Fim de ano, altura de balanços. Foi o que fez Carlos Bastardo, no seu habitual comentário mensal, olhando para alguns dos mais importantes indicadores. O que se espera de 2022?
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TRIBUNA de Carlos Bastardo.
Quando chegamos ao final do ano, é habitual as casas financeiras fazerem os seus outlooks para o ano seguinte. Neste último artigo de 2021, vou abordar alguns indicadores que sempre segui na minha vida profissional nos mercados financeiros e que continuo a seguir, mesmo trabalhando desde 2015 noutra área.
Uma coisa é certa, a inflação veio para ficar uns tempos. A maior ou menor rapidez na normalização das cadeias de abastecimento irá determinar a evolução da inflação nos próximos meses. Contudo, penso que temos de nos habituar a ter inflação, coisa rara nos últimos anos. O que até é positivo, desde que controlada! O BCE prevê agora uma inflação de 2,6% em 2021, 3,2% em 2022 e 1,8% em 2023 e 2024.
Outra coisa certa é a cada vez maior necessidade de termos uma carteira de investimentos diversificada com os habituais ativos financeiros, mas não fechando a porta a outros investimentos, os chamados alternativos como o imobiliário, o capital de risco, as commodities, a arte, entre outros.
Faz este ano 20 anos, estava eu no Barclays Bank, decidimos lançar um dos primeiros (se não o primeiro) produto baseado no conceito de arquitetura aberta, um seguro de fundos unit link chamado Barclays Portfolio, com variados compartimentos, globais, regionais, e consoante a natureza dos ativos financeiros. Em cada um deles, foi selecionado um fundo de entre várias casas de asset management internacionais. O produto foi um êxito e rapidamente estendemos este tipo de gestão aos fundos de fundos e à gestão de carteiras via fundos, com inerentes vantagens em termos de rendibilidade versus risco, face aos produtos geridos via títulos.
Já em 2001 defendia que uma gestão diversificada era o melhor caminho. E de facto, continuo a achar o mesmo.
Centralizando este artigo nos ativos financeiros, alguns dos indicadores que acompanho são entre outros, o PMI da indústria, o earnings yield gap, a diferença entre o rendimento dos dividendos (dividend yield) e o rendimento das obrigações (bond yield) de empresas consideradas investment grade (empresas com rating igual ou superior a BBB- ou Baa3 consoante as agências) e o PER versus ciclos anteriores, comparando setores e versus a média histórica.
Relativamente ao PMI da indústria, verifica-se que o valor de novembro de 2021 subiu ligeiramente na zona euro face ao mês anterior (58,4 versus 58,3) embora esteja aquém do máximo anual registado em junho (63,4). De entre as maiores economias da zona euro, o país com o PMI da indústria mais elevado em novembro foi a Itália (62,8).
O PMI da indústria dos EUA de novembro (58,3) está abaixo do máximo do ano registado em julho (63,4).
A China apresentou um PMI da indústria de 49,9 em novembro (50,6 em outubro), abaixo do máximo do ano registado em maio (52). Este valor está na fronteira entre contração (abaixo de 50) e expansão (acima de 50).
De uma forma geral, os PMI encontram-se em níveis confortáveis, exceto na China. Vamos ver qual será a evolução do setor imobiliário neste país e o impacto que poderá ter na economia (e não estou a falar apenas da Evergrande).
Outro indicador que acompanho regularmente é o earnings yield gap (EYG), a diferença entre o earnings yield (rendibilidade implícita do mercado) e o bond yield (rendibilidade das obrigações).
Neste momento e considerando o PER do mercado americano e a yield das obrigações americanas a 10 anos, o EYG é de 3,3%. Na Europa é de 7%.
Relativamente ao PER, verifica-se que quer na zona euro como nos EUA, este indicador está acima do valor médio dos últimos 20 anos, embora a diferença seja maior no caso americano.
Considerando o dividend yield versus o bond yield, as ações continuam atrativas, especialmente na Europa e no Japão, uma vez que a diferença atual entre os dois indicadores é superior a 2% e estando acima do valor médio histórico.
Contudo, existem fatores de risco a ter em conta em 2022. Na minha opinião, os principais são a persistência de uma inflação elevada, uma mais demorada normalização das cadeias de abastecimento de bens e serviços que pode prolongar ruturas ou descontinuidade de produção em alguns setores (tecnologia, automóvel…), a evolução da pandemia (se aparecem ou não mais variantes do COVID) e a evolução do posicionamento dos bancos centrais no que respeita à subida das taxas de juro, especialmente por parte da Reserva Federal Americana, embora em 15/12/2021 já tenha anunciado as suas intenções.
Portanto, 2022 poderá ser um pouco mais volátil, embora continuo a achar que as economias vão ultrapassar os níveis pré-pandemia e isso poderá ser positivo para o investimento. O BCE estima um crescimento do PIB da zona euro de 5,1% em 2021, 4,2% em 2022, 2,9% em 2023 e 1,6% em 2024.
Desejo a todos umas Festas Felizes e um excelente 2022 especialmente com saúde, mas também com sucesso profissional e nos investimentos.