Num pequeno-almoço em parceria com a DNB AM foram abordados os muitos desafios que os investidores institucionais ainda enfrentam para integrar estes critérios nas suas carteiras, e o álibi parece ser a regulação.
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O investimento com critérios ESG é uma questão ainda envolta em alguma incerteza e as opiniões sobre o tema divergem. Há quem considere que se deve receber este tipo de investimentos de braços abertos, e há quem ainda mostre alguma relutância devido às diferentes interpretações que a sigla permite, mas sobretudo devido ao que apelidam ser uma regulação pouco clara.
Num pequeno-almoço promovido pela FundsPeople em parceria com a DNB Asset Management, falou-se precisamente de investimentos sustentáveis, em particular da transição energética e dos muitos desafios que os investidores institucionais ainda enfrentam para integrar estes investimentos nas suas carteiras.
Para André Almeida, especialista em Soluções de Investimento da Santander AM, a falta de regulação abre a porta ao greenwashing e apresenta-se como uma das maiores dificuldades do investimento sustentável. “A regulação ainda não tem métricas ESG bem definidas, o que deixa ao critério de cada casa de investimento criar as suas próprias métricas, e obviamente, isto também permite que cada empresa possa compor e até maquilhar os seus números dando-lhes uma componente ESG”, explica. Na mesma linha, Mikko Ripatti, responsável pela sucursal do Luxemburgo da DNB AM, acrescenta que há “uma carência de padronização a nível regulatório”, fazendo falta uma “linguagem universal”.
Também Jorge Silveira Botelho, responsável pela BBVA Asset Management Portugal, considera a regulação “o elefante na sala”. “A regulação está longe de estar estabilizada e simplificada, talvez por isso ainda tenha um cariz algo hermético, desvinculando a sustentabilidade das populações, o que não faz sentido. Porque na realidade o propósito da sustentabilidade é inato, na medida em que o que está em causa é satisfazer as nossas necessidades, mas simultaneamente garantindo os recursos suficientes para que as próximas gerações também tenham a capacidade de satisfazer as suas necessidades”, comenta o profissional. Já Pedro Barata, diretor de Investimentos na ASK Gestão de Patrimónios, considera que “é um desafio conseguir implementar o que é decidido a nível europeu”, o que por vezes pode levar a um afastamento deste tipo de investimentos.
Da mesma forma, as eleições americanas e a chegada de Trump à Casa Branca são um ponto de incerteza extra para o tema, nomeadamente em termos regulatórios. Como refere André Almeida, os Estados Unidos provavelmente deverão deixar cair alguma da regulação associada à sustentabilidade e a Europa deverá mantê-la. Para o especialista, será importante perceber em que patamar ficam os investimentos na Europa, e como é que vão conseguir comparar com os investimentos nos Estados Unidos, não só em termos de sustentabilidade, mas também de rentabilidade. “O maior desafio é encontrar investimentos que sejam sustentáveis e rentáveis ao mesmo tempo”, sublinha.
Curto prazo desilude
Outro aspeto realçado pelos profissionais presentes neste encontro foi a rentabilidade dos investimentos ESG. A tarefa de explicar ao cliente, que anseia por resultados imediatos, que os retornos a curto prazo podem não ser o reflexo do potencial a médio e longo prazo, nem sempre é fácil. Isto faz com que, por vezes, “vender sustentabilidade” seja mais complicado do que pode parecer.
Jorge Silveira Botelho revela que a sustentabilidade tem associado algo que considera muito importante: a previsibilidade. “Por um lado, existe uma maior previsibilidade dos meus cashflows, porque no fundo estou a interagir diretamente com uma determinada empresa e sei que esta não depende só da gestão, há uma estratégia por trás, e, portanto, à partida vou estar a investir com menor risco no médio e longo prazo. Vou apostar numa coisa que sei que vai ser sustentável e que me vai permitir ter uma maior previsibilidade, mas, ao mesmo tempo, isto não quer dizer que vou ter mais retorno no curto prazo”, comenta.
Mikko Ripatti, concorda que existe uma pressão relativamente aos retornos quase imediatos. “O interesse pela sustentabilidade aumentou e começou-se a falar do tema e a investir mais. Porém, o contexto económico nos últimos anos, com a subida da inflação e o aumento do custo do dinheiro, fez com que muitos dos projetos ficassem menos interessantes. Para muitos investidores houve uma deceção em relação aos retornos do setor”, explica. Contudo, o profissional da DNB AM está esperançoso quanto ao futuro. “Estamos a caminhar numa boa direção. Acho que os retornos a longo prazo serão bons”, enfatiza.
Na mesma linha, Pedro Barata comenta que um desafio para quem gere “é conseguir compatibilizar os objetivos de retorno e as restrições fiduciárias. No fim do dia um cliente quer resultados”. E acrescenta: “Somos avaliados pelo que produzimos em termos de retorno face ao que o mercado produz, e isso muitas vezes pode levar-nos a apostar em produtos ou posições não ESG com a esperança de ter retornos compatíveis com o mercado”.
Gestão ativa ou passiva: para que lado pende a balança?
A resposta a esta pergunta não é linear. Se por um lado, os profissionais elogiam a gestão passiva, não deixam de valorizar a gestão ativa e a adaptabilidade que esta permite. O segredo, dizem, está no equilíbrio.
Para Pedro Barata, a escolha entre gestão ativa ou passiva no campo do ESG tem muito a ver com o know how interno da sociedade gestora. “Se tiver know how e capacidade para procurar alfa, obviamente vou optar pela gestão ativa; caso contrário, vou replicar um índice de gestão passiva que já tem exposição. As duas formas de investir são viáveis. É um equilíbrio”, argumenta.
André Almeida, por outro lado, menciona que nos investimentos sustentáveis, “a gestão ativa é mais importante porque permite rapidamente adaptar os portefólios a eventuais adversidades que possam surgir”. A gestão ativa facilita, explica, “encontrar focos, onde a sustentabilidade não está completamente à vista” “Há empresas que podem não ter o carimbo ESG, mas que têm práticas que podem ser, no futuro, sustentáveis”, assinala, referindo que “esta capacidade de adaptação é de extrema importância”.
Do mesmo modo, Mikko Ripatti comenta que “a gestão ativa tem vantagens comparada com a gestão passiva”. Para o responsável ibérico da DNB AM, “a gestão ativa consegue aproveitar melhor as novas empresas, as novas tecnologias, as novas tendências no mercado, enquanto a gestão passiva olha um pouco em retrospetiva”. Contudo, “com tanta incerteza e falta de padronização no mercado, este labor exige muito tempo e recursos dos gestores”, esclarece.
Também Jorge Silveira Botelho considera que “o investimento passivo tem o seu espaço” e “vai ser sempre muito importante na gestão dos portefólios”. Porém, “a gestão ativa aliada à tecnologia pode dar uma oportunidade de ouro aos gestores e será algo importante nos próximos anos, sobretudo se considerarmos que a materialização financeira dos fatores ESG, vai ser uma fonte potencial de geração de alfa nos portefólios no futuro”, conclui.