Ralph Elder (BNY Mellon IM): “Temos uma ligação com Portugal que é quase emocional”

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Ralph Elder. Créditos: Vítor Duarte

Ralph Elder não é novo no mercado ibérico, mas só há quase dois anos passou a ter sob a sua responsabilidade o negócio de Portugal e Espanha. O agora diretor executivo na BNY Mellon Investment Management, em conjunto com Sasha Evers - atual responsável de distribuição de retalho da entidade para a Europa -, foram na verdade os responsáveis por fixar a entidade em terreno ibérico, há 22 anos. “Conheço bem o mercado português, embora até há pouco tempo não o tenha coberto de forma direta”, começa por recordar Ralph Elder.

De facto, este movimento, que teve lugar há mais de duas décadas é, para o profissional, indicativo da importância que o mercado nacional representa para a entidade. “É importante recordar que nestes últimos 22 anos o negócio de Portugal foi gerido pelo diretor executivo da entidade que tinha também sob a sua alçada o negócio de Espanha, Miami e América Latina”, sublinha. E agora isso continua a acontecer, mesmo depois das remodelações no escritório ibérico. “Portugal continua a ser um mercado coberto pelo diretor executivo que está responsável pela Península Ibérica, Miami e América Latina… que no caso sou eu!”, diz em tom de brincadeira. Contudo, reforça o laço ao país: “Temos uma ligação com Portugal que é quase emocional, porque chegámos a este mercado na primeira grande vaga de gestoras que entraram no país, no final dos anos 90”, lembra.

Talvez seja esse conhecimento de quase 22 anos que leva Ralph Elder a ter na ponta da língua algumas diferenças entre o investidor espanhol e o português, mas que na verdade considera irrelevantes. Acredita que é mais aquilo que os une do que os separa. “Se pensarmos bem, os dois mercados são bastante semelhantes: em termos de estrutura, gestão discricionária, das necessidades dos clientes, e até ao nível dos produtos para os quais os clientes tendem a olhar. Em vez de olharmos para as diferenças, acho que temos de olhar para as semelhanças, que são muitas”, atesta.

O que vão os clientes necessitar?

Mais do que habituado a conversar com clientes, o diretor executivo da entidade acredita que atualmente a preocupação deveria estar “nas grandes mudanças estruturais que estão acontecer”. Na sua opinião, fala-se pouco da quantidade de liquidez que está a sair do mercado. “Se olharmos para os últimos 12 anos,  desde a crise financeira, muita da inflação presente nos ativos financeiros veio da liquidez fornecida pelos bancos centrais. Veio dos estímulos que suportaram as ações e as obrigações nesse período, e que fizeram com que a maioria dos ativos subissem, sem importar se estávamos a olhar para uma boa ação ou uma boa obrigação”, descreve.

Com um cenário oposto em cima da mesa, em que a liquidez está prestes a ser retirada, “a volatilidade e a dispersão entre ações e obrigações irá aumentar”. Situação que para Ralph Elder tem que ser cuidadosamente considerada na alocação de ativos que é feita. “A questão importante no meio de tudo isto é: o que é que os clientes vão realmente precisar?”, coloca.

Neste contexto, vê o interesse retornar a produtos como os alternativos líquidos, nomeadamente fundos de ações long/short ou até os fundos de ações long/short market neutral. “Muitos destes fundos sofreram com a liquidez fornecida pelos bancos centrais, porque não existia a volatilidade e a dispersão de que eles necessitam para sobreviver”, explica. No atual momento, acredita que tais produtos podem oferecer descorrelação, mas também alpha.

Dores de crescimento no ESG

Numa gestora como a BNY Mellon IM, que integra no seu espetro várias boutiques de investimento, o tema do ESG tem de ser gerido com organização. Contrataram uma pessoa dedicada a gerir e coordenar esse tema, mas Ralph Elder prefere desmistificar. “O ESG não é algo novo. O problema, neste momento, está no G (Governance) da sigla. Por esta altura, o que é importante é aceitar que o ESG está a desenvolver-se”, diz sem rodeios.

Nesse caminho de desenvolvimento, o profissional faz questão de lembrar essas dores de crescimento. “Existem questões muito complexas dentro do ESG, e que estão ligadas à própria classificação dos fundos de investimento. O universo de fundos disponíveis para os selecionadores de Portugal e Espanha muda numa base mensal, porque todas as gestoras estão a integrar os fundos na categoria 8 ou 9 da SFDR, ou a transferir fundos para essas categorias, ou até mesmo a lançar novas versões de fundos para se categorizar dessa forma. É algo muito complexo para os nossos clientes”, aponta.

Na entidade optam por fazer este caminho a um passo pouco apressado.  “No nosso caso, a transferência de fundos já existentes para a categoria de fundos artigo 8º está a ser um processo muito lento, mas é algo que é deliberado tendo em conta a conjuntura”, indica. Refere que “há fundos que são muito difíceis de introduzir no artigo 8º”, como é o caso dos  fundos de retorno absoluto. “Não digo que não vão ser classificados dessa forma, mas acho que ainda há espaço para fundos artigo 6º”, entende Ralph Elder.

Inovação

Orgulhosos de terem um alargado expertise e quota de mercado em inovação, o diretor executivo fala de como se posicionam. Refere a aposta, por exemplo, nos fundos de beta eficiente, como sendo “uma forma económica de aceder a áreas como os fallen angels ou dívida de mercados emergentes”. Por outro lado, estão também a aumentar a gama de retorno absoluto, “lançando por exemplo um fundo de crédito sustentável long /short ainda este ano”. Mas a inovação não fica por aqui. “Há também muita inovação nos investimentos responsáveis, particularmente na categoria do artigo 9º, que é onde achamos que podemos fazer alguma diferença”, concluiu.