Que impacto pode ter a variante Delta da COVID-19 nos mercados

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Créditos: Diana Polekhina (Unsplash)

Uma nuvem no horizonte ameaça a recuperação económica. É a propagação da variante Delta da COVID-19. No Reino Unido, os novos casos aumentam todos os dias e os últimos números mostram 16.000 casos confirmados numa média móvel de sete dias, face aos pouco mais de 3.000 de finais de maio. Certamente, estamos muito longe dos máximos no passado mês de janeiro, mas os medos dos investidores não se fizeram esperar.

Consequências para os investidores em obrigações

O posicionamento nas taxas e curvas de yields globais entre os países está muito marcado e aparentemente é o resultado das diferenças nas políticas de contenção da pandemia face aos planos de imunização. Segundo o boletim semanal de obrigações da J.P. Morgan Asset Management, os investidores mantêm uma subponderação nos EUA, Reino Unido, Alemanha e Canadá e continuam sobreponderados ao Japão e Austrália, onde as taxas de imunidade são baixas. Nos EUA, a recente mudança da Reserva Federal para um endurecimento da política monetária fez com que o segmento a curto prazo da curva de yields se tornasse mais sensível aos dados. “Continuaremos a favorecer as obrigações com maiores yields e temos expetativas de que as obrigações dos EUA a 10 anos marquem cerca de 2% no fim do ano. Não obstante, estamos conscientes de que um aumento das yields poderá criar dificuldades para os países com baixas taxas de imunização, que estão a restabelecer as medidas de bloqueio”, explica a equipa do Grupo de Obrigações Globais, Divisas e Matérias-Primas.

Os mercados emergentes, os mais vulneráveis

Enquanto os países desenvolvidos parecem ir por um bom caminho com o seu plano de vacinação, as economias emergentes são as que mais sofrem. Segundo um recente research da Goldman Sachs, os especialistas esperam que a variante Delta só represente um modesto obstáculo para o crescimento nos países com altas taxas de vacinação e estratégias de contenção que impliquem restrições, esta onda de infeções deverá ser mais limitada do que no passado, até se as infeções aumentarem substancialmente.

Mas a grande variação nas taxas de vacinação a nível mundial sugere um maior risco para os países com baixas taxas de vacinação. “Dito isto, pensamos que uma melhoria contínua das perspetivas de vacinação mundial, especialmente nas economias emergentes, deverá compensar aproximadamente a resistência da variante Delta em muito destes países mais vulneráveis”. E avançam que esperam que 50% da população mundial tenha recebido a primeira dose em novembro. “Por esta razão, continuamos a ser relativamente otimistas sobre o crescimento dos mercados emergentes, apesar dos riscos da variante Delta”, continuam.

Recuperação sólida?

O caminho para a recuperação, porém, não parece ter dificuldades também graças à experiência adquirida nos últimos meses a nível mundial em matéria de contenção da pandemia. “Neste contexto, continuamos a favorecer os ativos de risco nas nossas alocações de ativos globais. Não obstante, os investidores que quiserem aplicar coberturas de carteiras no caso de haver uma mutação resistente à vacina, as estratégias de diversificação podem ser eficazes”, afirma Stéphane Monier, diretor de Investimento do Banque Lombard Odier & Cie AS. E esse medo terá maior impacto também nos mercados de divisas. “Esperamos que a nossa hipótese de base de uma forte recuperação macroeconómica se traduza numa melhoria das perspetivas para a Europa e um debilitamento moderado do dólar americano. Se esta recuperação se detivesr devido às novas medidas de contenção, a divisa americana vai fortalecer-se devido a oferecer aos investidores um refúgio contra o risco e criará um headwind contra o euro”, conclui.

Ainda assim, o impacto da variante Delta está a notar-se a curto prazo nos dados económicos. “Os dados económicos mais recentes mostram uma desaceleração da atividade nos Estados Unidos e Ásia. Nos EUA o ISM caiu quatro pontos para os 60,1 em junho, devido à descida dos dados do emprego e aos novos pedidos”, recordam na Edmond de Rothchild. E esse impacto está a ser pior na China, a grande locomotiva do crescimento económico. O seu PMI está próximo dos 50 pontos que, como explicam na gestora “é a linha divisória entre expansão e contração”.