Recessão e o lado curto da curva

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Jorge Silveira Botelho; Elisabete Pinto Pereira; Cristina Carvalho. Créditos: Vitor Duarte

A inversão da curva de rendimentos desperta o interesse dos vários investidores para os prazos mais curtos que remuneram melhor. A FundsPeople, em colaboração com a Amundi, organizou um pequeno-almoço onde as obrigações de curto prazo e os instrumentos do mercado monetário foram o tema central. Ainda aqui, foi possível ouvir as perspetivas macroeconómicas dos especialistas e perceber porque é que existe tanto valor neste pedaço da curva.

Jorge Silveira Botelho, responsável pela Gestão de Ativos na BBVA AM Portugal, introduziu o tema das expetativas de recessão que ajudam a moldar a curva no seu atual formato. Para o responsável da entidade, “2024 vai ser um ano de desaceleração”. Esta tendência deve-se sentir primeiro na Europa “devido aos mecanismos de transmissão da política mais rápidos” e deve-se estender durante 2024. Sobre os bons números recentes apresentados pelo PIB norte-americano, o especialista defende que estes refletiram temas muito específicos, e que agora começaremos a ver o reverso da medalha. Para Jorge Silveira Botelho, “os Estados Unidos da América estão muito endividados e a sensibilidade às taxas de juro que ainda não se fez sentir, vai-se manifestar no curto prazo”.

Elisabete Pinto Pereira, responsável da área de Investimento e Proteção no novobanco, começa por reforçar que os principais bancos centrais devem manter uma política restritiva, “o que implica um cenário económico complicado para 2024”. É este o cenário base do novobanco. A subida das yields na dívida de mais longo prazo, leva a um agravamento das condições de financiamento. A responsável defende que “o agravamento das condições de crédito aliado à pressão imposta na atividade económica é um duplo golpe sobre os múltiplos de valorização das empresas. Adicionalmente, “o aumento das tensões geopolíticas não é displicente e pode ainda ter um impacto significativo nas principais economias”. Cristina Carvalho, responsável pelo Mercado Português e Clientes Institucionais na Amundi Iberia, concorda com esta afirmação e relembra que “os conflitos geopolíticos mais recentes levaram a uma subida do preço do ouro e do petróleo”. Para a especialista, “a subida do preço do petróleo, que normalmente tarda três meses a refletir-se na economia, poderá ter impacto na inflação e deve levar os bancos centrais a manterem-se vigilantes”.

A responsável concorda com o cenário traçado para os EUA e para a Europa, mas adiciona à discussão a visão da Amundi para a China. Segundo Cristina Carvalho, a China representa um papel importante na saúde da economia mundial, porém “os seus dados macroeconómicos não têm correspondido às expetativas”. Acrescenta ainda que, “apesar do governo chinês ter implementado diversas medidas para melhorar os fundamentais chineses, estes estão ainda aquém do esperado”.

Curtos, muito curtos na curva

Houve espaço para cada participante dar a sua opinião, mas no final o consenso reinou no debate. Como vimos anteriormente, Elisabete Pinto Pereira acredita que, agora, as empresas sofrem muita pressão da envolvente macroeconómica. A especialista do novobanco afirma que “prefere obrigações, mais especificamente obrigações de qualidade, em detrimento de ações ou dívida de menos qualidade. Para Elisabete Pinto Pereira, “os riscos já identificados começam agora a materializar-se e até a intensificar-se”.

O responsável pela Gestão de Ativos da BBVA AM Portugal segue a mesma lógica. Jorge Silveira Botelho acredita que “se olharmos para o binómio risco/retorno, a componente obrigacionista apresenta valores muito mais interessantes que a componente acionista”. O especialista vai mais longe e destaca os valores apresentados em durações entre 0 e 3 anos. Para a BBVA AM Portugal, o “investimento em duração mais longa apenas faz sentido em clientes com um horizonte temporal de investimento muito maior”. Diz mesmo: “Na generalidade, preferimos uma baixa duração”.

Por fim, Cristina Carvalho corrobora da opinião dos colegas. A Amundi “está avessa ao risco e quer aproveitar o bom momento de rendimento das obrigações de curto prazo onde estão defendidos de movimentos nas taxas de juro”. A entidade na qual colabora “vê oportunidades na parte curta da curva, quer em dívida governamental como em corporativa, e mantém-se no espetro investment grade”. A subponderação em high yield é explicada “pelo aparecimento de sinais que mostram que certas empresas não vão conseguir acarretar os custos de financiamento já muito elevados”.