Investir em tempos de Bear Market

Guilherme Bica
Créditos: Cedida

TRIBUNA de Guilherme Bica, coordenador do departamento de Asset Management do ITIC – ISCTE Trading & Investment Club.

Estando o ano de 2022 a terminar, é já possível afirmar que não foi um ano simpático para os investidores no mercado acionista. Esta é uma afirmação particularmente verdadeira tendo em conta a forte onda de novos investidores que nos últimos anos têm entrado nos diferentes mercados financeiros e, que até ao momento, não experienciaram nenhum mercado que não esteja em rota ascendente.

Desde o começo do ano que o principal indicador do mercado financeiro americano, o S&P 500, já caiu mais de 16%. Esta queda apresenta um evidente contraste face aos anteriores anos em que o mesmo índice subiu em média 14,20% por ano entre 2009 e 2021. A lista de ações com maiores quedas no preço contam com nomes como Netflix que caiu mais do que 46%, Meta que caiu mais do que 63% ou Coinbase que caiu mais de 80% em 2022.

As razões para esta queda têm sido há já algum tempo corretamente documentadas, destaca-se o começo da guerra na Ucrânia, a subida da inflação e as subsequentes subidas de taxa de juro, vieram causar uma grande tensão num mercado que já estava bastante valorizado e a considerar ganhos futuros que agora se confirmam inexistentes.

Estratégia Buy-and-Hold

Ainda que o ano tenha sido tendencialmente negativo, há ainda indicadores como o Buffett Indicator que continuam a apontar para uma sobrevalorização do mercado acionista. O Buffett Indicator mede a valorização do mercado através do rácio entre a capitalização de mercado total do mercado acionista com o Produto Interno Bruto (PIB). Este indicador espera ainda que o mercado valorize apenas 1.5% por ano, incluindo dividendos, nos próximos 10 anos.

Ainda que seja este o caso, a estratégia de Buy-and-Hold continua a ser aquela que resiste ao teste do tempo e se mantém a mais lucrativa para os investidores a longo prazo. Não só vários estudos o indicam como também vários investidores de sucesso, como Warren Buffett. Exemplos de estudos que o comprovam são os desenvolvidos por Albert Shiryaev, Zuoquan Xu e Xun Yu Zhou (2008), Agarwal, Vikas e Naik, Narayan Y. (2000) ou o livro de Bogle (2007) comprovam sem margens para dúvida que esta é a estratégia que maiores retornos traz aos seus investidores a longo prazo.

Isto, claro, está dependente do longo prazo. Nunca é demais sublinhar que esta estratégia é apenas eficiente se o investidor tiver uma perspetiva de investimento a longo prazo e não esteja perto de momentos em que vá necessitar do capital investido como a reforma.

Foco no longo prazo

Ver o mercado cair e o capital investido a descer em valor pode ser complicado para alguns investidores, mas tendo uma perspetiva de longo prazo deve, na verdade, ser entendido como uma oportunidade. Esta é a oportunidade de, caso já estejam investidos no mercado, de poder comprar os ativos que gostam a preços de desconto. Se comprou, por exemplo, Apple a 182,94 dólares por ação, o máximo das últimas 52 semanas, não há nenhuma razão para não gostar exatamente da mesma empresa agora quando o seu valor se encontra perto dos 150 dólares por ação. Eventualmente até poderá existir uma ou outra razão para algumas empresas, mas não para a maioria. Caso não tenha capital no mercado, deve-se olhar para esta situação como uma boa oportunidade de comprar boas empresas a preço de desconto.

Investidores de longo prazo não devem distrair-se com acontecimentos de curto prazo. Exemplos disto são a compra da rede social, Twitter, por parte de Elon Musk, a guerra dos investidores de retalho do Reddit no caso GameStop / AMC ou a subida da taxa de inflação e a subsequente subida das taxas de juro. Estes são exemplos de acontecimentos que mexem bastante com o mercado, mas que a longo prazo não vão ter a importância que eventualmente possam parecer ter de momento.

Apesar das evidentes dificuldades que o ano de 2022 tem apresentado aos investidores, investir no longo prazo continua a ser a melhor alternativa para a criação de valor, como explicado por investidores e diferentes estudos científicos. Lembre-se: foi a manter o foco, continuar a comprar e manter os seus investimentos a longo prazo que Warren Buffett, Jack Bogle ou Howard Marks fizeram as suas fortunas.