2022 está a ser um ano muito difícil para os investidores. As principais classes de ativos estão a registar perdas, mas também há razões para estar otimista sobre o desempenho futuro tanto das ações como das obrigações.
2022 está a ser um ano muito difícil para os investidores. As principais classes de ativos registam perdas. Até 22 de fevereiro, o índice de ações globais caiu 8% face ao ano anterior, com os mercados desenvolvidos a recuarem cerca de 8,5%. Os emergentes registaram uma maior resistência. Caíram em média 2% em dólares, mostrando uma grande dispersão. Por um lado, houve a subida de 9% na bolsa brasileira, que também foi favorecida pela valorização de 10% do real. Por outro lado, a queda de 18% da Rússia, agravada pela depreciação de mais de 5% sofrida pelo rublo, algo que nos últimos dias escalou acentuadamente.
No mercado de obrigações, o desempenho não foi muito melhor. Os números vermelhos são a tónica habitual. O índice global desceu 3%, com quedas de 5% para as obrigações corporativas de investment grade e dívida de mercados emergentes, 4% para o high yield e 3,6% para a dívida pública dos EUA. Mas houve nichos de resistência. Destaca-se, por exemplo, a força da dívida de mercados emergentes emitida em moeda local, que avança pouco mais de 1%, ou a estabilidade da dívida pública chinesa em renminbis.
Comportamento das diferentes classes de ativos (em moeda local)
Razões para otimismo nas ações
Neste contexto, Luca Paolini, estratega de mercado da Pictet AM, vê razões para ser construtivo. “É preciso ter em conta que os indicadores do ciclo sugerem que a recuperação permanece intacta. Os mercados estão a refletir um forte endurecimento da política monetária no mundo, mas os indicadores de liquidez indicam, para já, uma perspetiva mais equilibrada e neutra para os ativos de risco. Ao nível da valorização, as ações apresentam o melhor desempenho desde março de 2021”.
No que diz respeito às economias emergentes, considera que os bancos centrais destes países foram forçados, face ao aumento da inflação e ao nervosismo dos mercados, a fazer ajustes nas taxas de juro, estando já, em média, 4% acima dos mercados desenvolvidos. “Se a inflação começar a cair, certas economias emergentes, as suas moedas e ativos, devem beneficiar”, disse.
Razões para otimismo nas obrigações
Tal como explica Mark Holman, gestor da TwentyFour AM (boutique da Vontobel AM), os spreads das obrigações high yield em euros aumentaram 45 pontos base, para os 376, o que representa uma diferença de 11 pontos base em comparação com a sua média de cinco anos. Este período inclui tanto o pico da COVID-19 (mais 866 pontos base) como o pico de 2018 (528), quando as yields aumentaram devido aos receios de um fim iminente ao ciclo empresarial pré-COVID.
“Tendo em conta a movimento das taxas subjacentes nas últimas cinco semanas, em termos de rendimento, movemo-nos ainda mais, uma vez que o rendimento atual do índice de obrigações de high yield em euros se situa nos 3,75%. Os spreads das obrigações em euros de high yield estão agora 56 pontos base acima da média a cinco anos e apenas 25 pontos base abaixo da média a 10 anos, período que inclui a crise do crédito soberano na Europa, quando as yields atingiram máximos acima dos 10%”, recorda.
No entanto, Holman vê razões para ser construtivo a médio prazo. Na sua opinião, as baixas taxas de incumprimento na Europa e nos EUA continuam favoráveis ao crédito, prevendo-se que se mantenham muito abaixo das médias de longo prazo para 2022 e 2023. Além disso, o especialista espera que a atual migração positiva dos ratings continue a um ritmo historicamente acelerado, uma vez que o crescimento económico está muito acima da tendência e o setor bancário, na sua opinião, está mais forte do que nunca. “Embora a fraqueza atual possa continuar a curto prazo, os fundamentais fortes devem, em última análise, apoiar o mercado”, diz.