Prova de fogo: como se comportam os fundos de alocação em cenários de surtos virais?

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De setembro de 2012 até à data o mundo testemunhou por diversas vezes a ocorrência de surtos virais. Alguns deles foram classificados como epidemias e apenas um como pandemia - aquela que bem conhecemos e que está a influenciar as nossas vidas neste preciso momento. Contudo, os impactos do novo coronavírus vão para além das alterações ao nosso dia a dia e dos evidentes riscos para a saúde mundial. A antecipação de um desaceleramento económico já divide tempo de antena com o tema viral, assim como desafios que se colocam a nível laboral, e onde se incluem as operações da indústria da gestão de ativos. 

Enfrentar “inimigos invisíveis” não é propriamente uma novidade para os gestores de fundos. Neste artigo olhamos o histórico do confronto entre fundos de investimento nacionais e surtos virais, com enfoque nos fundos de alocação flexível. Serão utilizados dados da Morningstar Direct para ilustrar quatro das ocorrências mais recentes: MERS, Ébola, Zika e a atual pandemia de COVID-19. Serão apenas considerados fundos que tenham “enfrentado” todos estes cenários, o que resulta num conjunto formado pelos produtos Quadrant e Sextant da Atrium Portfolio Managers, BPI Universal e BPI Global da BPI Gestão de Activos e Optimize Investimento Activo da Optimize Investment Partners.

MERS e Ébola

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A primeira ocorrência viral representada trata-se da síndrome respiratória do Médio Oriente (MERS), cujo pico ocorreu entre setembro e novembro de 2012 (ainda hoje se encontra ativo) e, como o próprio nome indica, afetou sobretudo a região do Médio Oriente. Contudo, como é observável no gráfico, o impacto deste surto não foi particularmente notório nos retornos dos fundos. Possivelmente este facto ficou a dever-se ao foco de incidência ter sido muito concentrado e dos fundos considerados não terem uma grande exposição a essa geografia.

No caso da epidemia de Ébola da última década a situação já foi diferente. Durante o surto que atingiu o ocidente do continente africano entre o final de 2013 e o início de 2014, o desempenho da categoria de fundos de alocação flexível sofreu variações consideráveis e chegou a estar em terreno negativo por duas ocasiões. Durante este período o destaque vai para o BPI Universal, que registou retornos acima da média da categoria e a melhor relação entre a rentabilidade conseguida e a volatilidade assumida (melhor rácio de Sharpe do conjunto naquele período).

Zika e COVID-19

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À semelhança da ocorrência anterior, a epidemia de Zika registada no continente americano entre 2015 e 2016 também teve um impacto notório nos retornos dos fundos da categoria analisada. Desta vez o desempenho generalizado dos fundos seguiu uma tendência notoriamente negativa, com todas as estratégias do grupo no vermelho durante a maior parte do período. Apesar do cenário pessimista, há que notar a contenção da volatilidade conseguida pelo fundo Quadrant da Atrium, que aliás é uma constante em quase todos os períodos de análise.

Por fim chegamos ao cenário que enfrentamos atualmente. Por ser um evento ainda sem desfecho (e com uma grande incógnita sobre quando o mesmo ocorrerá) as conclusões a retirar são muito limitadas. Contudo, há que notar que é nesta ocorrência que se dão os níveis de volatilidade mais elevados no geral, possivelmente por ser o único evento de todo o conjunto em que, a par de um surto viral, está eminente uma desaceleração económica mundial.