Por ocasião da 16.ª edição Morningstar Awards, onde foram premiados fundos e gestoras que se destacam no nosso mercado, João Pratas, presidente da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP), levantou vários temas de relevo para a indústria de fundos nas palavras que dirigiu aos presentes.
Em primeiro lugar, o tema dos inducements ou retrocessões, uma prática normal na distribuição de fundos no continente europeu e que estão novamente em discussão. Os dois modelos europeus são muito distintos. Um funciona com base nas retrocessões, em grande parte o “modelo continental, e depois existem dois países que baniram completamente a possibilidade de retrocessões, que são o Reino Unido e a Holanda, onde apenas se pode cobrar ao cliente um “fee de advisory”, começou por mencionar. “Eu considero que deve haver uma reflexão muito profunda acerca da possibilidade de seguir o caminho destes dois países a nível europeu, tendo em especial consideração o risco de efeitos secundários adversos para o investidor e para a indústria”, acrescenta.
“Não ignorando o problema do conflito de interesses na distribuição de fundos, quando há uma retrocessão como incentivo, há um risco relevante de que, perante a proibição de retrocessões, possa haver uma área enorme do universo de clientes, especialmente aqueles com menos capital, que deixam de ter acesso aos produtos e serviços. Algo que alguns estudos já indicam que terá acontecido na Holanda e no Reino Unido”, indica.
João Pratas apontou que não será fácil obter conclusões muito precisas acerca do tema. Nomeadamente, conta que será difícil perceber se o custo é mais elevado num mercado com retrocessões. “Há indicações nos dois sentidos”, disse. “Deve haver por parte das autoridades uma análise aprofundada, sobre o que é do interesse da indústria e dos clientes”, alertou.
O elefante ESG na sala
Em segundo lugar, João Pratas levantou o tema do ESG. “É um tema particular, porque tem assunto para muita discussão”, comentou o presidente da APFIPP. Contudo, destacou um tema específico dentro do ESG: a informação que, na comercialização de produtos financeiros, se tem que fazer chegar ao cliente final e os cuidados a ter acerca do que este percebe sobre o que se lhe apresenta.
“Acho que no ESG tem que haver dois passos.O Primeiro é na origem, na regulação e taxonomia, onde tem que haver uma descodificação para os gestores. Essa descodificação pode ser, por exemplo, um rating. No entanto, depois, há que haver um segundo passo. Uma nova descodificação para os consumidores. Tem que haver uma nova resimplificação para que o cliente perceba a informação relativa ao ESG”, explicou.
“O que me preocupa é haver excesso de informação que tem que ser aferida ao nível das preocupações ambientais e de sustentabilidade do próprio investidor. Parece-me que poderemos estar a levar o tema longe de mais, no grau de informação que o cliente necessita de ter para tomar a sua decisão de investimento, correndo o risco de o afastar. Não será fácil encontrar uma solução, mas o caminho deveria passar por uma simplificação do processo”, disse.
Portugal como hub financeiro
Por fim, João Pratas deixou uma nota para os presentes na sala sobre o mercado português. Mais do que do mercado de fundos, o presidente da APFIPP falou sobre o mercado português como área financeira. “Temos técnicos fantásticos, temos escolas fantásticas, temos um país fantástico, temos uma população que fala lindamente idiomas e somos muito mais baratos do que certos hubs financeiros”, elencou. “Quero, assim, passar a ideia de que, sem dúvida, Portugal é um país muito interessante como base para desenvolver o negócio europeu. Alguns players relevantes estão já a seguir esse caminho”, concluiu.