Após um primeiro trimestre de lucros, os mercados estão a abrandar um pouco. As gestoras internacionais mostram-se otimistas.
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Os mercados mundiais de ações subiram consistentemente nos três primeiros meses do ano, mas em abril registaram oscilações significativas devido ao balde de água fria (pelo terceiro mês consecutivo) dos dados de inflação nos EUA, que levam a considerar um adiamento do corte de taxas por parte da Fed para a segunda parte do ano, embora haja quem se aventure até a dizer que chegará apenas em 2025.
A yields das obrigações continuam com uma certa tensão, embora um pouco menos do que após o ataque do Irão. As matérias-primas voltaram a recuperar terreno, com o ouro a aproximar-se novamente dos 2.400 dólares e o Brent a rondar aos 90 dólares por barril.
Tudo isto a meio da temporada dos resultados empresariais, com as expetativas de que as empresas (não só as tecnológicas) vão cumprir as previsões dos analistas. Cabe ter em conta que a média de 12 semanas do índice Earnings Revision da Citigroup teve uma tendência ascendente, o que indica uma melhoria das perspetivas de lucros que pode dar um impulso ascendente ao mercado de ações.
Crescimento global estável e inflação a moderar-se
O foco continua a ser o crescimento económico e a postura dos principais bancos centrais, especialmente a Fed. Segundo as últimas estimativas do FMI, o crescimento global manter-se-á estável, à volta de 3,2% neste ano e no próximo, enquanto a inflação continua a moderar-se.
Reconhece-se que os desafios continuam a ser: a) uma inflação não totalmente contida; b) a carga da dívida continua elevada; c) as perspetivas de crescimento a cinco anos continuam débeis; d) os países de baixos rendimentos continuam marcados pela pandemia e pela crise do custo de vida; e e) as alterações climáticas requerem um grande investimento mundial.
O que dizem as estatísticas respetivas a abril?
Desde 1945 que os meses de abril e dezembro são considerados os meses de melhor desempenho para os mercados de ações, com um retorno médio de 1,6%, segundo a Reuters. Além disso, os resultados positivos de abril podem ser ainda mais pronunciados em períodos recessivos.
Por exemplo, a meio da Grande Recessão em 2008 e 2009, no mês de abril, foram alcançados retornos de 4,8% e 9,4% respetivamente, e após a pandemia, em abril de 2020, a recuperação foi enorme, com lucros de 12,7% para o S&P. Claramente, os consultores não baseiam as suas estratégias na sazonalidade ou em tendências históricas.
Qual é a postura das gestoras?
Como vimos no Fund Manager Survey de abril do BofA, os investidores estão mais otimistas desde janeiro de 2022, justamente quando o catalisador da descida de taxas deixou de ser uma certeza, levando os mais otimistas a afirmar que não há nada mais saudável do que uma correção. Alguns especialistas consideram que podemos esperar novos aumentos, enquanto outros decidem adotar uma posição mais conservadora nas ações.
Para os especialistas da Federated Hermes, a mudança de rumo dos bancos centrais continuará a ser um motor do mercado a médio prazo. “Mas esperamos novos aumentos do mercado a curto prazo devido a este aumento repentino da volatilidade”, assinala Vicent Benguigui, gestor sénior de Crédito, enquanto Lousie Dudley, gestora de Ações Globais da mesma casa, considera que “os sólidos balanços e o histórico de crescimento razoável são oportunidades significativas neste contexto”.
Com um contexto de volatilidade como o atual, a equipa de gestão da estratégia mista defensiva Echiquier ARTY SRI da Financière de l’Echiquier decidiu adotar uma abordagem prudente, limitando a exposição às ações. “Apesar dos sucessivos recordes, adotámos uma abordagem conservadora em ações com o objetivo de reforçar o nosso viés favorável para as obrigações”, aponta a equipa gestora.
Com um cenário base de aterragem suave, Álvaro Antón, responsável da abrdn para a Península Ibérica, comenta que continuam positivos em relação às ações e às obrigações devido à melhoria das perspetivas macroeconómicas de cortes de taxas e ao apoio do setor tecnológico. Esse otimismo é mais acentuado nas ações de mercados desenvolvidos, e moderaram a sua opinião negativa respetiva aos mercados imobiliários diretos.
Para a gestora independente alemã, a DJE Kapital, de olho na Fed, “se não ocorrer uma recessão na próxima correção das taxas de juro, os mercados de ações poderão continuar a subir”. E acrescentam que, atualmente, não esperam uma queda massiva dos mercados, podendo melhorar a amplitude dos mercados nos próximos meses, sendo beneficiados os setores de valor clássicos, como o automóvel e o de matérias-primas e energia, estando o ouro e o Japão interessantes.