Do mais recente Relatório Anual de Exposição ao Risco Climático, publicado pela ASF, destacamos os riscos de transição referentes às carteiras de dívida privada e ações dos setores segurador e de fundos de pensões nacionais. Mas antes, importa contextualizar, precisamente, o conceito de riscos de transição na esfera global dos riscos ESG.
Como a figura seguinte ilustra, os riscos de transição incluem-se nos riscos climáticos, que por sua vez integram os riscos ambientais. Diferem dos riscos físicos na medida em que estes estão relacionados com o impacto direto das alterações climáticas, enquanto os riscos de transição estão ligados às mudanças regulatórias, políticas públicas e tecnológicas associadas à transição para uma economia mais sustentável.
Para avaliar a exposição dos setores segurador e de fundos de pensões aos riscos de transição, são seguidas nesta análise, várias metodologias distintas. Uma delas é a Climate Policy Relevant Sectors (CPRS). Esta metodologia "permite identificar os códigos de atividade económica NACE (Classificação Estatística Nacional de Atividades Económicas) que são considerados como climaticamente relevantes", não incluindo "as tecnologias subjacentes às atividades das empresas". Nesta ótica, "o grupo de setores climaticamente relevantes inclui entidades que serão positiva e negativamente impactadas pelo processo de transição".
Outra das abordagens seguidas e também ilustrada neste artigo, é o cálculo de fatores de vulnerabilidade de transição (TVF). Tem por base o código NACE, também e procura medir vulnerabilidades relativas aos riscos de transição em função da intensidade de emissões de carbono. Importa referir que este indicador não presume uma "divisão entre setores de atividades sustentáveis e poluentes". Ou seja, a vulnerabilidade aos riscos de transição não indica, necessariamente, o alinhamento ou não com os desafios da transição.
Componente obrigacionista
Olhando especificamente para as carteiras de dívida privada dos setores referidos, a sua representatividade é maior nas empresas de seguros, excluindo unit linked, cerca de 30%, sendo de 15% nos unit-linked. Nos fundos de pensões apresentam uma representatividade de 16,4% das carteiras. Em matéria de sustentabilidade, de um modo geral, as carteiras de dívida privada destes setores encontram-se alocadas a ativos com níveis moderados de risco de transição para uma economia de baixo carbono.
De acordo com a metodologia CPRS, é nos unit-linked que se verifica maior alocação a setores referenciados com maior risco de transição, comparativamente aos restantes, com destaque para os combustíveis fósseis, por exemplo. Logo, em consonância, esta é a carteira que exibe maiores vulnerabilidades num cenário em que o risco de transição se materializa.
Componente acionista
Relativamente às ações, estas apresentam uma menor proporção em comparação com a dívida privada. Esta componente representa 5,8% e 1,7% das carteiras das empresas de seguros (sem unit-linked) e nos unit-linked, respetivamente. Quanto aos fundos de pensões, as ações correspondem a 3,9%. Nestes últimos, é onde a componente acionista está conotada em patamares de risco de transição mais elevados. Situação inversa nos seguros não unit-linked, onde os ativos acionistas se evidenciam como sendo os menos vulneráveis face à transição energética, com apenas 13,9% de alto risco de transição, segundo a metodologia TVFs.
Para ambas as carteiras, é importante ter em conta o princípio da proporcionalidade Ainda assim, estes dados não deixam de ser relevantes do ponto de vista informativo e ressaltam a importância de analisar a composição das carteiras de investimento em relação aos riscos de transição.
Score ambiental e rating ESG
Por fim, destacamos o score ambiental e o rating ESG dos grupos económicos inseridos nas carteiras de ações e dívida privada das empresas dos setores em análise. O primeiro, fornecido pela Bloomberg, mede a performance ambiental e o segundo, providenciado pela Sustainalytics, é "calculado através da identificação da exposição da empresa a riscos ESG materiais e da forma como esta os gere".
Nos seguros não unit-linked, a Fosun International Holdings é a que apresenta o melhor score da Bloomberg, o que indica uma boa performance ambiental, mas, ao mesmo tempo, o pior rating da Sustainalytics, indicando um nível de risco alto. Já nos unit-linked e fundos de pensões, o Banco Comercial Português é o pior classificado em termos de performance ambiental, sendo que o nível de risco medido pela Sustainalytics não é disponibilizado. Em ambas as carteiras, a EDP e a Caixa Geral de Depósitos são as entidades com menor exposição a riscos ESG. Quanto à performance ambiental, também a EDP lidera, sendo esse lugar divido, também, com a Galp nos unit-linked.