O primeiro-ministro Narendra Modi cumpriu os 100 primeiros dias do seu terceiro mandato, garantindo a continuidade política e económica. As gestoras internacionais analisam as perspetivas para o país.
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O resto do mundo abranda, a Índia acelera. “Muitos fatores positivos, como uma demografia forte, custos laborais competitivos, níveis de dívida relativamente baixos em comparação com outros países e um contexto cada vez mais favorável para fazer negócios, representam importantes motores de crescimento a longo prazo para a Índia”, explicam Avinash Vazirani e Colin Croft, gestores do fundo Jupiter India Select da Jupiter AM.
Segundo os números de Aanand Venkatramanan, responsável de ETF para a EMEA da LGIM, o país deverá tornar-se a terceira maior potência económica mundial em 2030. Mas, mais importante ainda, esta trajetória deverá acelerar nas próximas décadas, enquanto a relevância do Ocidente diminui e a China estagna. “O que tem sustentado o crescimento daquela que é considerada a maior democracia do mundo tem sido o desenvolvimento de uma mão de obra com as competências necessárias para satisfazer as necessidades de um mundo cada vez mais digitalizado”, afirma.
Jean-Marie Mercadal, CEO da Syncicap AM (filial da OFI Invest AM), também está convencido disso, e explica como, enquanto se espera pela China, se pode olhar para a Índia. “Em particular, a Índia continua a mostrar perspetivas animadoras a longo prazo, com uma previsão de crescimento da sua economia de 2,5 biliões de dólares nos próximos cinco anos e com uma percentagem da população com rendimentos superiores a 15.000 dólares, que passará de 5% para 20% no mesmo prazo”, comenta. Portanto, a Ofi Invest acredita que, em breve, poderá iniciar-se uma fase em que a volatilidade dos ativos indianos será maior, e os investidores poderão adotar uma estratégia de compra com as quedas, visto que os fundamentais para um potencial crescimento a longo prazo continuam bem estabelecidos.
Uma questão política (mas não só)
Os especialistas da Jupiter AM assinalam que o primeiro-ministro Narendra Modi, de volta à liderança após as eleições gerais em junho, já cumpriu os primeiros 100 dias do seu terceiro mandato. “Isto permitiu a continuidade política, e Modi começou a adotar uma abordagem pragmática para trabalhar com os seus aliados de coligação”. O orçamento federal, apresentado após a tomada de posse do novo governo, mostra que a administração pretende aplicar novas medidas de consolidação fiscal.
E não se trata apenas de política. Em junho, a inflação indiana caiu para 3,5%, o nível mais baixo em cinco anos. “Num contexto em que os bancos centrais mundiais estão a cortar gradualmente as taxas de juro, as expetativas de uma descida por parte do Banco da Reserva da Índia começam a aumentar”, afirmam os dois profissionais.
O panorama exterior também é sólido: “A Índia conta com significativas reservas de divisas. A dívida externa já representa apenas uma quinta parte do PIB indiano, e o défice da conta-corrente é totalmente financiado com entradas de investimento estrangeiro direto a longo prazo”, assinalam. Além disso, segundo os especialistas, a forte queda dos preços do petróleo devido ao abrandamento das principais economias deverá contribuir para a manter sob controlo as pressões sobre os preços e limitar o défice da balança de pagamentos, mesmo quando as exportações sofrem com o abrandamento da procura mundial. A Índia importa cerca de 80% do seu petróleo.
A resposta dos mercados
“Os investidores locais estão a investir quantidades recorde em ações indianas, principalmente através de fundos de investimento e produtos de investimento a longo prazo. O mercado de ações chinês, o quarto por capitalização em bolsa, é cada vez mais impulsionado por estes investidores nacionais. Esta mudança estrutural na procura por ações poderá reduzir a volatilidade”, explicam Avinash Vazirani e Colin Croft.
Ambos recordam como a amplitude do mercado de ações indiano, com mais de 4.800 empresas cotadas, oferece um terreno fértil para o investimento. “Dessas, quase 600 empresas têm capitalizações superiores a 1.000 milhões de dólares. Com as ações a atingirem novos máximos nos últimos meses, as valorizações em algumas bolsas do mercado podem parecer excessivas”, explicam.
Bhuvnesh Singh, gestor do fundo Comgest Growth India da Comgest, recorda como, durante o verão, o índice MSCI India ganhou 1,1% em dólares (-1,2% em euros), pelo que a rentabilidade, desde o início do ano, se situou em +22,8% em dólares (+22,6% em euros). “Este sólido comportamento do mercado reflete o sólido crescimento subjacente do PIB indiano e dos lucros empresariais. No primeiro trimestre do ano fiscal de 2025, o PIB real situou-se em 6,7%, e o banco central (RBI) manteve inalterada a sua previsão de crescimento do PIB de 7,2% para o ano”, conclui.