Porque é que as obrigações asiáticas em divisa local são atrativas no mundo do Zero

David Cheng
David Cheng. Créditos: Cedida

TRIBUNA de David Cheng, diretor de investimento em obrigações, Schroders. Comentário patrocinado pela Schroders.

Enquanto os investidores lidam com rentabilidades ultrabaixas das obrigações globais, as obrigações asiáticas em divisa local continuam a ser uma área que pode gerar lucros e os fundamentais também parecem ser positivos.Advertisement

A geração de rentabilidades raramente, ou nunca, foi mais difícil do que agora. O que tinha sido uma característica-chave dos mercados desde que se introduziu a expansão quantitativa (QE) após a crise financeira mundial de 2008, viu-se agravada por novas medidas ultra-acomodatícias em resposta à COVID-19.

Aproximadamente uma quarta parte do mercado mundial de obrigações tem uma rentabilidade abaixo de zero e muitos estão próximos do zero, incluindo as obrigações corporativas. Uma parte do mercado que ainda oferece rentabilidades atrativas é o mercado de obrigações asiáticas em divisa local. Em seguida, analisaremos algumas das suas características.

Os sólidos fundamentais económicos da Ásia

As economias emergentes asiáticas cresceram muito mais rápido do que o resto do mundo nos últimos 20 anos e, agora fornecem mais de metade do PIB mundial. A Ásia, excluindo o Japão, também está a ter melhor desempenho do que o resto do mundo, tendo enfrentado bem a pandemia. A Ásia – excluindo o Japão – é a única região que cresceu em 2020, impulsionada pela China e Taiwan, este último devido à sua indústria de semicondutores. A região continuará a ser a zona de maior crescimento nos próximos dois anos.

Os níveis de dívida pública dos países asiáticos em relação ao PIB são baixos e estáveis e, muitos países têm uma dívida externa próxima do zero. As economias asiáticas são menos vulneráveis à volatilidade dos fluxos de capital mundiais e beneficiam de grandes reservas de aforro interno.

As valorizações das obrigações asiáticas continuam a ser atrativas

Apesar dos fundamentais mais sólidos, as obrigações asiáticas negoceiam próximo da média histórica ou do lado mais barato dos níveis de valorização face às obrigações dos mercados desenvolvidos mundiais. A rentabilidade agregada da Ásia é de 3,3%, face aos 0,8% do índice do Tesouro americano e face ao pouco mais de zero dos rendimentos governamentais mundiais.

Em comparação com outras obrigações soberanas de mercados emergentes, as obrigações asiáticas negociam ao nível mais barato da história. As obrigações asiáticas são só 2,0% mais baratas do que as da América Latina, enquanto historicamente o spread foi de 3,7%. Isto é atrativo para os investidores, já que a Ásia tem uma classificação creditícia materialmente mais alta, A, em comparação com a BBB dos soberanos da América Latina, segundo a S&P e a Moody’s. A Ásia também tem um perfil de rentabilidade mais estável.

A China é uma componente chave do mercado de obrigações soberanas em divisa local da Ásia e um fator chave na atrativa valorização. À medida que a economia chinesa recuperou, o Banco Popular da China (PBoC) começou a normalizar a sua política. A resposta do PBoC à crise também foi relativamente medida e seletiva, enquanto o resto do mundo desencadeou uma nova flexibilização quantitativa a grande escala e outras medidas.

Os rendimentos da dívida soberana chinesa aumentaram em 2020, à medida que a economia recuperava. Com pouca pressão inflacionária e áreas da economia que ainda necessitam apoio político, não esperamos que o PBoC mude para uma postura mais dura atualmente.

Não obstante, nem tudo se reduz à China. Na Coreia e em Singapura é provável que as taxas se mantenham baixas, já que as políticas monetárias continuam a ser acomodatícias, enquanto a atividade económica começar a reavivar. Na Indonésia, uma nova lei facilitará a obtenção de licenças comerciais e poderá dar lugar a perspetivas de crescimento mais favoráveis, enquanto a taxa de inflação continua a ser baixa. Na Malásia, os atrativos reais estão a dar suporte à valorização e é provável que as taxas na Tailândia se mantenham ancoradas até que o turismo mundial recupere. Na Índia, as taxas deverão encontrar apoio na diminuição da pressão inflacionária.

As obrigações asiáticas em divisa local oferecem um conjunto diverso de oportunidades

Além das atrativas rentabilidades, a Ásia oferece um conjunto diverso de oportunidades. De um modo geral, classificamos os países asiáticos em economia avançadas, de rentabilidade média e emergentes. Como podemos ver na tabela, as correlações com os mercados mundiais de ações e obrigações variam segundo estas categorias.

Os mercados de obrigações das economias avançadas – Singapura, Coreia do Sul, Hong Kong e Taiwan – tendem a ter rentabilidades mais baixas e comportam-se de forma mais parecida com as obrigações do Tesouro dos mercados desenvolvidos, com correlações negativas com as ações.

Os países com rentabilidade média, encabeçados pela China e incluindo a Malásia e a Tailândia, tendem a ter correlações mais baixas com outras classes de ativos. São impulsionados por fatores específicos do país, particularmente o crescimento da classe média nacional. A China centra-se agora na “circulação interna” como modelo de crescimento, o que esperamos que se traduza em correlações mais baixas.

As obrigações de economias emergentes são de high yield e mais sensíveis ao crescimento global, menos correlacionadas com as obrigações de mercados desenvolvidos e mais com ativos de risco. Costuman oferecer maiores lucros durante os períodos de recuperação económica. Os limites da Índia à propriedade estrangeira deram lugar a correlações baixas.

Em conjunto, isto representa um leque de potenciais oportunidades de investimento e benefícios de diversificação. Permite tirar proveito de riscos específicos, separando as decisões de investimento em taxas de juro e divisas. Por exemplo, se considerarmos que as taxas de juro tailandesas podem permanecer baixas, devido à política monetária acomodatícia, apoiando as obrigações, mas que a moeda pode enfraquecer devido ao declínio do turismo. Entidades quasi soberanas, ou apoiadas pelo governo, e as obrigações corporativas oferecem mais possibilidades de diversificação.

As divisas asiáticas têm potencial de apreciação

As moedas são outra área de oportunidade, especialmente agora. É muito possível que dólar americano se encontre numa tendência de queda de longo prazo, graças aos seus crescentes déficits gémeos, aos estímulos fiscal sem precedentes, às taxas de juro zero e à flexibilização quantitativa aberta.

Historicamente, o aumento dos défices norte-americanos, em no seu balanço por conta corrente e orçamental, coincidiu com a fraqueza do dólar. Desde que atingiu um máximo do ciclo em março passado, durante a corrida por ativos de qualidade, o dólar americano caiu mais de 10%. Como resultado, as moedas asiáticas emergentes beneficiaram.

Acreditamos que a continuação da política monetária acomodatícia, bem como o apoio fiscal adicional substancial sob o governo de Biden, podem colocar mais pressão sobre o dólar dos Estados Unidos.

Se compararmos as balanças orçamentais e por conta corrente, vemos que as economias asiáticas estão numa posição forte em relação aos Estados Unidos e outros países. Os governos asiáticos apresentam uma relativa contenção fiscal de gastos. Uma contenção mais eficaz da Covid-19 permitiu que isso acontecesse e, ao mesmo tempo, eram menos afetados pelas flutuações nos preços das matérias-primas. As economias asiáticas também beneficiam da melhoria das atividades industriais, bem como do aumento do comércio.

Fonte de lucros e diversificação

Vemos perspetivas positivas para as obrigações asiáticas, com retornos positivos continuados, níveis de rentabilidade atrativos e volatilidade moderada em relação a outros mercados emergentes e a alguns setores de obrigações globais. As obrigações em moeda local da Ásia são apoiadas por fundamentais amplamente positivos, crescimento e inflação moderados e finanças estáveis, bem como por uma série de características a nível de país e mercado.

Espera-se que a participação e a importância das economias asiáticas e dos mercados de capitais continuem a aumentar nos próximos anos. As obrigações em moeda local da Ásia parecem ser uma área do mercado de obrigações que ainda tem potencial para oferecer retornos atrativos no mundo de baixas rentabilidades de hoje.

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