Portugal – impressionismo ou impressionante?

Ricardo_Almeida
Funds People

Não me parece que 2014 seja 1640 novamente, mas existem fundadas expectativas de recuperação de uma certa autonomia no âmbito da Política Fiscal após a conclusão (com sucesso) do programa internacional de assistência e recuperação financeira ainda em implementação em Portugal. O caminho percorrido no ajustamento externo parece ter sido o correcto, podendo sempre questionar-se a velocidade com que esse ajustamento foi feito, mas não é razoável continuar a colocar o crescimento das exportações como principal motor de crescimento/recuperação da economia sem se levar em consideração um previsível aumento da importações de bens de investimento (maquinaria, ferramentas, novas tecnologias) necessários para a manutenção de vantagens competitivas das empresas nacionais concorrentes nos mercados internacionais.

Dada a estrutura altamente dependente do comportamento do consumo privado da economia portuguesa, as séries de baixa e média frequência que têm vindo a ser divulgadas (e que estão relacionadas com o desempenho das vendas a retalho, com indicadores coincidentes de actividade económica, e com índices de confiança dos consumidores) confirmam uma resiliência persistente no agregado dos gastos das famílias. Merece um destaque especial a recuperação dos gastos em bens de consumo duradouro, normalmente associados a um sentimento de maior confiança na estabilidade de rendimentos para o futuro.

Não sendo 1640, o nosso destino (económico) continua bastante dependente do desempenho da economia de Espanha. Neste âmbito, também os dados mais recentes (queda gradual da taxa de desemprego, desalavancagem das famílias, banca comercial com balanços mais limpos) permitem antecipar uma estabilização e gradual regresso ao crescimento, com o previsível aumento das importações a beneficiar directamente o sector exportador nacional.

Vários riscos (conhecidos) poderão vir a condicionar a força (mas não me parece que alterem a direcção) da recuperação embrionária visível em Portugal. O principal factor de risco está associado ao impacto, no mercado de dívida soberana, que a gradual retirada de liquidez excedentária por parte da Reserva Federal poderá vir a ter. A evidência existente (obviamente limitada pelo facto de só ter existido ainda uma redução relativamente marginal dessa liquidez excedentária) permite manter um optimismo esclarecido até prova em contrário.

Alguns quadros “bonitos” associados ao movimento chamado de impressionismo são, quando vistos (mesmo!) de perto, bastante mais complexos com padrões de cores e de intensidades de aplicação de tintas muito diferentes, não deixando antever o impacto visual que uma observação ortodoxa merece.  

E tu Portugal?