Porque é que a euforia antes da vacina pode acabar por ser um risco para o portefólio

reading_news_articles_laptop_mobile_colors
Photo by rawpixel on Unsplash

Demorou apenas uma semana para observar uma mudança radical no ânimo dos investidores e isso deve-se a apenas duas notícias: à vitória de Biden nos Estados Unidos ou, por outras palavras, à saída de Trump; e ao primeiro anúncio da Pfizer e logo de seguida da Moderna, que revelaram que a sua vacina demonstra uma eficácia superior a 90%, o que fez com que muitos investidores começassem a ver uma luz ao fundo do túnel que a pandemia criou.

“Sem a pandemia controlada, o crescimento económico vai continuar com este padrão atual de avanço aos solavancos. É por isso que a notícia sobre uma nova vacina representa a luz ao fundo do túnel, num momento em que os confinamentos e medidas restritivas voltaram a ser implementadas na Europa e nos EUA. As vacinas são um ponto de inflexão para os mercados, uma vacina muda a perceção de distribuição de riscos que se tinha até agora”, afirma Axel Botte, estrategista da Ostrum AM (gestor da Natixis IM).

As vacinas foram um grande catalisador para o mercado, prova disso está no comportamento que os ativos tiveram nos últimos sete dias, independentemente desses ativos serem considerados seguros ou de risco. Por exemplo, índices como o Dow Jones ou o Dax registaram aumentos de 5% na última semana, porém, o que é facto é que, por exemplo, a dívida pública espanhola também subiu a 10 anos e, ao contrário de outras ocasiões, ativos considerados refúgio como o dólar, as obrigações soberanas dos EUA a 10 anos ou o ouro, embora tenham caído, não caíram com tanta magnitude como em ocasiões passadas. Isso pode acabar por ser um autêntico problema quando se trata de ter uma carteira diversificada, já que a falta de descorrelação não é algo específico, mas vem desde março a acontecer, ou seja, desde o início da política monetária e fiscal expansionista.

“As yields das obrigações caíram, enquanto as ações subiram acentuadamente desde março, o que desencadeou correlações entre as classes de ativos. Pode ser prejudicial para as carteiras de multiativos, uma vez que reduz as oportunidades de diversificação e, portanto, aumenta o risco, especialmente no caso de vir a acontecer uma outra onda de venda generalizada”, afirma George Efstathopoulos, gestor de fundos da Fidelity Internacional. Este gestor também partilhou um gráfico que demonstra as correlações de hoje que estão em máximos históricos. “O que é mais preocupante é saber se essas classes de ativos podem continuar a oferecer diversificação durante os períodos de queda das ações, que apresentam uma persistente volatilidade maior do que a maioria dos anos anteriores”, diz o gestor.

As correlações entre os ativos mantêm-se próximos de máximos históricos

Média das correlações entre ativos em todo o mundo (períodos consecutivos de um ano, semanal)

d2129793a6aa1dbe23d93ae057bc17a3

Fonte: Fidelity Internacional, dados de outubro de 2020

As causas que explicam a unificação que se está a verificar no mercado respondem ao apoio que os bancos centrais e os governos estão a dar este ano a todos os tipos de ativos, com o único objetivo de salvar a economia de uma longa e prenunciada recessão económica. Por exemplo, foi isso que fez com que os retornos negativos das obrigações governamentais deixassem de ser meras histórias e se tornassem normais. Na verdade, a dívida pública com mais de 1% de rentabilidade começa a correr o risco de extinção.