A queda dos mercados reflete uma combinação de fatores internos e externos, como os dados de emprego dos EUA e até a subida das taxas por parte do Banco do Japão na semana passada. Os especialistas afirmam que a Fed tem de agir em setembro.
A semana começou com quedas significativas nos mercados. Após os últimos dados de emprego dos EUA divulgados na sexta-feira, alguns investidores deram um passo atrás perante receios de uma recessão nos EUA, o que poderá afetar outros ativos financeiros, como os criptoativos, com o Ethereum e a Bitcoin acima dos dois dígitos.
A Ásia registou quedas significativas, recordando um dos piores dias para o Nikkei 225 (-13,47%) desde a Segunda-Feira Negra de 1987, quando perdeu cerca de 3.836 pontos percentuais (hoje perdeu cerca de 4.451 pontos percentuais). Esta queda gerou preocupação nos mercados asiáticos, que caíram entre 3%, para o S&P AXS 200, e 11% para o Kospi 100. Na Europa as quedas são inferiores a 5%, enquanto os futuros norte-americanos apontam para uma abertura em terreno negativo.
Primeiras reações
“Os dececionantes resultados trimestrais publicados por alguns gigantes tecnológicos, como a Alphabet, a Intel e a Amazon, e os dados do mercado de trabalho norte-americano, muito abaixo do esperado”, são os argumentos apontados por Filippo Diodovich, estratega sénior da IG Italia. O estratega acrescenta que considera que a Fed pode ter subestimado os efeitos negativos de manter as taxas de juro em níveis elevados durante muito tempo, reforçando que “não descartamos a possibilidade de que um período prolongado de instabilidade nos mercados de ações possa também levar a Fed a convocar o FOMC para uma reunião extraordinária para reduzir as taxas em 25 pontos base”.
Por sua vez, Andrew Jackson, diretor de Obrigações da Vontobel, alude aos fracos dados de emprego, assinalando que os mercados permanecem, em geral, em máximos ou perto deles, pelo que a gravidade da correção permanece pouco clara. “As obrigações corporativas permanecem bem isoladas do choque de mercado, pelo que as possíveis saídas, que podem ser um catalisador para novas descidas em mercados já sob pressão, deverão ser moderadas, e vemos mesmo a possibilidade de se produzirem entradas”.
Há ressalvas nos dados de emprego
Tiffany Wilding, economista da PIMCO, analisa em pormenor os dados de emprego e comenta que "embora os principais valores tenham sido mais fracos do que o esperado, existem ressalvas que indicam que a economia norte-americana ainda não entrou em colapso total". Acrescentando ainda que "o furacão Beryl no Texas e a incapacidade de os fatores sazonais se ajustarem totalmente às contratações sazonais também contribuíram provavelmente para o ruído".
A economista acrescenta que o aumento da taxa de desemprego ocorreu sem uma queda notável do nível de emprego, o que sugere um aumento da oferta de mão de obra. A economista conclui que a criação de emprego nos EUA abrandou para 114.000 postos em julho e a taxa de desemprego subiu para 4,25%, aproximando-se da regra de Sahm, um indicador fiável de recessão, o que "consolida um corte das taxas por parte da Fed em setembro e aumenta o risco de a Fed rever a sua previsão para sinalizar um ritmo mais rápido de cortes no futuro".
Os investidores continuam atentos a quaisquer anúncios dos bancos centrais, daí a importância do simpósio de política económica, conhecido como Jackson Hole, que se irá realizar em meados de agosto, que poderá trazer mais alguma luz.