Primeiras reações das gestoras internacionais ao anúncio de avanços críticos na vacina da COVID-19

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Marcelo Leal, Unsplash

Ainda em processo de digerir a notícia da vitória técnica de Joe Biden nas renhidas eleições americanas, o mercado recebeu esta segunda-feira notícias-chave sobre o desenvolvimento de uma vacina para a COVID-19. As farmacêuticas Pfizer e BioNTech anunciaram que os últimos ensaios clínicos na sua Fase 3 mostram uma eficácia de 90% da sua vacina. É a primeira candidata a mostrar que protegerá eficazmente grande parte da população perante uma infeção do vírus e a primeira grande notícia que permite aos investidores vislumbrar o princípio do fim da pandemia.

Isso está a refletir-se nos movimentos do mercado. Negoceiam em bolsa as esperanças de deixar para trás a nova normalidade e voltar, simplesmente, à normalidade de sempre. “A perspetiva de uma vacina eficaz contra a COVID-19 foi durante muito tempo uma das principais expectativas dos investidores mais otimistas. O anúncio de Pfizer que sugere que a sua vacina é altamente eficaz, e em maior grau do que o próprio CEO esperava, tornaram esta realidade tão próxima que os investidores quase lhe podem tocar”, reconhece James Athey, diretor de Investimentos da Aberdeen Standard Investments.

Sobem as ações e caem as obrigações; o petróleo também dispara enquanto os investidores se desfazem de ativos refúgio como o ouro, o yen japonês e o franco suíço. Todos os grandes índices registaram subidas durante a sessão de segunda-feira. O Dow Jones Industrial chegou a disparar em 5,1%, a sua maior subida intradiária desde fevereiro. Ainda que a euforia se vá acalmando com o passar das horas, as bolsas europeias fecharam com subidas históricas.

Curiosamente, isto significa que está a ser uma muito boa a sessão para as empresas dos setores cíclicos. “Sendo realistas, pela primeira vez desde o pânico de fevereiro e março, o mercado está a começar a pensar seriamente numa economia mundial que funcione com normalidade e em como se posicionar para este retorno à normalidade tão bem recebida”, concorda Athey. A banca, as linhas aéreas, os setores turísticos, etc., sentem por fim uma recuperação. Por isso, os índices com maior exposição a estas indústrias são os que lideram as subidas.

Além disso, a notícia chega no meio da reação positiva do mercado à vitória de Biden. “Todas as fichas estão a começar a alinhar-se e o sentimento do mercado pode estar nas primeiras etapas de uma explosão de energia positiva”, comenta Seema Shah, estratega chefe da Principal Global Investors. Os índices de ações estão a lançar uma mensagem de que os investidores estão otimistas no geral, mas discernindo valor por valor. De facto, pode surpreender que as duas empresas diretamente citadas no título, a Pfizer e a BioNTech só subam 10-14% na abertura da bolsa americana. Para Lydia Haueter, gestora da Pictet Biotech, é uma reação compreensível. “É preciso ter em conta que os fabricantes de novas vacinas podem ser os vencedores, mas não da forma como pensamos”, aponta. “Entre os especialistas, não há expectativas de que hajam grandes benefícios desta crise. De facto, os benefícios da vacina para o coronavírus podem não ser muito grandes no curto prazo”, talvez um ou dois anos”, recorda.

Segundo refere a especialista, o ponto-chave está na criação de plataformas tecnológicas de validação. “Vimos colaboração entre concorrentes, partilha de dados, com publicações até antes da revisão de outros científicos. Efetivamente, a velocidade de colaboração aumentou de forma substancial. Ainda mais, é previsível que a indústria determine que parte da colaboração é útil e que se vai manter depois da crise”, vaticina.

Nem todo o caminho está percorrido e ainda restam riscos. Por exemplo, a própria reticência da sociedade como recordavam na MFS IM num recente relatório: “Uma parte da sociedade costuma mostrar-se cética antes das novas vacinas. Se a isso juntarmos a politização desta doença, a proporção da população que não está disposta a injetar-se com a vacina poderá ser maior do que o normal”. Também é preciso ter em conta o impacto da inflação. Para Benjamin Louvet, gestor da OFI Finacial Investiments Precious Metals, esta notícia provocará uma queda no preço dos metais a curto prazo, mas as expectativas de inflação voltarão a reforçar o seu atrativo.