Setor segurador e de fundos de pensões parece ainda subvalorizar as finanças sustentáveis e alterações climáticas

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Verdadeiramente empenhada em estudar o impacto da ação climática nas entidades que regula, a ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) questionou as empresas de seguros e fundos de pensões sobre o assunto.

Depois de olhar para as carteiras das seguradoras percebendo a sua dimensão climática, e os riscos comportados a esse nível, a ASF mostrou também os resultados de um inquérito feito às próprias entidades, e que tem por base a primeira edição de um questionário realizado às entidades seguradoras e gestoras de fundos de pensões, para este efeito, no decurso do segundo semestre de 2021.

Conclusões que podem ser encontradas no último Relatório de Estabilidade Financeira do Setor Segurador e dos Fundos de Pensões publicado recentemente. E uma coisa fica clara para a ASF: as entidades questionadas parecem ainda subvalorizar o papel das finanças sustentáveis e alterações climáticas.

A avaliação prospetiva que a ASF fez contempla várias dimensões específicas: (i) práticas e carteiras de investimento; (ii) aceitação e transferência de riscos, e comercialização de novos produtos; e (iii) sistema de governação e transparência. As quatro questões centrais são as apresentadas abaixo do lado esquerdo do heatmap. Como visível, as respostas são classificadas em cinco patamares distintos. À direita do heatmap são considerados os dados agregados por segmento de mercado.

Finanças sustentáveis: relevância moderada a elevada

A maioria das empresas de seguros e de fundos de pensões considera as finanças sustentáveis e alterações climáticas um fator de relevância moderada a elevada para a cadeia de valor do negócio (69%). Se olharmos para os dados de forma individual, vemos mesmo que são duas as entidades do ramo vida que consideram este tema de elevada importância. Em termos de percentagem, a ASF aponta "a expectativa de um número reduzido de entidades (8%), que consideram esta matéria como um fator disruptivo no paradigma dos seus negócios".

Segundo a ASF, são três as principais componentes da cadeia de valor que os questionados apontam como mais prováveis de serem impactadas pelas finanças sustentáveis e alterações climáticas: o modelo de governação e definição do apetite de risco incluindo considerações ESG, a performance da carteira de investimentos, e a conceção de novos produtos de cobertura seguradora (inclusivamente na promoção da mitigação e adaptação climáticas - impact underwriting).

Pouca ou nenhuma sensibilidade nas carteiras

Quando questionados sobre o impacto destes temas na sensibilidade das carteiras, os questionados não parecem preocupados. A ASF adianta que a maioria dos questionados considera que "a sensibilidade das suas carteiras de investimentos à temática em discussão é relativamente baixa ou inexistente (58%), sendo que 27% manifestam não ter efetuado qualquer avaliação". Para a ASF fica claro o seguinte: "Esta situação tende a refletir uma forte sub-valorização e/ou desconhecimento da relevância do tema em apreço".

No que diz respeito às responsabilidades, "cerca de 45% das empresas afirma que a sensibilidade das suas carteiras de responsabilidades à temática é reduzida ou baixa".

42% considera necessidade de ajuste reduzida das carteiras

No que respeita o último ponto do heatmap, ou seja, o contexto da necessidade de ajuste do sistema de governação e das práticas de transparência das seguradoras e gestoras de pensões, em virtude dos requisitos associados às finanças sustentáveis e alterações climáticas, 27% das entidades revelam não ter conduzido qualquer avaliação.

Por outro lado, 42% considera existir uma necessidade reduzida ou baixa de ajuste, enquanto que 31% definem o grau de necessidade de ajuste como médio ou elevado.

A ASF revela também que a maioria dos questionados entendem que o principal driver da sua preparação para o tema das finanças sustentáveis e alterações climáticas é o facto de estarem inseridos num grupo económico europeu/internacional. Por outro lado, 30% diz servir-se da importância da "alocação de recursos internos, ou em desenvolvimentos de entidades terceiras".

Estado embrionário

Como começámos por referir, a tónica salientada pelo regulador é a da subvalorização da temática em análise. Nas palavras da ASF, "verifica-se uma tendência global de subvalorização da relevância dos desenvolvimentos conexos com as alterações climáticas".

Contudo, a ASF releva também o facto de as entidades inquiridas se encontrarem ainda "em estado embrionário quanto ao nexo entre as carteiras de responsabilidades/riscos assumidos e a temática em estudo", como visível nalgumas conclusões já descritas acima.