Momento de comprar obrigações

Isabelle Vic-Philippe
Isabelle Vic-Philippe. Créditos: Cedida (Amundi)

TRIBUNA de Isabelle Vic-Philippe, diretora de gestão Euro Aggregate, Amundi. Comentário patrocinado pela Amundi.

O BCE anunciou o fim do seu Programa de Compra de Ativos (APP) a 1 de julho de 2022 e vai aumentar as taxas de juro em 25 pontos base em julho e novamente em setembro. A questão agora é o fim deste ciclo de endurecimento. Até onde vai e até que ponto o BCE irá avançar, tendo em conta que a normalização poderá ser dificultada pelas condições económicas enfraquecidas pela dependência da zona euro do gás russo?  O governador do Banco de França mencionou uma meta entre 1% e 2%, mas muitos economistas não vão tão longe e são muito mais pessimistas sobre a forma como a atividade económica irá resistir a todos estes golpes.

O abrandamento do crescimento é cada vez mais visível, dado o aumento das taxas de juro esperado pelos mercados financeiros e os constrangimentos que dificultam tanto a produção  como o rendimento disponível das famílias. A continuidade da política chinesa Covid Zero, com confinamentos rigorosos em Xangai, Pequim e Shenzhen, levanta receios de uma quebra nas cadeias de abastecimento. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, agora centrada na região de Donbass, parece arrastar-se por mais tempo. A longo prazo, os investimentos necessários para combater as alterações climáticas favorecem um contexto de maior inflação.  

Todos estes fatores mantêm os preços da energia em níveis extremamente elevados, reduzindo drasticamente o poder de compra, embora os consumidores possam, durante algum tempo, compensar recorrendo às suas poupanças. Os dados do setor industrial já estão a deteriorar-se, enquanto o setor dos serviços continua a melhorar (exceto na China) graças à reabertura pós-Covid (viagens, lazer, etc.).

Por outro lado, a valorização do mercado está agora consistente com esta faixa de 1%-2%, com a taxa terminal a evoluir entre 1,3% e 2%, dependendo dos dados económicos mais recentes ou das intervenções dos membros do Conselho do BCE.

Por conseguinte, estamos a considerar reduzir o subponderação da duração modificada e aumentar a alocação de obrigações. Neste contexto específico, o momento é TUDO, e o que nos impede de agir é o facto de o BCE ainda ter não começado a aumentar as taxas. Além disso, o pico da inflação está próximo, mas ainda não o ultrapassámos na zona euro. Dependendo do seu nível, pode apoiar a  retórica hawkish dos membros do BCE e aumentar ainda mais as expetativas dos mercados. Por último, o abrandamento do crescimento terá de ser muito significativo para que o BCE mude de posição.

É possível que, na segunda parte do ano, tenhamos mais clareza sobre estas incertezas, pelo menos sobre as duas primeiras, o que irá desencadear um sinal de compra para os investidores em taxas de juro. Os ativos de risco podem sofrer com o abrandamento da atividade económica, o impacto da inflação nas margens e o aumento das yields no financiamento. Com a redução da presença do BCE no mercado de rendimento fixo, é necessário encontrar um novo equilíbrio, dificultando a liquidez do mercado.  Por isso, vamos favorecer classes de ativos de alta qualidade e líquidas, tais como a dívida supranacional, de agências ou soberana para aumentar a alocação ao rendimento fixo.


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