Rui Araújo, CFA: “Procura-se um bom equilíbrio entre diversificação e concentração e entre rentabilidade e risco”

Rui Araújo, CFA

Pertencente a uma equipa habituada a bons resultados, o BPI GIF Opportunities acabou por ser o fundo mais rentável do ano quando considerados os fundos de gestão nacional, inclusive os que estão  domiciliados no Luxemburgo. É o caso deste fundo. É gerido por Rui Araújo, CFA, e tem o seu berço na praça luxemburguesa. Mas mais importante do que tudo isso: foi um fundo que, taco a taco com outro congénere da casa (o BPI América), apresentou 36,4% de retorno ao mercado no ano de 2021. 

A dinâmica do fundo da BPI GA (Caixabank) não podia ser mais simples de entender. Este fundo de ações, como explica o gestor em entrevista à FundsPeople, “procura escolher empresas e negócios com vantagens competitivas sustentáveis que se traduzem em elevadas rentabilidades, estruturas de custo favoráveis que permitam obter margens elevadas, cash-flows previsíveis e balanços robustos”. 

Em 2021, Rui Araújo entende que a alocação setorial não teve um contributo particularmente favorável para o fundo. Isto muito embora tenham beneficiado do “maior peso em  tecnologia, que foi o segundo setor com melhor desempenho”, mas também do facto de não terem “nenhum título no espaço de utilities, que foi o pior setor em 2021”. 

Stock picking de sucesso

O segredo, conta agora o gestor, acabou por estar na “boa seleção em todos os setores”. Cita, por exemplo o da saúde, “onde existe o maior desvio ativo em termos setoriais”, e no qual recorda a boa performance de “alguns títulos da indústria de equipamentos médicos, que acabaram por ter uma boa recuperação em 2021”. Também o que apelida de um bom stock picking em farmacêuticas acabou por ser benéfico. Dá como exemplo a empresa dinamarquesa Novo Nordisk. “Viu o preço da sua ação subir 75,6%, acabando por ser um dos melhores desempenhos da carteira em 2021”, recorda o gestor. 

Num prazo mais longo, e considerando os últimos três anos, Rui Araújo tem de colocar na equação também as “as fortes valorizações das mega techs, Apple e Microsoft”, mas ainda a valorização de uma outra empresa tecnológica: a Intuit. “Desenvolve e comercializa software de suporte à contabilidade de pequenos negócios e finanças pessoais nos EUA, que esteve em carteira neste longo período e registou um retorno de 233,6%”, sublinha o gestor. 

Como vemos pelo exemplo de todas estas empresas mencionadas, o stock picking é um elemento fundamental da gestão. O profissional explica que no processo de investimento partem de um “universo alargado de empresas”, e “a componente de stock picking do processo tem como objectivo identificar de forma sistemática, as empresas que exibem as características já referidas. Posteriormente, constroem um portefólio diversificado “que evita o risco de concentração excessivo e avalia vários parâmetros, entre os quais a exposição a setores e a fatores de risco”. Trimestralmente, o processo volta a repetir-se depois da divulgação de resultados das empresas. 

Carteira estável 

Ainda que o produto mantenha “a flexibilidade necessária para ajustar e incorporar nova informação”, Rui Araújo especifica que o produto tem “uma filosofia de baixo turnover”. No ano passado, a alocação do produto acabou por ser “muito estável em termos de empresas, setores e geografias ao longo de todo o ano”. De resto, acabou por fazer jus à estabilidade que o gestor menciona algumas vezes. O fundo tem “a todo o momento” 50 títulos em carteira, com pesos semelhantes entre si e “distribuídos por vários setores, moedas e geografias”. O gestor resume: “Procura-se um bom equilíbrio entre diversificação e concentração, entre rentabilidade e risco, que permite diversificar vários riscos específicos das empresas assim como beneficiar da convicção no seu potencial de valorização, algo que se tem refletido no desempenho atrativo do fundo nestes três anos de estratégia”. 

Preferências para 2022

Para 2022, pouco muda. Nas palavras do profissional “a estratégia manter-se-á fiel à filosofia e às expectativas dos investidores do fundo”. A seleção de títulos continuará a ser portanto “um processo exclusivamente bottom-up, ou seja, que procura identificar as características já referidas em cada empresa”. Para Rui Araújo, “a preferência por grandes empresas com produtos e serviços difíceis de replicar, elevado valor intangível e que se traduzem num forte pricing power, deverá permitir passar parte da subida de custos para o consumidor no atual contexto de inflação”. 

Por outro lado, está também convencido de que “a forte geração de cash-flows combinada com elevada previsibilidade e os balanços robustos” fornecem às empresas da carteira “a flexibilidade necessária para transformar oportunidades em valor para o acionista, neste ambiente de incerteza e volatilidade”.