Ricardo Silva (CA Gest): “2023 poderá confirmar a recessão há muito antecipada”

Ricardo Duarte Silva
Ricardo Duarte Silva. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Ricardo Duarte Silva, selecionador de fundos da Crédito Agrícola Gest.

A possível confirmação de uma recessão em 2023 e o risco de mercado são as principais preocupações do selecionador de fundos. Mas este acredita também na estabilização do mercado de taxa fixa e na evolução favorável dos mercados acionista e de crédito.

As principais economias em 2023

Depois de um ano marcado por políticas monetárias mais restritivas a nível global, 2023 poderá confirmar a recessão há muito antecipada. Nos EUA, onde a economia tem arrefecido, mas mantido uma invejável resiliência, tudo dependerá de quão restritiva permanecer a Reserva Federal norte-americana na sua cruzada contra a inflação. Nos mercados emergentes, a recente perda de tração de algumas mercadorias e as dificuldades presenciadas na China (crise no setor imobiliário, reabertura lenta da economia pós-política covid zero) permanecem os riscos imediatos. Na Europa, a situação é ainda mais delicada, dada a forte dependência energética, a manutenção de uma guerra dentro de portas e a troca de sanções económicas altamente penalizadoras com a Rússia.

Mercado de taxa fixa, commodities e mercado imobiliário

Em termos de mercados, acreditamos numa estabilização do mercado de taxa fixa, atendendo às expectativas já incorporadas nas curvas de rendimento, mas pensamos que será um caminho com altos e baixos. Da mesma forma, os mercados acionistas e os mercados de crédito, poderão evoluir favoravelmente, muito embora uma recessão mais severa não esteja ainda descontada aos atuais níveis. As commodities, consideramos que poderão enfrentar alguma turbulência, nomeadamente num cenário de materialização de uma recessão mais severa. Finalmente, o mercado imobiliário estará dependente da velocidade a que os bancos centrais regressarem a políticas monetárias menos restritivas. Se for um processo muito lento e gradual, poderá haver algum impacto nos preços. Se as condições de funding normalizarem mais rápido, os preços poderão permanecer suportados.

Risco de mercado

O risco de mercado centra a nossa maior preocupação. Enquanto os bancos centrais mantiveram o focus na remoção de liquidez do sistema, seja por subida dos juros, seja pela redução dos seus balanços, deveremos continuar a assistir a uma correlação elevada entre as principais classes de ativos. Nesse sentido, a volatilidade das carteiras deverá permanecer acima de médias históricas e o efeito diversificador deverá manter-se algo limitado, pelo menos até que tenhamos maior visibilidade quanto às intenções dos principais bancos centrais.

Classes de ativos interessantes

Consideramos que as obrigações empresariais, nomeadamente de curto prazo, oferecem um binómio risco/retorno atrativo, em particular numa conjuntura económica de elevada incerteza.

A evolução da inflação nos próximos 12 meses

Nos próximos 12 meses, prevemos uma queda acelerada da inflação, quer por efeitos de base, quer pela materialização de um período de menor crescimento económico (senão mesmo de recessão em algumas geografias). A médio prazo, é provável que a inflação tenha alguma dificuldade em regressar abaixo dos targets dos principais bancos centrais. A transição energética, as necessidades acrescidas de funding dos governos e o fenómeno de desglobalização trazem certamente um risco acrescido ao cumprimento dessas metas.

Integração de métricas ESG

A gradual introdução das métricas ESG na gestão, por força de regulamentação e das implicações a nível de negócio, continuaram a centrar as nossas atenções.