João Zorro (GNB GA): “Para 2023 esperamos ainda incerteza nos ativos de risco e um melhor enquadramento para o mercado de obrigações”

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João Zorro. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de João Zorro, responsável pelos Departamentos de Ações e Obrigações, GNB Gestão de Ativos.

Para 2023 e por comparação ao que 2022 representou, temos uma perspetiva moderadamente otimista. Contamos com um ano ainda bastante complexo e volátil, mas, ao mesmo tempo, com melhor visibilidade no que à política monetária, inflação, impactos económicos diz respeito.

Esperamos ainda uma deterioração nos sentimentos dos investidores durante o primeiro semestre do ano, causadas pela constatação que os bancos centrais vão ter de ir mais além do que é atualmente o consenso no que diz respeito à política monetária – a Fed deverá chegar aos 5.25% e o BCE aos 3% (risco de irem um pouco mais além). Neste cenário esperamos uma recessão relativamente gerível nos EUA (que ainda goza de um mercado de trabalho sólido que sustenta o consumo e, portanto, a economia) e mais profunda na Europa. Neste contexto os ativos de risco ficam mais expostos a correções mais significativas, nomeadamente o mercado acionista, que na nossa opinião estará mais exposto a risco nos primeiros meses do ano.

Os mercados acionistas e obrigacionistas

Os riscos para os mercados acionistas estão centrados na ideia de que a existir uma recessão, esta será ligeira e que os bancos centrais não irão ter a necessidade de subirem o que está atualmente descontado. A existir uma redução dos earnings, ela será de curto prazo. A razão por que estamos preocupados com os primeiros meses do ano, deve-se essencialmente a este reality-check entre as atuais expetativas e uma realidade mais severa. É sempre melhor investir quando o pessimismo está mais descontado.

Já no mercado obrigacionista, o efeito carry ajudará a mitigar alguns dos impactos da subida dos juros e poderá mesmo abrir a possibilidade de rentabilidades positivas nas maturidades mais curtas. As mais longas estão mais expostas ao desenvolvimento do combate à inflação e neste capítulo é ainda cedo para se perceber a dinâmica em contexto recessivo – salários, emprego, queda no consumo, efeito, commodities, etc. O consenso é que esta está já em fase descendente, mas não basta. É necessário que venha para o objetivo dos bancos centrais de 2%. Nos EUA, existe o debate se a Fed não deveria ter um objetivo superior para ajudar à redução da dívida, mas esta decisão teria como consequência um menor crescimento económico.

De qualquer forma, o processo de ajustamento das yields das obrigações já vai adiantado e novos impactos já serão numa base de impacto marginal descendente.

Mercado de dívida corporate 

No mercado de dívida corporate, a expectativa é que, face à dívida pública, a rentabilidade seja positiva, já que se espera uma redução nos spreads entre estas. Pela nossa parte, preferimos esperar pela concretização da fase mais perigosa para a economia, quanto os impactos da atual política monetária forem mais sentidos e por um posicionamento do mercado mais cauteloso.

O nível dos atuais spreads de crédito comparam favoravelmente com outros períodos de crescimento negativo (exceto aquando de crises) mas neste momento existem demasiadas variáveis em jogo.

Commodities

No que diz respeito às commodities, à imagem dos restantes ativos referidos anteriormente, a severidade da recessão ditará a evolução destes, especialmente no início do ano. Todavia, a reduzida capacidade de oferta e a falta de investimento na exploração destes torna muito provável que venham a registar uma boa performance em 2023, até porque em relação ao pico, estas já corrigiram bastante.

Em conclusão, para 2023 esperamos ainda incerteza nos ativos de risco e um melhor enquadramento para o mercado de obrigações e com as commodities a estarem no nosso radar.