A lista de fundos perfilados portugueses, atualmente composta por 46 fundos, é regularmente analisada pela FundsPeople, separadamente, por perfil de risco. É óbvio que esta separação tem um propósito, e faz sentido, já que o cerne destes fundos difere. Mas será que não perdemos uma oportunidade ao não analisar este grupo globalmente? Assim, desta vez, olhamos para o seu conjunto, desde o ano 2020.
Olhando a longo prazo, as tendências são ténues, até pela natural suavização dos movimentos quando consideramos a média um universo de fundos relativamente grande. No entanto, a verdade é que o período dos últimos quatro anos foi altamente volátil, com subidas e descidas na alocação por classe de ativos substanciais, frequentemente resultado dos movimentos de mercado, seja de dívida, seja de ações.
Nas obrigações, vemos dois momentos marcantes. Primeiro a queda da alocação até ao final do primeiro semestre do ano 2022, como resultado da expectativa e subida das taxas de juro, e posteriormente uma reversão dessa queda, quando a classe de ativos se tornou mais atrativa em termos de yields, nos mercados desenvolvidos. Fernando Nascimento, gestor de ativos na IM Gestão de Ativos, relembra o período, que carateriza como “difícil em termos de desempenho, sobretudo no segmento de obrigações”, já que “o enquadramento inflacionista promoveu o maior e mais rápido ciclo de subidas de taxas de juro nas economias desenvolvidas”.
Por outro lado, se olharmos para a alocação a ações, vemos o oposto. Até 2022, a alocação a esta classe crescia rapidamente. Este primeiro período foi categorizado por um mercado positivo para as ações, com ótimas oportunidades de investir em “empresas e setores capazes de se adaptarem rapidamente ao negócio online. Os setores tecnológicos e empresas quality growth passaram por um período muito benéfico”, conclui Fernando Nascimento. No entanto, desde o segundo semestre desse ano que, na média, a tendência é de queda do peso das ações, já que o mercado voltou o foco para as obrigações. Contudo, Ana Onofre, gestora dos fundos de investimento perfilados na Montepio Gestão de Ativos, não seguiu este caminho e justifica que o aumento de alocação a ações nas suas carteiras, no primeiro semestre de 2023, se deveu à “melhoria das condições financeiras e económicas”.
A liquidez e os alternativos apresentam um movimento negativo, dando mais espaço aos investimentos em ações e obrigações, sendo que ambos terminam o período sob análise com uma alocação superior à inicial.
Detalhe em obrigações
A alocação por subcategoria no segmento de obrigações mudou consideravelmente durante estes quatro anos e meio. Observaram-se períodos de alto foco em liquidez (cash), outros em que se vê um reforço na dívida de empresas e reduzida alocação a dívida governamental, e vice-versa, comportamento expetável em períodos voláteis, como comprova e reconhece a gestora da Montepio GA. “A alocação a obrigações e a sua duration foi sendo ajustada ao longo do período conforme a nossa expetativa para a evolução das taxas de juro e risco de crédito”, refere Ana Onofre.
As obrigações corporativas, que, em 2020, período pré-pandemia, haviam perdido a relevância que tinham em outros tempos para os investidores, cresceram a um elevado ritmo, em termos de peso, terminando o período de análise com cerca de 42% de alocação, cerca de dez pontos percentuais acima do peso inicial. No entanto, Fernando Nascimento alerta que a equipa já identificou algum esgotamento neste ciclo de estreitamento de spreads, “favorecendo a exposição às maturidades mais longas dos governos”.
Em direção contrária, vemos as outras subcategorias do segmento obrigacionistas, todas elas com alo- cação inferiores a janeiro de 2020. Atualmente, a dívida soberana situa-se ligeiramente abaixo do peso inicial, constituindo cerca de um terço desta classe. Já a liquidez e equivalentes tem a sua alocação em mínimos do período.
A geografia das ações
No que diz respeito ao investimento no mercado de ações, nota-se um crescimento significativo na América do Norte, que, gradualmente, aumentou a sua ponderação em cerca de oito pontos percentuais, representando, ao momento da análise, quase metade da carteira de ações dos fundos perfilados. Para este crescimento ser possível, alguma área geográfica teria de reduzir o seu peso. A Europa desenvolvida acaba por ser a principal prejudicada neste cenário, dado que a ponderação caiu de 38,5% para 29,6% ao longo do período, o que representa uma descida de quase nove pontos percentuais.
Paralelamente, os mercados emergentes perderam alguma presença, cerca de dois pontos percentuais do total da carteira, enquanto o investimento na Ásia desenvolvida, países como Austrália, Nova Zelândia, Japão, entre outros, se fortaleceu.