O plano aprovado pela Comissão Europeia é o primeiro que avança uma redistribuição fiscal da União Europeia, mas a sua implementação não é esperada antes de 2021.
Há menos de um mês a Comissão Europeia aprovou um ambicioso plano de recuperação económica ao qual deu o nome Next Generation. A dotação do mesmo engloba 750.000 milhões de euros, 5,4% do PIB da UE, e apresenta como principal particularidade que grande parte desse montante, 500.000 milhões, serão transferências para os estados-membros – não empréstimos – com o objetivo de relançar as economias mais prejudicadas pela crise do coronavírus.
Florence Pisani, diretora de investigação económica da Candriam, explicou recentemente as características principais nas quais se apoia este plano que deverá ser aprovado por todos os países da União Europeia antes de ser posto em marcha. Por isso, espera-se que o plano não impacte uma recuperação do PIB em 2020 já que, como explica Pisani “o processo europeu de adoção de decisões é demasiado longo para esperar que este programa preste apoio à atividade em 2020”. De facto, tal como se vê neste calendário, não se espera que a implementação do plano comece antes de janeiro de 2021, no mínimo. “Algumas discussões difíceis são inevitáveis, ainda que os países fulcrais (Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia) não tenham recusado o plano diretamente (…). Parece que os líderes europeus vão levar o seu tempo”, afirma Gilles Moëc, economista chefe na AXA Investment Managers.
De qualquer forma, este plano da União Europeia é o primeiro que implica um avanço em direção à redistribuição fiscal e tem a particularidade de se tornar bastante equitativo já que como explica Pisani “os países que se verão mais beneficiados são Espanha e Itália em termos de dinheiro, enquanto na percentagem sobre o PIB os mais beneficiados serão os países da Europa de Leste. Isto é, irá para países que mais sofreram com esta crise”.
A grande dúvida agora está no facto de este plano da União Europeia ser suficiente para relançar a economia europeia, já que na Candriam preveem que uma queda média de 8%, e, sobretudo, o sentimento investidor. Por isso, Pisani mostra as suas dúvidas. “Até se este projeto que requer a aprovação dos 27 Estados Membros for aceite, será necessário ir ainda mais longe se se pretender evitar que os mercados não questionem periodicamente a sustentabilidade da dívida pública italiana e não acabem por pôr em dúvida a integridade da zona euro”.
Uma ideia que também defende Möec: “Não acreditamos que por si só possa proporcionar apoio suficiente para absorver rapidamente a perda do PIB de 2020. Os orçamentos nacionais vão continuar a ser cruciais, o que significa que o BCE terá de continuar durante muito tempo para garantir a sua sustentabilidade financeira, ainda que esta nova capacidade “federal” possa ser complementária”, afirma este economista.