«Sell in May and go away...»

Jorge_Botelho_BBVA
Nuno Coimbra

Os efeitos adversos do mau tempo que ocorreram no primeiro trimestre deste ano acabaram por provocar importantes roturas de stocks e falhas de produção em algumas áreas chave do globo, que se traduziram negativamente na procura interna e externa, com reflexos importantes na evolução dos dados do comércio internacional.

A célebre evidência estatística sobre o mercado accionista americano «Sell in May and go way...», apenas nos diz que em média os retornos durante o semestre que vai de Maio a Outubro, são inferiores aos do semestre que vai de Novembro a Abril, sendo que em média, em ambos os períodos, os retornos são positivos.

Geralmente, este comportamento do mercado também está associado à própria sazonalidade dos resultados das companhias, que perdem algum fulgor no primeiro e segundo trimestre de cada ano.

No entanto este ano, a normalização do efeito tempo e a cada vez mais pronunciada retoma da economia mundial, expressa pelos índices de confiança da actividade económica, diz-nos que vamos assistir a uma importante aceleração dos resultados das empresas durante este período.

Esta realidade começa a ser cada vez mais evidente em muitas geografias, sendo de especial destaque o impacto que ainda podemos vir a assistir nos mercados periféricos europeus, com a pronunciada descida do risk free rate, que evidencia acima de tudo, uma substancial alteração da percepção de risco destas economias, que ainda está por ser devidamente valorada pelos respectivos mercados accionistas.

Não sabemos se esta evidência estatística do «Sell in May and go away...» vai ser contrariada durante este semestre, mas o que não parece fazer muito sentido, é que numa altura em que a economia mundial começa a dar sinais de uma retoma sustentada, a rentabilidade de dividendo dos principais índices accionistas se encontre acima da rentabilidade dos índices de obrigações.

Na prática, o pagamento de cupão não difere tão substancialmente do pagamento de dividendo, uma vez que que as empresas pagam um dividendo para que um investidor aufira de um cash-flow previsível, ou seja, de uma espécie de rendimento, que a empresa está disposta a pagar independentemente dos seus resultados. Normalmente uma empresa que deixa de pagar dividendos é porque a sua qualidade creditícia já se deteriorou tanto, que o próprio incumprimento é uma forte probabilidade.

Conceptualmente, o prémio de risco é a diferença entre o retorno de um activo que nos dá um cash-flow previsível e quantificável através do tempo, versus um outro, que é incerto e que está associado ao desempenho do ciclo económico.

Se acreditarmos que o ciclo económico está em expansão e se tivermos a oportunidade de comprar acções com um dividendo que detém uma rentabilidade superior ao custo da dívida, quer isto dizer que estamos a usufruir de uma opção muito barata para deter um activo real, uma vez que, para além do custo de oportunidade do rendimento nominal do dividendo face ao custo da dívida, vamos ter uma opção adicional sobre a inflação e o crescimento.

Neste sentido, a probabilidade de virmos a assistir a uma importante rotação de activos durante este semestre que se inicia em Maio não é de todo de descartar e se algo existe para se vender em Maio, fundamentalmente não deverá ser o mercado accionista.