Três visões acerca da adequação da gestão ativa e conselhos para uma seleção adequada

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A baixa volatilidade atual e a elevada valorização de obrigações e ações, voltam a dar vida ao debate sobre os benefícios de uma gestão ativa versus gestão passiva. “Nos próximos anos haverá mais dispersão entre os gestores do que no ano passado”, prevê Vianney Hocquet, gestor de crédito da Pioneer Investments. Hocquet acredita que, de facto, já se começa a observar esta dispersão: “Atualmente, podemos ver que alguns gestores têm a reflação como cenário central, mas existem outros que têm optado por se posicionar longos em duration”.

“No ano passado, a diferença de rentabilidade esteve condicionada, em grande parte, pela quantidade de beta que se tinha em carteira. Acredito que este ano será bastante interessante; no final do ano vamos ver quem tem razão, mas deve existir mais dispersão”. Portanto, “este é o momento para gerar alfa no lado macro”.

“Estamos num ambiente de incerteza extrema, em que é provável que a volatilidade esteja em alta. É muito importante selecionar gestores de fundos que reconheçam isto no seu portefólio”, disse Ben Leyland, gestor da JO Hambro. Esta boutique tem-se destacado pela sua especialidade em investimento de ações com inclinação value ou blend. Neste contexto, Leyland afirma que “os melhores gestores sabem mover-se em ambientes voláteis, e podem usá-los para criar valor, sempre que pensem no valor intrínseco do negócio que estão a comprar, que sejam seletivos, pacientes e com mente aberta”.

Quando se compra um fundo, não se investe nas posições efetivas do fundo, mas sim na experiência do gestor e na sua habilidade para adaptar o portefólio quando as circunstâncias mudam”, concluiu o especialista.

Wim-Hein Pals, chefe de ativos de mercados emergentes da Robeco, também destaca a necessidade de uma abordagem de gestão ativa para investir em ativos emergentes. Dá, ainda, um exemplo do modus operandi da sua empresa: “Não temos investimentos em muitos países que estão no Índice MSCI Emerging Markets, como a Turquia, Chile ou Filipinas. Através da gestão passiva, investiríamos em todos esses países com fundamentais bastante negativos. É por isso que acreditamos que é fundamental estar primeiro nos países certos, e depois proceder à seleção de valores”.

Conselhos para investir em gestão ativa

A Henderson elaborou, recentemente, um relatório que reflete aquilo que os gestores ativos podem trazer para criar valor para os seus clientes. E identificaram três razões: em primeiro lugar, e graças a uma abordagem seletiva, “podem detetar empresas inovadoras e bem geridas, e sobreponderar os emitentes que acreditam que vão alcançar excelentes resultados no futuro”. Em segundo lugar, porque “podem reagir e antecipar a evolução de problemas de investimento, alterando as suas ponderações em setores e classes de ativos”. E, finalmente, porque em tempos difíceis para os mercados, “podem evitar áreas com perspetivas de deterioração, o que ajuda a proteger o seu capital”.

A empresa identificou mais tendências de gestão ativa que podem ser desenvolvidas no futuro, começando pela questão das comissões: consideram que é provável que no futuro “os gestores ativos tenham que lidar com exigências cada vez maiores para demonstrar o valor que oferecem aos investidores finais, e como é que isso justifica os honorários que cobram”. Esta exigência poderá traduzir-se em “comparações de rendibilidade mais detalhadas com concorrentes com abordagens passivas, semi-ativas e ativas”, bem como “comparações dos serviços adicionais incluídos nas tais comissões fornecidas aos investidores finais”.

A segunda tendência está relacionada com os investimentos sustentáveis: “Dado que são cada vez mais populares, os gestores de ativos poderão assistir a um aumento da procura de carteiras com tipos de investimento socialmente responsáveis, que refletem determinados valores”.

Também se poderá observar no futuro “um aumento do controlo da adequação de abordagens passivas no caso de determinados investidores finais”. Referem que, dado que os gestores ativos têm margem para modificar as suas posições no portefólio para beneficiar dos períodos de volatilidade, “pode ser que o custo seja maior para os investidores finais, que não se sentem confortáveis em fazer previsões complicadas relativamente ao melhor momento para investir”.

A partir dos dados disponibilizados pela Morningstar Direct, especialistas do Capital Group realizaram uma análise para detetar os fundos de gestão ativa que geraram retornos superiores ao índice ao longo do tempo. Estes pesquisaram, simplesmente, por produtos com TER baixo e nos quais o gestor investiu uma grande quantidade do seu próprio dinheiro. “Filtrámos toda a base de dados da Morningstar com fundos de ações norte-americanas de grande capitalização que estiveram no primeiro quartil pelo TER mais baixo, e os do primeiro quartil com maior investimento próprio dos gestores. Os fundos da interseção destas duas variáveis compõem o grupo de Ativos Selecionados que, em média, geraram maiores resultados quando comparados com o índice ao longo do tempo”. A conclusão, à qual chegou a empresa, foi de que os investidores devem “utilizar factos para identificar os fundos de Ativos selecionados”.

Outra parte do estudo da Capital Group centrou-se nos resultados recorrentes de todos os fundos ativos: a sua observação revela que “o mito da superioridade versus o índice transformou-se num dogma”, no sentido em que apenas um terço dos gestores conseguiram superar os seus índices de referência nos 12 meses anteriores a 30 de junho de 2016, enquanto que apenas 24% conseguiu bater o índice num período de dez anos. Por outro lado, os fundos classificados como Ativos Selecionados (que incluem as duas variáveis citadas) foram capazes de superar o índice na maioria dos períodos estudados, numa média de 55% das vezes, que aumentou para 89% se o período for reduzido para dez anos.