Uma vez alcançado o objectivo ao nível do desemprego nos Estados Unidos, a Reserva Federal está agora a vigiar atentamente a evolução dos salários no país.
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A primeira subida das taxas de juro nos Estados Unidos poderá estar mais próxima do que o esperado, se olharmos mais de perto para a evolução dos salários nos Estados Unidos. Segundo David Lebovitz, estratega global de mercados da J.P. Morgan AM, “o crescimento dos salários – que foi decepcionante nos últimos meses – poderá estar ao virar da esquina, impulsionando uma subida das taxas de juro por parte da Reserva Federal mais cedo do que o mercado espera”.
Lebovitz aponta três razões para se confiar num aumento dos salários durante os próximos meses e, por isso, também num avanço das políticas monetárias destinadas à normalização. A primeira tem a ver com o fim do prazo, no final de 2013, das subvenções especiais para as pessoas que estivessem há 27 semanas no desemprego, o que é considerado desemprego de longa duração. De acordo com uma publicação recente do Comité Nacional de Análise Económica, o fim destas ajudas poderá contribuir para até mais de 1,8 milhões de postos de trabalho adicionais (cerca de 60% do crescimento agregado do emprego em 2014).
“Quase um milhão destes postos foram ocupados por trabalhadores que não tinham participado no mercado de trabalho se tivessem renovado os subsídios”, constata Lebovitz. Assim conclui que “este fim das medidas obrigou muitos desempregados de longa duração a deixar por completo o mercado laboral ou a aceitar um trabalho por um salário inferior. Este movimento desses trabalhadores para postos de trabalho em 2014 pode ter contribuído para o abrandamento do crescimento dos salários”. De acordo com as estatísticas, o maior aumento percentual relativamente ao número total segundo o grau de estudos, foi o do segmento de pessoas com elevada escolaridade, que aceitaram trabalhos mal remunerados. “Por outras palavras, os indivíduos com menos estudos foram os que assistiram a uma maior queda da taxa de desemprego”, resume o especialista.
A segunda razão tem a ver com o relevo geracional que se está a viver nos Estados Unidos: à medida que se vão reformando os membros da geração baby-boom, estes vão sendo substituídos por trabalhadores mais jovens e pior remunerados. “Com um número crescente de trabalhadores a alcançarem a idade da reforma, é provável que a população reformada aumente e provoque uma erosão na força laboral”, entende o especialista. “Este ajuste demográfico limita o crescimento do salário médio”, acrescenta.
A última razão está relacionada com as previsões meteorológicas. Se há um ano o crescimento do PIB do primeiro trimestre caiu drasticamente por causa do Inverno rigoroso nos EUA, este ano aconteceu o contrário. “Um dezembro invulgarmente suave pode ter tido um papel na moderação do crescimento dos salários. O tempo pode ter efeito nos salários porque os vencimentos por hora tendem a aumentar nos meses de mau tempo”, explica o especialista. A razão deste comportamento é que os trabalhadores com piores salários tendem a ficar em casa quando o estado do tempo é pior, pelo que as empresas tendem a pagar-lhes mais nesses meses para que tenham uma motivação para ir trabalhar. “Num mês em que haja bom tempo, toda a gente vai ao trabalho, o que faz baixar o salário médio”, indica Lebovitz.
Qual o foco da Fed?
Para o profissional estas razões contribuem para reforçar o ponto de vista de que as medidas tradicionais a partir das quais se mede o crescimento salarial são menos precisas e, por isso, o crescimento dos salários poderá surpreender pela subida. “Em parte porque os trabalhadores mais jovens e menos qualificados parecem ser os mais beneficiados pela criação de emprego”, insistem da J.P. Morgan AM. Para reforçar o argumento da possível subida das taxas chama a atenção para a publicação do último dado do Índice de Custos laborais, a medida favorita da Fed para monitorizar o crescimento salarial: este aumentou cerca de 0,6% no último trimestre de 2012 e cerca de 2,2% ao longo de todo o ano passado. Outro dado a favor da tese do especialista é que já há algumas empresas que estão a planear subir os salários dos seus trabalhadores, o que sugere que o custo médio por hora de trabalho poderá recuperar nos próximos meses.
Todos estes factores levam Lebovitz a concluir que “o recente abrandamento salarial é provavelmente um fenómeno temporal, e os ordenados poderão subir mais rápido do que o mercado espera, em 2015”. “À medida que a Fed se vai dirigindo para uma normalização, vai vigiar os sinais de subidas de crescimento dos salários, um indicador chave de uma economia e expansão e um obstáculo à inflação. Já que as tendências salariais podem ser mais fortes do que as métricas atuais podem sugerir, os salários poderão subir mais rápido do que o esperado, fazendo com que a Fed comece o seu endurecimento monetário”, refere. Da J.P. Morgan AM esperam que a primeira subida das taxas aconteça no verão.