Pode um downgrade do rating de crédito de Portugal causar uma nova crise de dívida soberana?

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Sébastien Bertrand, Flickr, Creative Commons

Rowena Macfarlane, analista da equipa de Global Fixed Income na Standish, uma unidade da BNY Mellon, olha para Portugal com alguma cautela perante a possibilidade de um eventual downgrade do rating de crédito do país por parte da DBRS, no próximo dia 29 de abril. Efetivamente, com a Moody’s, S&P e Fitch a manterem o rating da República Portuguesa ao nível de junk, apenas a agência canadiana possibilita a elegibilidade da dívida soberana de Portugal para inclusão no programa de compra de ativos do Banco Central Europeu.

Este requer que os países sob o programa de quantative easing (QE) mantenham um rating  investment grade por parte de pelo menos uma agência, pelo que, uma mudança do status quo para pior pode ter um impacto significativo nos custos da dívida do país e inclusive criar constrangimentos significativos ao nível do acesso a financiamento. Os receios materializaram-se numa subida significativa das yields em fevereiro, nomeadamente acima dos 4%, embora entretanto o mercado tenha reduzido o prémio de risco exigido à República Portuguesa.

Segundo Macfarlane, “o recém eleito governo de centro-esquerda apresentou um novo orçamento que inclui alguns recuos ao nível de reformas fiscais. Apesar de alguma oposição inicial da Comissão Europeia, as medidas foram aprovadas  no Parlamento e a CE deu a sua aprovação depois do governo ter revisto as previsões para níveis mais realistas, e se ter comprometido a reduzir significativamente o défice. No entanto, alguns comentadores destacam com preocupação a revisão da DBRS que poderia eventualmente resultar num regresso à crise de dívida soberana”.

No entanto, Mcfarlane ressalva que “um downgrade não significa que o BCE vá automaticamente parar de comprar dívida soberana portuguesa, já que a entidade pode relaxar um pouco os critérios. No entanto, mantemo-nos cautelosos. Vemos o review da DBRS como um importante fator técnico”.