Repercussões da concentração nos índices na Europa

Europa, Península Ibérica, mapa
Créditos: Christian Lue (Unsplash)

O domínio de algumas empresas de grande capitalização é um fenómeno global que tem sido tema central em muitos debates recentes, especialmente após a correção do mercado no início de agosto. Nos Estados Unidos, o auge das grandes empresas tecnológicas acentuou esta tendência. No entanto, não podemos perder de vista o facto de que na Ásia e noutros mercados emergentes, onde a concentração tem sido ainda mais pronunciada em termos de contribuição para os retornos dos índices, um conjunto de empresas são, nos bons momentos, responsáveis pela subida de certos índices e, tal como acontece agora em setembro, são também algumas empresas tecnológicas que estão a liderar as quedas, levando o índice de Taiwan a atingir quedas de cerca de 5% na semana.

Em comparação com 2008, a quota dos cinco principais componentes no índice Morningstar Global Target Market Exposure triplicou, passando de 5% para 15,5% no final de maio de 2024, com os EUA a liderar. Isto serve para lembrar que a sorte das maiores ações pode mudar drasticamente, como aconteceu em 2021 com um êxodo dos mercados chineses.

No entanto, se olharmos para a Europa, embora a concentração tenha aumentado, este aumento foi mais moderado em comparação com o mercado norte-americano e inferior ao pico máximo de concentração de 2008. 

A concentração das 10 maiores ações representa 23% do índice Morningstar DM Europe. Quatro destas 10 pertencem ao setor da saúde, com um peso conjunto de 9,9% no índice, enquanto há apenas duas (ASML e SAP) do setor tecnológico, com uma ponderação de 5,2%.

Desafios para os gestores de fundos

A Morningstar apresenta uma tabela que destaca a contribuição para o desempenho de vários índices que mostra que as maiores ações determinam em grande medida a direção geral do mercado, sendo notável a contribuição das ações asiáticas:

O facto de haver um conjunto de ações com um impacto desproporcionado no retorno dos índices coloca alguns desafios aos gestores e investidores, segundo assinala a Morningstar no estudo Concentration in the European Equity Market. Este estudo sugere que os fundos de investimento ativos na Europa, particularmente os que se centram em ações de grande capitalização, registaram um retorno inferior ao dos seus índices de referência nos últimos anos. A maior concentração do mercado limita as oportunidades de a gestão ativa demonstrar a sua capacidade na seleção de ações, tornando-se assim refém da manada. 

No entanto, também surgem algumas estratégias que podem beneficiar da volatilidade e da falta de cobertura, como as small caps. De acordo com a Morningstar, a história sugere que a liderança do mercado é instável ao longo do tempo, e um elevado nível de concentração pode indicar condições de mercado sobrevalorizadas que podem inverter-se se os fundamentais já não justificarem as elevadas valorizações.