Update do Amundi Funds Emerging Markets Bond: favorecendo exportadores de matérias primas e China

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Ray Jian e Yerlan Syzdykov Créditos: Cedidas (Amundi)

A economia mundial está a desacelerar, embora ainda esteja por ver se as grandes economias cairão numa recessão. Na opinião de Ray Jian, co-gestor do Amundi Funds Emerging Markets Bond, nos Estados Unidos as probabilidades ainda estão em cerca de 50%. Embora se chegarmos a uma contração no crescimento norte-americano, será pouco profunda, acredita. Na Europa, por outro lado, a situação é mais complexa devido à crise energética. Em forte contraste com os países desenvolvidos, no entanto, movem-se os emergentes.

Em obrigações, os fundos de dívida de países emergentes sofreram saídas, como o resto da categoria. Na opinião de Jian, isso responde mais aos temores por causa das subidas de taxas da Fed, uma guerra inesperada na Ucrânia e uma nova onda de confinamentos na China. "Foi quase como uma tempestade perfeita", descreve o co-gestor deste fundo com Rating FundsPeople da Amundi.

Agora a situação está a mudar. Se nos países desenvolvidos os obstáculos se estão a amontoar, nos emergentes as grandes nuvens estão a dissipar-se.

China emerge da incerteza

Outro exemplo perfeito dessa mudança de tendência é a China. Tanto as ações como as obrigações do país asiático têm estado sob pressão por causa de uma sucessão de fatores negativos. Agora, no entanto, estes ventos contrários estão a reverter-se, como assinala Ray Jian. O país está a sair de uma nova ronda de confinamentos por causa da COVID-19, o que já se deixa notar na sua economia. "Os últimos dados do PMI da China já mostram uma forte recuperação na atividade. Estão a subir com força as vendas de carros e residências", sublinha o gestor.

Além disso, a China encontra-se no outro lado da balança política. Tanto a política fiscal como a monetária agora caminham para uma postura acomodatícia. Na verdade, o país recentemente anunciou uma nova ronda de estímulos no valor de 12.000 milhões de dólares.

Explorando os exportadores de matérias-primas

Uma segunda tendência importante que destaca Jian é o que está a ocorrer com os preços das matérias-primas. Justamente quando nos sentámos com o gestor o crude encadeava vários dias de forte correção, mas na sua opinião a tese de preços mais elevados mantém-se. "O petróleo está a cair, mas há que ter claro que isso acontece a partir de níveis muito elevados. A realidade é que os problemas no fornecimento são estruturais", defende.

Como bem recorda, vimos de anos de uma falta de investimento crónica em infraestruturas energéticas. "O que muitos esquecem é que embora hoje mesmo se aprovem projetos para sanar essa falta de investimento, demorariam no mínimo três anos (e em média cinco) para se ver um aumento da produção", reconhece o gestor. Por isso, argumenta, os preços das matérias-primas continuarão altos no médio prazo.

Estes dois ventos a favor, a recuperação da China e os elevados preços das matérias-primas, são as duas grandes temáticas que se estão a refletir no posicionamento do Amundi Funds Emerging Markets Bond. Na carteira estão lentamente a aumentar o risco perante valorizações agora mais baratas, reconhece Jian. Atualmente, descreveria a sua postura como barbell. Veem valor em high yield, mais concretamente naquelas regiões que veem a ter uma balança comercial positiva. Assim, estão sobreponderados em dívida sul-africana, México, Arábia Saudita e Mongólia. Pelo contrário, estão subponderados em emissões da Turquia e Quénia.

Setorialmente, estão a apostar nos produtores e exportadores de matérias-primas, mas via emissões corporativas. Na verdade, o gestor vê em melhor posição a dívida das empresas, que se desalavancaram mais do que os governos. Assim, estão sobreponderados em corporativas com rating B.

Um grande risco: uma recessão nos Estados Unidos

Mas este tom otimista de Ray Jian tem ainda um pé sobre o travão. Para o gestor, o grande risco atual é uma recessão nos Estados Unidos, já que traria uma correção generalizada nos ativos de risco, como a dívida emergente.

Pelo contrário, a força do dólar não é algo que preocupe especialmente o gestor neste momento. Pelo menos não como um risco estrutural para toda a classe de ativos. "É um cenário distinto do de 2013", afirma. Nesse ano nasceu o conceito dos Fragile Five para descrever o problema com os déficit de conta-corrente, que deixaram o Brasil, Índia, Indonésia e Turquia numa posição muito delicada. Agora, assegura Ray Jian, a vulnerabilidade face ao dólar vem do lado do incremento no custo de financiamento da dívida.