A opinião de Pierre-Yves Bareau, CIO especialista em dívida de mercados emergentes na J.P.Morgan AM. Uma perspetiva cada vez mais construtiva indicia possível continuidade do bom desempenho recente do segmento de dívida dos mercados emergentes.
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Apesar do bom desempenho da dívida dos mercados emergentes (DME) ao longo deste ano, a perspetiva para a categoria de ativos está a ficar cada vez mais construtiva, o que poderá indiciar a continuidade de tal desempenho. Sabemos que persistem riscos, ameaças de volatilidade e potenciais alterações da confiança, mas achamos que vale a pena investir num mercado conturbado em função da nossa perspetiva construtiva. Há uma série de razões que sustentam esta visão otimista sobre a categoria de ativos, as quais passamos a expor.
Recentemente, verificaram-se excelentes retornos nalguns setores da DME, que chegaram aos dois dígitos. A nível mundial houve importantes fatores e eventos – relutância dos bancos centrais dos G-3 em subir as taxas de juro, retoma do mercado de commodities e medidas de estímulo por parte da China – que exerceram uma importante influência no desempenho. Houve igualmente acontecimentos específicos de alguns países que tiveram um impacto significativo: a alteração do espetro político na Argentina, que favoreceu os mercados, a destituição da presidente Dilma e a esperança de uma verdadeira reforma económica no Brasil, uma forte redução da tensão geopolítica na Rússia e o agravamento da situação política na Turquia e na África do Sul.
Há uma série de fatores positivos que têm favorecido a categoria de ativos. Não quer isto dizer que o caminho daqui para frente esteja isento de obstáculos e complicações. Anteveem-se dificuldades, as quais, no entanto, poderão oferecer oportunidades de investimento em situações de adversidade.
Entre as razões que justificam uma visão otimista sobre a DME encontram-se as seguintes:
- Fundamentalmente, as economias dos ME estão em melhor forma, depois de terem sido submetidas a um ajuste externo considerável ao longo dos últimos anos. Após uma quebra no primeiro trimestre, o crescimento nos mercados emergentes começou a estabilizar e a recuperar gradualmente. Esta retoma foi impulsionada principalmente pela dinâmica de crescimento positiva na América Latina e na Europa, embora o ponto de partida fosse bastante modesto. As perspetivas de crescimento para os mercados emergentes deverão permanecer favoráveis ao longo dos próximos trimestres, sustentadas pela melhoria dinâmica dos preços das commodities e pelas tendências políticas animadoras na América Latina em particular.
- O panorama dos mercados desenvolvidos, porém, é menos animador. Estas economias estão entravadas pelo crescimento lento e por níveis de dívida pública ainda elevados. Estas divergências de crescimento deverão acentuar moderadamente o chamado "crescimento alpha " dos ME – a aceleração de crescimento dos mercados emergentes relativamente aos mercados desenvolvidos, que é superior a 2%. Historicamente, um maior crescimento alfa tende a sustentar os fluxos de capital para os mercados emergentes, beneficiando os preços dos ativos e as moedas durante o processo.
- Assistimos a uma melhoria significativa das contas correntes nos mercados emergentes de modo geral. Muitos deles já apresentam excedentes, e diminuiu o número daqueles que apresentam défices superiores a 3%. A estabilização e o aumento dos preços das commodities deverão igualmente inverter as condições negativas que afetaram as trocas comerciais das economias EMEA e da América Latina este ano. Quando analisados em conjunto, os resultados extremamente positivos fornecidos por estes critérios de avaliação externos indiciam uma retoma nos fluxos de capital líquido dos ME.
- Numa perspetiva ascendente, notamos igualmente uma tendência ligeiramente positiva no setor empresarial. As empresas dos ME reagiram de forma pró-ativa e prudente numa conjuntura adversa, cortando as despesas de capital, reduzindo os dividendos e utilizando os proveitos para abater a dívida.
- Em relação aos mercados de obrigações a nível mundial, a dívida dos ME aparentemente apresenta um preço atraente. Em comparação com os títulos do tesouro dos EUA e com a inflação, as taxas dos ME permitem rentabilizar o investimento. Por outro lado, as rentabilidades dos ME, quando comparadas com as das obrigações de dívida pública a nível mundial, situam-se no extremo mais alargado do intervalo em termos históricos.
- A dívida dos ME oferece boas oportunidades para incrementar a rentabilidade, numa conjuntura cada vez mais caracterizada por baixas rentabilidades, e na qual cerca de 12 biliões de dólares de dívida pública norte-americana apresentam rentabilidades negativas. A dívida dos ME deverá continuar a atrair novos fluxos de capital nesta procura de rentabilidade a nível mundial.
- Há determinados fatores da oferta e da procura que se mostram favoráveis. Os investidores continuam a aumentar a exposição à dívida dos ME, enquanto as obrigações soberanas dos ME (por exemplo, Estados do Golfo e Argentina), bem como os níveis de emissão das empresas, deverão mostrar-se favoráveis lá para o final do ano. O aumento contínuo do volume de dívida pública com rentabilidades baixas ou negativas a nível mundial deverá fazer com que haja cada vez mais investidores de dívida dos ME não-dedicados a investir na categoria de ativos. Além disso, a melhoria relativa dos fundamentos que descrevemos anteriormente deverá igualmente estimular o investimento nos mercados emergentes, pois os investidores procuram ganhar exposição ao relativo aumento da dinâmica de crescimento.
Subsistem obviamente certas adversidades, que poderão afetar a categoria de ativos nos próximos trimestres, entre as quais destacamos os riscos de crescimento e de recessão a nível mundial, os focos de tensão política e a volatilidade relacionada com a China. Mas gostaríamos de aproveitar todos os momentos de fraqueza do mercado como uma oportunidade para aumentar a exposição.
Quem investe em dívida dos ME deverá concentrar-se em ativos de qualidade, ou seja, naqueles que apresentam melhores avaliações de crédito e um perfil de risco mais favorável. Estamos em crer que estes vão ser os primeiros ativos a ser escolhidos pelos investidores globais que procuram rentabilidade e exposição à dívida dos ME.
Há igualmente casos particulares cujos riscos apresentam menor correlação com riscos sistemáticos globais, pelo que podem despertar o nosso interesse. A título de exemplo, refira-se a Argentina, país em que parece estar para durar a prudente política orçamental e monetária levada a cabo após a eleição do presidente Macri, e cuja dívida soberana apresenta boas avaliações. Refira-se ainda a dívida das empresas e as taxas de câmbio do Brasil. Neste país, em que a destituição de Dilma Rousseff levou a uma melhoria da situação macroeconómica, perspetiva-se uma reforma fiscal bastante necessária, ao passo que a diminuição da pressão da inflação aumentou a margem para o banco central poder cortar a sua taxa de referência.