Várias gestoras internacionais analisam as principais nuances da ida às urnas no Brasil, mas também as implicações consoante a vitória de um ou outro candidato.
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As eleições no Brasil têm sido o reflexo de algumas reviravoltas. A primeira volta, que se seguiu a uma grande expectativa sobre Marina Silva, acabou por pôr fim à disputa da candidata do PSB. Dilma Rousseff e Aécio Neves ficaram na corrida e a “troca de bolas” vai continuar até ao próximo dia 26 de outubro. Depois da opinião dos gestores nacionais sobre o assunto, o que pensam as casas internacionais acerca da disputa entre a atual presidente e o candidato democrata? Que implicações pode ter a vitória de um ou outro? Qual a repercussão na bolsa e na economia do país?
Da Loomis Sayles, gestora do grupo Natixis Global Asset Management, Bianca Taylor, analista sénior de dívida soberana, reforça precisamente a noção de volte face no escrutínio do outro lado do Atlântico. “Contra todas as probabilidades, Aécio Neves está novamente no mesmo patamar que estava em julho deste ano”, constata. “Agora, no entanto, está 10 pontos percentuais acima do que esperava estar nas sondagens de julho. De forma a conseguir ganhar, ele vai necessitar dos votos de Marina Silva”, indica. Neste sentido, assinala-se que este “contra-ataque” da candidata ecologista já foi feito: justificando uma necessidade de se apostar no que apelida de “alternância de poder”, Marina declarou recentemente o seu apoio a Aécio Neves.
O ‘Modi’ canarinho?
Da gestora fazem uma comparação com as eleições da Índia. “Enquanto Marina não era o “Modi” que os mercados queriam, o Aécio é”, dizem, recordando que o candidato tem conduzido o Estado de Minas Gerais “muito bem”, tendo “cortado no seu próprio salário, nos exorbitantes ordenados dos trabalhadores públicos e na corrupção”.
Recuando até aos dias seguintes à primeira volta, realizada no dia 5 de outubro, a Pictet dava conta do que se podia apelidar de “um ar de samba”, traçando também uma perspetiva sobre o êxodo dos investidores brasileiros. Numa metáfora com o significado que Cesária Évora imprimiu ao conceito de saudade, os especialistas da gestora entendem que “desde que Lula abandonou o executivo em 2010, este é precisamente o sentimento dos investidores em relação ao Brasil, por causa das políticas intervencionistas de Dilma Rousseff”.
Colocando em cima da mesa dois cenários distintos, a gestora analisa, em primeiro lugar, a reeleição de Dilma Rousseff. “Acreditamos que a primeira reação de mercado pode ser um sell-off de curto prazo”. Apesar disso, acreditam que a atual presidente “irá fazer algo que demonstre que entendeu a decepção dos investidores e isso irá conduzir a um sentimento mais positivo entre os investidores estrangeiros”. Se o governo se alterar também da Pictet fazem um paralelismo com a Índia. “Tal como quando Narendra Modi foi eleito, a mudança de governo poderá conduzir a uma grande oportunidade de mercado”, indicam, colocando ênfase no facto de Aécio Neves estar a “propor uma visão alternativa para o desenvolvimento do país que será suportada pelos investidores que anseiam por uma mudança”.
Política macroeconómica vai mudar
Lionel Bernard, gestor do Amundi Funds Equity Brazil, da Amundi, pode dizer-se que está crente neste segundo cenário atrás descrito. “Se Aécio Neves for eleito esperamos que o mercado brasileiro volte aos níveis do final de setembro. Neste caso, os investidores irão antecipar os ajustes fiscais necessários que serão aplicados mais rapidamente do que num cenário de reeleição de Dilma”.
Qualquer que seja o desfecho, da Amundi acreditam que “a política macro-económica vai mudar, sendo o caminho das melhorias mais rápido se Aécio Neves for eleito, porque o factor confiança iria sair fortalecido”. Igualmente, Luiz Ribeiro, portfolio manager do Deutsche Asset & Wealth Management, fala numa “percepção geral de que os resultados vão ter um efeito binário na economia e na bolsa. Para além disso, “o Aécio está a prometer gerir as empresas do estado, de uma forma mais ortodoxa e essas mesmas empresas são uma importante fatia do mercado”.
Os impactos na bolsa, nos ativos e na região
Ao nível do impacto que as eleições do Brasil podem ter também nas classes de ativos, da Amundi dizem acreditar que “a performance das ações latino-americanas vai passar a depender mais da sua atratividade devido à baixa valorização relativa. Irá depender também mais do declínio do prémio de risco do que do crescimento dos lucros”. Do Deutsche AWM, o especialista vislumbra também uma grande importância dos resultados no mercado de ações. “Se vencer o candidato que o mercado considera mais favorável, o mercado brasileiro pode reajustar o seu preço, tal como o México fez quando se tornou claro que seria possível serem implementadas uma série de reformas”.
Da J.P. Morgan Asset Management são notados já alguns ajustamentos por parte dos investidores perante as eventuais mudanças no Executivo. Prova disso é que na passada segunda-feira “o Bovespa encerrou em alta nos 4.7%, enquanto o Real valorizou cerca de 1% face ao Dólar americano”. No entanto, tendo em conta as duas semanas de incertezas que se avizinham, “é provável que a volatilidade permaneça elevada neste período de preparação da segunda volta”. Para os investidores de longo prazo o “conselho” é simples: “eles devem olhar para lá do momentum que esta eleição representa. Devem sim considerar investir no Brasil como um tema de longo prazo, onde a demografia é um factor favorável, bem como a crescente classe média”.
Se no curto prazo as implicações para o mercado brasileiro são ainda uma incógnita, no longo prazo também Alex Duffy, co-gestor do FF Latin America Fund, da Fidelity Worldwide Investment, mostra a sua confiança de que “a história brasileira de desenvolvimento estrutural continua intacta a muito longo prazo”. Olhando para o peso pesado que o Brasil representa, o gestor assinala que o futuro do país terá influência na economia latino-americana como um todo; mas não tão significativamente ao nível de cada país individualmente”.