Pedro Costa Félix: “Num momento em que todas as gestoras internacionais deixavam de ter uma representação em Portugal, nós abrimos a Capital Strategies Portugal”

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Vítor Duarte

Atualmente o escritório português da Capital Strategies pode dizer-se que é um ponto de ligação para outras partes do mundo. Da equipa fazem parte hoje em dia Pedro Costa Félix, partner e country head, Tatiana Monteiro, dedicada aos mercados português e israelita, e Leonardo Lombardi dedicado ao mercado brasileiro (da direita para a esquerda, na fotografia).

A sede da entidade encontra-se assim em Madrid e atualmente são já seis os escritórios locais de que dispõe, atuando ativamente em 20 países, que vão desde a Europa, passando pela América Latina, e pelo Médio Oriente. Como explica Pedro Costa Félix em entrevista à FundsPeople, no total a entidade representa cerca de 45 gestoras e num total de AUM superior a USD1trn, com soluções transversais às várias classes de ativos.

Mais jovem, em Portugal a história da Capital Strategies comemora 10 anos em janeiro. Uma efeméride que traz à memória do profissional aquilo que se passava na altura. “Num momento em que todas as gestoras internacionais deixavam de ter uma representação em Portugal, nós abrimos a Capital Strategies Portugal porque sempre acreditámos na presença local”, relembra. Essa crença no mercado local faz com que, hoje em dia, representem já 30 gestoras no nosso país.

"Não temos a pretensão de dizer que representamos o melhor gestor ou a melhor estratégia de investimento do mundo – acho que isso nem existe!". O que procura, diz, é "estabelecer uma relação de proximidade com os investidores em todos os mercados, que nos permita ter um maior entendimento dos seus objetivos e características de investimento, de forma a encontrar a estratégia relevante para a sua carteira”. Na opinião do responsável local é a proximidade do investidor e o “profundo conhecimento do mercado local”, bem como a “rede diversificada de gestoras de ativos especialistas, que constituem os pilares da Capital Strategies no nosso país.

Escolher organicamente

O processo de escolha das gestoras internacionais para cada mercado é apelidado de orgânico, ao invés de algo “mecânico ou apenas quantitativo”. Como explica o responsável, é um processo que “conta com uma equipa interna dedicada a identificar e analisar gestoras e as respetivas estratégias de investimento”. Desta forma, são três os critérios que as gestoras escolhidas têm de cumprir:

1.     Fundos de excelência no que respeita à equipa, a filosofia, o processo e claro a performance

2.     Estratégias complementares às já existentes, que elevem as opções de alocação dos investidores

3. Estratégias diferenciadoras das já existentes nos mercados em que operamos

Como exemplo, no ano 2018 assinaram com a GSA Coral Student Portfolio – a maior especialista global no sector de Residências de Estudantes, com mais de USD 8bn de capital investido.

É portanto vasto o tipo de entidades que depois saem da lista de “eleitas”. Tanto apostam na representação de grandes gestoras mundiais, como de boutiques mais especializadas. Ao nível das primeiras destaca a Aviva Investors, uma gestora britânica cujos AUM se situam acima dos 400 mil milhões de dólares, e que “tem uma fortíssima componente ESG incorporada no processo de investimento, tornando-a uma das gestoras de ativos mais avançadas e pró-ativas a este nível, com uma das maiores equipas dedicadas a ESG a nível mundial e um processo de avaliação proprietário, intervindo em várias empresas de forma a auxiliar na mudança para uma empresa melhor”.

No campo das “grandes” destaque também para a Ninety One (ex-Investec AM), gestora britânica de origem sul-africana com ativos de cerca de 130 mil milhões de dólares, ou a William Blair, que tendo começado como uma pequena boutique, chega agora aos 62 mil milhões de dólares.

No leque das boutiques especializadas, apresentam nomes como a Seilern Investment Managers, que mostra uma única estratégia de quality growth aplicada a todos os seus fundos, a suíça RAM AI, pioneira na construção de portefólios e estratégias assentes num processo sistemático, ou a DCI, entidade americana que é especialista em estratégias de corporate credit investment grade e high yield com uma abordagem sistemática e um modelo fundamental.

Embora os três fatores enunciados sejam a cartilha para a eleição das gestoras, Pedro Costa Félix considera que “depois de todo o processo rigoroso de análise e due dilligence implementado”, “o aspeto que prevalece é sem dúvida a qualidade das pessoas”. “Desde gestoras puramente sistemáticas, como uma RAM ou uma DCI até àquelas totalmente discricionárias como uma Seilern, uma Mainfirst ou mesmo uma GSA Coral, há um elemento humano que está na sua génese e é fundamental para o sucesso e continuidade das gestoras”, atesta.

ESG: que tipo de entidades?

Sem dúvida que a grande tendência que têm auscultado entre gestoras é o ESG. “A maioria das nossas gestoras já começaram a incorporar este tópico nos seus processos de investimento”, refere, lembrando que, contudo, sentiram a necessidade de ir mais além nesse tópico. “Desde há uns anos que sentíamos falta de ter alguma casa que fosse ESG por excelência, com valor intrínseco e não de forma adaptada. Por este motivo, e por terem fundos que se destacam na indústria, no final de 2019 começámos a representar a Aviva Investors em Portugal, Espanha e no Brasil”, destaca.

Em resumo, fala em duas abordagens ao tema por parte das entidades do mercado. “Na Capital Srategies acreditamos haver uma clara diferença entre gestoras que têm realmente os valores e políticas ESG integrados em todo o seu processo de investimento e as que adicionaram o rótulo verde para se sentirem integradas”, clarifica.  No primeiro grupo, explica, há ainda duas abordagens diferentes a destrinçar.  “Por um lado, temos as gestoras que devido à sua origem e à sua dimensão, incorporaram os valores ESG de uma forma integral na sua organização, resultando, numa filosofia de Transition ou Impact Investing. Acresce que assumem um papel ativo junto das empresas em que investem e todos os seus stakeholders de forma a adaptar o modelo de negócio dessa empresa e torná-la numa melhor empresa”, distingue.

Por outro lado, prossegue, existem “gestoras com uma abordagem ESG que através de estratégias dedicadas de investimento, específicas ou temáticas, têm como objetivo ajudar os investidores a construir um portefólio equilibrado e ajustado aos valores ESG”. Com uma resposta excecional a estas caraterísticas, o profissional destaca duas entidades que atualmente representam: “a Aviva Investors, que conta com mais de 50 anos de políticas de impact investing ou ESG integration e uma equipa ESG especializada com mais de 25 analistas, e que se refletem em todos os seus fundos, desde ações a obrigações até real asset”, e a “Ninety One com uma estratégia de investimento dedicada exclusivamente ao tema de novas tecnologias aplicadas a ESG, o Global Environment fund”.

O tema ESG, precisamente, é uma das “matérias de interesse” atuais dos clientes portugueses, segundo o que testemunha Tatiana Monteiro, que realça que hoje em dia embora a oferta seja quase que global, as diferentes caraterísticas dos mercados ainda são visíveis. Esta é uma das vantagens de trabalhar com mercados diferentes e tão distintos. “Enquanto que em Israel, por exemplo, os investidores procuram estratégias arriscadas, pretendem estar sempre à frente da sua concorrência com fundos diferentes e menos usuais, em Portugal, apesar de hoje em dia já notarmos alguma diferença a este nível, os investidores têm um perfil mais conservador e cauteloso”, aponta.

“A procura por estratégias descorrelacionadas com os mercados tradicionais começa a ser mantém-se como tendência em Portugal, como exemplo, a GSA Coral que investe em residências para estudantes universitários, com um grande sucesso”. Mais recentemente, adiciona, há outro tema específico a entrar no radar dos investidores nacionais: “Ásia, nomeadamente obrigações chinesas, em particular pelo fundo que representamos Ninety One All China Bond”.

ESG no Brasil

No Brasil o tema ESG é novo e assumiu uma grande relevância com a pandemia em 2020, dizem.  "Enquanto que anteriormente era visto como algo muito distante, hoje é um tema presente e essencial em conversas com investidores. São analisados em detalhe os parâmetros aplicados e quais as métricas claras de redução de risco ASG - “ambiental, social e governança” - como o tema é descrito fala no Brasil. O mercado brasileiro de fundos, representa hoje um total de 1 bilião de dólares entre todas as estratégias. Menos de 1% deste mercado, considera e aplica métricas de redução de riscos ESG".

"O Brasil é um oceano azul a ser explorado neste campo! Considerando o movimento global de aumentar a exposição a gestores que incorporam essas métricas, o Brasil ainda é um oceano azul para ser explorado. Nos últimos anos a CSP tem vindo a colaborar com os seus clientes brasileiros no sentido de lidar com o greenwashing e encontrar as melhores soluções e seleção de fundos para os seus portfolios. A CSP tem vindo a trabalhar nos últimos anos com clientes para separar o greenwashing do engagement ativo dos gestores e buscar as melhores seleções para os portefólios globais", acrescentam.