O rally do value começou em julho de 2016. Desde então, este tipo de empresas registou um melhor comportamento comparativamente com o growth, o que levou muitos a acreditar no retorno de um estilo de investimento que estava fora das estratégias nos últimos oito anos. A pergunta que os investidores hoje fazem é a seguinte: ainda vou a tempo de entrar na carruagem ou já perdi o rally? Andrew Evans (à esquerda) e Andrew Lyddon, gestores na Schroders, consideram que o comboio ainda não passou. Na verdade, ainda nem saiu da estação. “Nos últimos anos, o número de meses em que o value se comportou melhor que os restantes estilos é de apenas, em média, 24 meses, tendo oferecido uma rentabilidade superior, na ordem dos 21,8%. Nesta situação, a duração alcança apenas os sete meses, com um retorno acima dos restantes estilos de 13,7%. Terminando aqui, seria uma das rotações mais curtas das últimas quatro décadas, tanto em termos temporais, como em termos de rentabilidade”, afirmam (ver gráfico).
Numa apresentação que se realizou em Madrid, ambos os especialistas mostram-se convencidos de que o rally do value não fez nada mais do que começar e que a oportunidade oferecida por este estilo de investimento a longo prazo é enorme. Existem muitas razões que os levam a pensar isto. Uma delas é o crescente interesse que existe em relação a estas empresas, sobretudo tendo em conta o intervalo importante que as separa do growth. “Nos últimos tempos, uma carteira de ações era composta por 95% de empresas de growth e cerca de 5% por empresas value. Há uns anos atrás o equilíbrio era muito mais acentuado. Voltaremos a um cenário mais parecido a este último. A oportunidade que oferece o value surge em todos os mercados, ainda que a Europa seja a mais atrativa. A premissa é bastante simples. Quanto menos se paga pela ação de uma boa empresa, menor rentabilidade se obtém. É algo que está amplamente demonstrado”, dizem os especialistas (ver gráfico).
A sua visão está totalmente demonstrada na Value Perspective (www.thevalueperspective.co.uk), um website onde transmitem informações acerca do investimento value. As suas teses e afirmações são sustentadas pelos vários exemplos expostos. O primeiro consiste em calcular a rentabilidade anualizada a dez anos, gerada pelas empresas, em função do PER ajustado pelo ciclo. O resultado deste exercício é que aquelas empresas que no ano de 2000 estavam cotadas com um rácio entre zero e sete vezes, geraram durante os dez anos seguintes uma rentabilidade anualizada de mais de 10%, enquanto que aquelas que se moviam em múltiplos acima das 21 vezes ofereciam retornos anualizados de apenas 1% (no caso das que tinham um PER entre 21 e 28 vezes) e até mesmo negativos (PER entre 28 e 35 vezes). O mesmo exercício pode ser feito a nível sectorial, com o mesmo resultado final, o que reforça ainda mais a sua teoria.
“No ano de 2000 as dotcom estavam cotadas com um PER ajustado ao ciclo superior em 35 vezes. Acreditava-se que estas empresas poderiam mudar o mundo... o que conseguiram. O problema estava no preço. Os seus preços afundaram, o que provocou perdas importantes para os acionistas. Ao mesmo tempo, as empresas tabaqueiras, que naquele ano estavam cotadas com um rácio entre sete e 14 vezes, registaram, pela primeira vez no século XXI, rentabilidades superiores a 700%. Isto demonstra que a chave está na valorização. É o principal factor que explica a rentabilidade a longo prazo. Às vezes pensa-se em volatilidade como a melhor métrica para estimar o risco. Não estamos de acordo com isto. A valorização é ainda mais importante. Não é necessário procurar por catalisadores. A valorização é, por si só, um catalisador”, constatam (ver gráfico).
Contudo, isso não significa que não se deva prestar atenção a outros aspectos. “Juntamente com a valorização, existem outras métricas que permitem mitigar o risco, com por exemplo, o profundo conhecimento do balanço da empresa ou a estimativa de lucros futuros, o que permite ter uma ideia da rentabilidade que irá gerar valor. Esta é a filosofia aplicada no Schroder ISF European Value, fundo com selo Consistentes Funds People, que nos últimos cinco anos conseguiu registar uma rentabilidade anualizada de 12,3%, 2,3 pontos acima do MSCI Europe, sendo primeiro quartil a três e a cinco anos. Este feito foi alcançado sempre a partir de uma análise bottom-up, o que os leva a investir naquilo que está barato, o que às vezes não é simples. “Há que controlar as emoções, já que existem ocasiões em que a análise leva a apostar em empresas que não estão a ser favorecidas pelos investidores”, reconhecem. Nestes momentos, o sector financeiro (34% de exposição) e as empresas de consumo cíclico (15%) são, atualmente, as grandes apostas na carteira. O motivo é bastante claro (ver gráfico).
Para deixar clara qual é a forma de trabalhar, dão o exemplo de uma empresa anglo-saxónica: Anglo American. A janeiro de 2015 a sua cotação começou a descer, uma fase na qual aproveitaram para, gradualmente, elevar a sua exposição ao valor, que passou de 0% para 4,8%. Um ano depois, a janeiro de 2016, a ação atingiu o mínimo e começou a recuperar, posteriormente atingindo, novamente, o valor do seu preço inicial. Durante este processo de recuperação, os gestores foram reduzindo o peso no valor, de 4,8% para 2,5% (ver gráfico). “Se se mantém a convicção numa ideia, deve-se atuar de acordo com isso e comprar quando o seu preço caiu. Nunca será possível comprares no ponto mais baixo. A ação continuará a cair, mas há que manter a disciplina e não se deixar levar pelas emoções. Por vezes, o mercado dá razão rapidamente, como aconteceu com a Anglo American. Noutras, demora mais tempo. O timing é algo que não se controla. Em média, mantemos os valores em carteira durante cinco anos”, concluem.