Quais são os principais riscos que um Brexit poderá ter nas carteiras dos fundos?

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Samuel Ronnqvist, Flickr, Creative Commons

A possível saída do Reino Unido da União Europeia é um fator que está gerar uma grande intranquilidade no mercado. As sondagens apontam para um equilíbrio entre os partidários da saída da UE e os que preferem um Reino Unido integrado, mas mostram também uma elevada percentagem de indecisos. “O referendo britânico sobre a conveniência de o país se manter membro da UE vai provavelmente ter um peso evidente sobre o mercado britânico durante os próximos meses”, afirma Mike Amey, gestor da PIMCO. Alguns dos efeitos podem estar já a ser sentidos, como por exemplo sobre a libra, que desde novembro evidenciou a maior depreciação de entre as divisas que integram o G-10. “A depreciação relativamente ao dólar foi a mais dura desde a crise financeira de 2008. A direção que tomou não é nenhuma surpresa tendo em conta os desequilíbrios dos dados macro britânicos, mas a amplitude da correção foi superior ao esperado”, indicam Keith Wade, economista chefe da Schroders, e Azad Zangana, economista europeu da mesma entidade.

Segundo explicam, isto deveu-se à deterioração das expectativas acerca da subida de taxas de juros por parte do Banco de Inglaterra, mas também pelo risco do Brexit, que cada vez é mais preocupante perante o equilíbrio revelado nas sondagens. “Se bem que possam estar já a acontecer vendas de libras relacionadas com a possibilidade do Brexit, à medida que os riscos vão aumentando podemos assistir a uma maior depreciação”, assinalam os especialistas. Esta tendência de depreciação da divisa a curto-médio prazo é algo que auguram também outras casas, como a SYZ AM. “Os investimentos adiados ou cancelados podem prejudicar ainda mais o caminho do crescimento económico do Reino Unido e, em consequência, continuar a afetar a libra”, afirma Michael Clements, gestor da SYZ AM. O que aconteceria em caso de vitória do sim ou do não?

“ Um resultado favorável à saída da União Europeia pode implicar uma maior dificuldade de financiamento do deficit orçamental do Reino Unido, o que iria prejudicar a sua recente estabilidade económica. Esse golpe poderia ocasionar uma reação adversa em cadeia, com uma forte queda da libra esterlina, uma deterioração da trajetória de crescimento do PIB e um possível aumento do risco nacional, entre outras consequências fundamentais”, indica Clements. No entanto, a chave poderia estar em quão amistosa seria a ruptura. “Uma separação de mútuo acordo, acompanhada de negociações tranquilas, faria com que o impacto macro fosse suave. Um divórcio desagradável prolongaria o impacto no mercado, com uma pressão óbvia sobre a libra e as grandes empresas com atividade relevante na Europa”, assinalam da Pimco. Pelo contrário, a permanência na EU estabilizaria a libra, melhoraria a confiança empresarial e suportaria a continuação do crescimento económico.

Mas, o que a maioria dos investidores quer saber é quais são os riscos que surgem de um Brexit na carteira de um fundo de investimento. Clements, gestor do Oyster European Opportunities e do Oyster European Selection, fez uma análise dos riscos.

1) Risco de variações da divisa na carteira

“Ainda que a saída do Reino Unido pareça pouco provável, a incerteza pode inquietar os investidores. Esta incerteza poderá já ter influenciado o Banco de Inglaterra, considerando o tom suave do seu mais recente discurso. Em comparação com há três meses, a curva de yields ficou mais flat, enquanto a subida de taxas deverá ficar adiada para 2017. Isto acelerou a debilidade da libra esterlina em Janeiro, o que tem um impacto claro na taxa de câmbio”, afirma. Os fundos monetários em Libras sofreram um forte castigo precisamente pela debilidade da libra.

2) Risco ao nível das receitas das empresas.

Neste ponto, Clements vê três tipos de empresas que podem encarar o problema de forma diferente:

A) Empresas com domicílio e principal fonte de receitas no Reino Unido. No caso de se dar o Brexit, estas empresas serão afetadas por uma quebra da confiança empresarial, que causaria uma maior queda do crescimento, um menor poder de compra do consumidor britânico e o endurecimento das condições de financiamento. A banca britânica é sensível ao risco económico e será de assumir que se veria afectada do mesmo modo que os restantes títulos cíclicos. Um encarecimento dos bens por via da desvalorização da moeda também afetaria o sector retalhistas britânico, cujas cadeias de aprovisionamento são internacionais por definição, explica o gestor.

B) Empresas com domicílio no Reino Unido e principal fonte de receitas fora do país. Inicialmente é possível que venham a ser afetados pela quebra de confiança. No entanto a eventual depreciação da libra seria positiva para as vendas em moeda estrangeira, pelo que uma desaceleração do crescimento prejudicaria menos estas empresas que outras mais dependentes do negocio doméstico. O grande risco resultaria de uma quebra na competitividade. Se o Reino Unido permanecer na UE, o enquadramento normativo será mais propício aos negócios, indica Clements.

C) Empresas com domicílio na Zona Euro e receitas com origem no Reino Unido. Em caso de um Brexit, estas empresas poderiam sofrer com um menor crescimento do PIB e um efeito negativo do câmbio nas receitas em Libras. No caso de terem escritórios no Reino Unido, poupariam nos custos, mas se as receitas precedentes do Reino Unido são superiores, o resultado líquido seria negativo, assinala o especialista.