Pedro Lino (Optimize IP): “Temos de nos preocupar em conquistar mercado aos produtos de capital garantido, como os das seguradoras”

Pedro Lino Optimize
Pedro Lino. Créditos: Vítor Duarte

O caminho de 2022 está a ser muito diferente do de 2021 no que toca à performance dos mercados. Todas as gestoras de ativos nacionais estão a sentir isso na pele, e Pedro Lino, CEO da Optimize Investment Partners, começa por testemunhar essas diferenças, numa conversa com a FundsPeople. “Quando os mercados sobem somos todos muito mais amantes do risco. Mas quando o mercado cai, ninguém quer estar exposto a esse risco”, reflete, sobre o comportamento dos investidores.

Neste contexto de mercado mais atribulado que se vive, o responsável pela entidade tem sido uma testemunha das reações dos investidores. Diz que muitos têm optado por procurar soluções alternativas aos depósitos, mas o que é facto é que essa procura tem ainda muito por onde evoluir. “Há cerca de 30 mil milhões de euros investidos em fundos de investimento em Portugal, enquanto que em depósitos estão mais de 170 mil milhões”, contabiliza. Nesse sentido, vê uma percentagem de aforro ainda muito baixa alocada a fundos. “Se compararmos o universo investido em PPR de seguradoras e em PPR em formato fundo, vemos  apenas 13% ou 14% do investimento é feito através de fundos”, alerta.

Todos os fundos formato PPR

Mas as razões que levam a estas dinâmicas não são apenas conjunturais. Nesta conversa com Pedro Lino surgiram mesmo várias caraterísticas do mercado nacional que condicionam as dinâmicas da oferta. Logo à cabeça: o trespasse entre fundos, que em Espanha é mais democratizado do que em Portugal. “O nosso país também possibilita o  trespasse, mas apenas entre fundos PPR. Contudo, fazermos esse trespasse através de um banco é muito difícil; não estão preparados para tal, o que constitui uma vantagem para as sociedades gestoras que estejam preparadas para oferecer esta venatgem dos PPR aos seus clientes”, conta.

Deste modo, para o CEO, a solução extrema poderia passar por transformar todos os fundos em formato PPR. “O problema do trespasse deixava de existir, e todos os bancos passariam a estar preparados para fazer esse processo sem dificuldades”, confessa. Na verdade, na própria casa essa tem sido a estratégia seguida. Constituíram vários fundos para formato PPR, de forma a conseguirem abranger uma oferta que sirva desde o investidor mais conservador, até ao mais agressivo. Isto de “forma a que ao longo de toda a sua vida de permanência no mercado, o cliente possa alterar a sua estratégia, diferindo o pagamento dos impostos. Isto é algo ainda pouco explorado em Portugal”, salienta.

Mas esta não é a única crítica que faz em termos fiscais. Na opinião de Pedro Lino, algumas alterações legislativas - como a obrigatoriedade do englobamento dos rendimentos resultantes de mais-valias mobiliárias - podem afastar o investidor de retalho do mercado. “Antigamente o mercado tinha mais participação, era mais saudável. Com esta quase expulsão dos pequenos investidores, está a criar-se uma espécie de guerra entre os institucionais e quem tenta fazer uma gestão mais de dia a dia”, opina. Para o CEO, as culpas podem ser divididas. Situações como as descritas resultam da “falta de visão dos reguladores”, mas também da própria “organização fiscal”.

Rumo ao Luxemburgo

Precisamente outra dificuldade no caminho da entidade  fê-los rumar ao Luxemburgo no final de 2021. Transferiram três fundos mobiliários para uma SICAV constituída no país de forma a porem em prática a ambição de expansão. “Um cliente estrangeiro se quiser abrir uma conta em Espanha, consegue fazê-lo digitalmente, sem uma videochamada. Em Portugal, se um cliente estrangeiro quiser abrir uma conta, é necessário pelo menos uma videochamada”, justifica Pedro Lino.

O peso burocrático que este processo requereria, fê-los então mudar de rumo. “Queríamos entrar no mercado espanhol, e começando a olhar para o gold plating que existia no mercado nacional até 2020, decidimos fazê-lo através do domicílio no Luxemburgo”, recorda. Atualmente, comercializam os seus fundos em Espanha, Luxemburgo, Bélgica e Itália. No caso do primeiro país, têm um acordo de comercialização com o BiG, e preparam-se para assinar parceria com mais dois comercializadores. Nos restantes países têm uma parceria com as respetivas associações de defesa do consumidor.

Qual o problema deste sistema? “Perdemos uma parte substancial da comissão de gestão, porque temos que pagar essa estrutura de comercialização”, confessa o responsável.  Na perspetiva de Pedro Lino, há muitos entraves no caminho de quem faz este negócio. “Defrontamo-nos muitas vezes com grandes conflitos de interesse nesta área. Não existe um mercado único europeu que funcione realmente”, atesta.

Consolidar fora, crescer em Portugal

A incursão nestes países é, por agora, suficiente para a entidade. Querem consolidar o negócio em cada um deles, enquanto que em Portugal o objetivo é o de aumentarem o reconhecimento da marca, e estarem de mãos dadas com a literacia financeira. “Devemos tentar aumentar este mercado, e não estar preocupados nas guerras entre entidades. Temos de estar preocupados, sim, em conquistar mercado aos produtos de capital garantido, como os das seguradoras”, refere.

Nesse caminho, esperam então lançar ainda este ano mais um PPR, provavelmente com um enfoque na sustentabilidade e com abordagem multiativos. Contudo, a restante oferta manter-se-á, para já, fora da inclusão do artigo 8º da SFDR. “Queremos, neste momento, tentar perceber que consequências é que para nós estes movimentos têm em termos de custos”, revela o responsável.

A longo prazo, o CEO vislumbra mesmo reduzir as comissões de gestão dos fundos, como já aconteceu no ano passado com um dos produtos que gerem. “À medida que os fundos cresçam, o nosso objetivo é ir diminuindo a comissão de gestão para os clientes; contudo, ao mesmo tempo, temos que garantir a solidez financeira da entidade gestora, que é essencial para garantir a confiança dos nossos clientes e um contributo para a estabilidade do mercado”, admite.