa que fica sempre aquém dessas metas. A primeira pode estar a definir objetivos pouco ambiciosos, enquanto a outra pode ter objetivos demasiado exigentes.

Por esta razão, acreditamos que as visitas às empresas são o aspeto mais importante de uma boa estratégia contra o greenwashing. Os dados de sustentabilidade são uma ferramenta muito útil na hora de analisar o histórico de uma empresa, no entanto, por vezes é mais difícil conhecer todo o panorama. Só é possível compreendermos verdadeiramente como uma empresa mitiga os seus principais riscos ESG através de uma interação com as pessoas-chave.

Saiba mais sobre estes temas no nosso relatório “Investing in a Changing Climate” ou na página do nosso site dedicada às alterações climáticas. Também pode consultar o nosso documento “Paris alignment – our approach for investments”.