TRIBUNA de Miguel Luzárraga, responsável de Negócio da AllianceBernstein. Comentário patrocinado pela AllianceBernstein.
A subida de taxas significa que os mercados de dívida voltam a oferecer rentabilidades reais atrativas, enquanto condições económicas mais difíceis geram maior margem para a seleção ativa de títulos de obrigações. Como podem os investidores aproveitar estas oportunidades de forma constante? Acreditamos que as estratégias de investimento sistemático em obrigações podem contribuir para a resposta, além de estas serem altamente adaptáveis.
O que é uma abordagem sistemática em relação aos mercados de obrigações?
O investimento sistemático em obrigações é uma abordagem de investimento ativo que tenta superar em rentabilidade os índices do mercado de dívida. Com esta estratégia, as decisões de investimento baseiam-se num processo multifatorial dinâmico, que consiste em aplicar fatores preditivos que se relacionem de forma demonstrável com uma maior rentabilidade relativa. Um processo de decisões quantitativas e baseadas em IA classifica cada obrigação do mercado de acordo com o seu alinhamento com os ditos fatores preditivos, tentando gerar uma maior rentabilidade relativa (alfa) através da seleção de títulos bottom-up.
Esta metodologia sistemática contrasta com as abordagens de investimento ativo tradicionais, que geralmente dão prioridade à exposição a duração e ao mercado de crédito (beta), bem como aos vieses setoriais (ver gráfico).
As estratégias sistemáticas dão prioridade à seleção de títulos, enquanto as estratégias ativas mais tradicionais priorizam o beta
Dado que as abordagens sistemáticas dependem de distintos fatores que condicionam os resultados, as suas rentabilidades serão provavelmente diferentes - e complementares - das estratégias ativas tradicionais. Por natureza, as rentabilidades ativas derivadas da seleção de títulos nas estratégias sistemáticas apenas estão correlacionadas com o índice de referência e com prémios de risco significativos. Em consequência, estas estratégias podem ser diversificadoras eficazes numa carteira de obrigações. Além disso, as abordagens sistemáticas podem permitir estruturas de comissões competitivas, pelo que podem ser fórmulas para superar os índices de referência de obrigações a um custo mais reduzido. Também podem ser facilmente adaptáveis, o que permite aos gestores elaborar as suas carteiras para que estas se ajustem perfeitamente às preferências dos clientes, ao mesmo tempo que conservam o potencial de rentabilidade.
Como funcionam os fatores preditivos?
Os fatores de risco, como o risco de taxas de juro (duração) ou a duração do spread (a sensibilidade do preço de uma obrigação às variações no seu spread de crédito), indicam como as forças do mercado podem influenciar os preços dos títulos. As estratégias sistemáticas tentam descobrir fatores com capacidade preditiva para encontrarem repetidamente títulos com o melhor potencial de retorno ajustado ao risco, ou seja, fatores preditivos. Podem ser fatores baseados no valor de mercado (por exemplo, value e momentum) ou fatores fundamentais específicos das empresas (como quality). A informação dos fatores preditivos é utilizada para analisar de forma sistemática grandes volumes de dados históricos de mercado e selecionar títulos com as caraterísticas adequadas que lhes dotem de uma probabilidade superior à média de superar o mercado (ver gráfico).
Gestão das estratégias fatoriais na prática
Com as nossas bases de dados, compostas por análises exaustivas, a AllianceBernstein é capaz de identificar e aceder a centenas de fatores determinados internamente. Nem todos são sempre aplicados numa carteira sistemática, mas o gestor pode rodá-los dependendo das condições de mercado conforme vão mudando os regimes de investimento e, com eles, a eficácia dos fatores.
As abordagens baseadas em fatores nasceram nos mercados de ações, em que os índices de referência são relativamente simples de construir e os preços são bastante transparentes. As estratégias fatoriais começaram a ser recentemente aplicadas nos mercados de obrigações, que têm maior dimensão, são mais complexos e estão mais fragmentados entre grupos de valores díspares. Todas estas caraterísticas tornam mais difícil a determinação da liquidez e dos preços nos mercados de obrigações.
Por isso, a tecnologia e as análises avançadas são fundamentais para que as abordagens sistemáticas funcionem nos mercados de obrigações. Além disso, embora as investigações académicas apoiem as vantagens dos fatores preditivos no investimento em obrigações, para se criar carteiras que gerem bons resultados são precisas uma avaliação rigorosa e as capacidades adequadas para a sua implementação na prática.
Criar uma carteira sistemática: combinação de fatores preditivos
Com uma abordagem sistemática, cada uma das obrigações que compõem o índice de referência recebe uma notação para uma série de fatores preditivos. Desta forma, a cada título é atribuído um conjunto de notações. Por exemplo, uma obrigação pode ter uma notação elevada para o fator value e uma notação baixa para o fator momentum. De seguida, um modelo que combina distintos fatores acumula as notações de cada fator, gerando uma única notação fatorial total para cada valor.
O modelo adota dois critérios para criar uma carteira aplicando as notações fatoriais: eficácia preditiva e correlação com outros fatores, e pondera-os utilizando um algoritmo determinado por uma técnica de aprendizagem automática. Este processo cria uma classificação da notação fatorial total para cada obrigação, com fixação a outros condicionamentos de otimização e risco, principalmente: obrigação, emitente, setor, ESG, duração, spread, liquidez e custos de transação. Desta forma, o modelo tenta alcançar maiores rentabilidades ajustadas ao risco, equilibrando a eficácia preditiva com rigorosos controlos dos riscos.
Três fatores fundamentais para o sucesso
Neste campo relativamente novo, o comportamento dos produtos de obrigações sistemáticas de alguns fornecedores tem sido dececionante ao oferecer rentabilidades reais abaixo dos resultados contrastados. Acreditamos que são cometidos três erros frequentes: depender de fatores estáticos, utilizar dados não fiáveis e a incapacidade de obter liquidez e executar corretamente as ideias. Daí a importância dos três pilares para que as estratégias sistemáticas gerem bons resultados:
Uma abordagem fatorial dinâmica. As condições do mercado mudam constantemente e a eficácia dos fatores variam com o tempo. Por exemplo, o carry (yield) pode ser um fator importante nos mercados de obrigações investment grade, mas não no mercado high yield, em que os riscos de incumprimento constituem uma condicionante mais profunda para a rentabilidade. Por conseguinte, é fundamental avaliar continuamente os fatores e geri-los de forma dinâmica.
Abundância de dados. Os dados fiáveis constituem as bases fundamentais das estratégias sistemáticas eficazes. Os investidores sistemáticos precisam de enormes quantidades de dados depurados (sem anomalias e incoerências), exaustivos e com um histórico muito longo. Compilar esses dados é um processo trabalhoso que consome muitos recursos. Consiste em acumular dados que se referem a uma ampla variedade de indicadores do mercado de obrigações, realizar análises exaustivas da situação financeira das empresas num determinado momento e cobrir numerosas classes de ativos de obrigações de todo o mundo.
Considerações de liquidez. As empresas que não conseguem avaliar, de forma eficaz, a liquidez de uma obrigação, não conseguem implementar as suas ideias de investimento. Para se manterem no topo num mercado que irá digerir e reagir a qualquer novo pedaço de informação de forma cada vez mais rápida, os bons gestores de obrigações terão de utilizar uma tecnologia que reuna todas as plataformas de trading de obrigações externas num só lugar. Encontrar a liquidez adequada para executar as operações desejadas é uma condição prévia para gerir as ponderações dos fatores de uma carteira. Além disso, é fundamental conseguir liquidez suficiente a preços atrativos, visto que as estratégias sistemáticas só executam operações se superarem testes de custos das transações.
Uma ideia oportuna
Acreditamos que o investimento sistemático em obrigações é, atualmente, uma ideia oportuna. Supõe uma forma ativa e com custos reduzidos de se alcançarem rentabilidades ajustadas ao risco atrativas, repetíveis e não correlacionadas, através:
- Da seleção bottom-up e da estruturação de um grande número de posições independentes em obrigações;
- De um rigoroso controlo dos riscos, que faz com que as carteiras sistemáticas sejam relativamente menos vulneráveis do que as fortes quedas como consequência de eventos adversos de taxas de juro, creditícios e outros relativos a fatores únicos.
Esta dupla ênfase em obter uma rentabilidade relativa superior através da seleção de títulos individuais e um controlo rigoroso do risco faz com que as abordagens sistemáticas sejam complementárias às estratégias ativas de obrigações mais tradicionais e que, possivelmente, representem um poderoso elemento diversificador das carteiras.
Os investidores enfrentam atualmente um mundo onde as condições mudam com grande rapidez, com maior disponibilidade de dados e uma IA que chegou para mudar os paradigmas estabelecidos. Acreditamos que uma abordagem sistemática de vanguarda, que utilize estes novos avanços, pode ajudar a oferecer uma fórmula objetiva e contrastada para se alcançar rentabilidades ajustadas ao risco mais constantes investindo em obrigações.