As taxas de juro têm sido o principal motor dos fluxos para fundos monetários e de ultracurto prazo. E, na opinião de Thomas Prince, diretor de Obrigações Globais da Groupama AM, o contexto de mercado vai continuar a ser um vento favorável para o segmento.
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A liquidez tem reinado durante praticamente os últimos três anos, mas o que talvez poucos esperavam era que por tanto tempo. As taxas de juro têm sido o principal motor dos fluxos para fundos monetários e de ultracurto prazo. No início do ano, as previsões apontavam para uma viragem do ciclo de taxas em 2024 e para um pico do cash. Esta segunda parte cumpriu-se, com a primeira descida de taxas por parte do BCE, mas, na opinião de Thomas Prince, diretor de Obrigações Globais da Groupama AM, não estamos perante um ciclo monetário típico.
Segundo o cenário base da equipa, o nível das taxas de juro vai continuar elevado durante muito tempo. Assim, preveem apenas três cortes no horizonte da Fed e do BCE. “É uma tese que temos vindo a defender desde o início do ano, pelo que, durante meses, contrariámos o consenso, que, em janeiro, descontava até sete descidas de taxas”, reconhece. O mercado aproximou-se das expetativas da Groupama AM para 2024, mas Thomas acredita que ainda há demasiado otimismo com a política monetária de 2025.
Uma inflação estruturalmente mais elevada
A tese de Thomas Prince e da sua equipa de Obrigações Globais da Groupama AM cimenta-se sobre as suas perspetivas de inflação. Na sua opinião, encontramo-nos numa Era completamente diferente da da década passada em relação às dinâmicas de preços. “Pensemos nas tendências demográficas, no investimento necessário para a transição energética, na escassez de capital… tudo isso é inflacionário”, afirma o especialista. É passar de um contexto estruturalmente deflacionário para outro estruturalmente inflacionário.
Em concreto, a gestora francesa acredita que a inflação vai manter-se nos níveis de 3-3,5% nos próximos anos. “De facto, atualmente, o tail risk da inflação é elevado. Pode eclodir um conflito geopolítico que pressione os preços das matérias-primas”, argumenta o especialista. Se o seu cenário se realizar, isso significa que os bancos centrais dos países desenvolvidos não têm muita mais margem para baixar as taxas sem voltarem a levar o nível neutro das taxas para um terreno negativo.
Implicações para os fundos monetários e de ultracurto prazo
Este contexto macroeconómico tem implicações profundas para a construção de carteiras. As descidas de taxas auguravam o declínio dos fundos monetários e dos fundos de dívida de ultracurto prazo a favor de ativos de maior risco. Mas o que reparam na Groupama AM é que as taxas continuam elevadas e a liquidez continua a oferecer retornos aceitáveis e que estes fundos estão a assumir um papel mais estrutural das carteiras com um perfil de risco conservador. “Da forma como a curva está atualmente invertida, não compensa adotar durações mais longas”, sublinha. “É uma mera questão de rentabilidade/risco”.
Por isso, a gestora francesa defende que o momentum mantém-se para a categoria de fundos. “Tivemos sucesso com os nossos monetários e fundos de ultracurto prazo quando as taxas estavam a zero, pelo que, como agora estão elevadas, não vamos mudar o nosso discurso”, insiste o especialista.
Gerar alfa em obrigações de ultracurto prazo
Pelo menos até agora em 2024, não se identifica qualquer abrandamento no apetite por monetários e dívida de ultracurto prazo. Até agora este ano, o escritório da Península Ibérica e América Latina da Groupama AM captou 700 milhões de euros. Desses dados, uma parte significativa corresponde a este segmento, o que já foi um motor importante de crescimento da gestora no ano passado.
Parte disso deve-se ao momentum na classe de ativos, mas outra parte igualmente relevante é a proposta individual da Groupama AM. Ou seja, há uma equipa gestora por detrás do Groupama Ultra Short Term Bond. Uma equipa que analisa e monitoriza o risco de crédito, de duração e de liquidez de cada emissão que entra em carteira. “Estamos atentos a fatores como as decisões de liquidez que os bancos centrais tomam, ou fixamo-nos no mercado de repos (contratos de transação de um ativo com pacto de recompra), que nos dá bons sinais sobre a pressão descendente. É tudo fundamental, pois é importante saber o que está a acontecer no mercado”, afirma.
Lançado em 2024, o mandato do Groupama Ultra Short Term Bond permite-os investir em crédito investment grade de até três anos de vencimento. O ponto ideal, conta Thomas Prince, é ter um rating médio da carteira de A- e cerca de um ano de duração. E, na sua opinião, só a gestão ativa e dinâmica justifica a consistência da rentabilidade da estratégia. “Todas as manhãs, levantamo-nos e perguntamo-nos: estamos a ser recompensados pelo risco assumido?”, conclui.