Adérito Oliveira (BPI GA): “A partir do momento em que a sustentabilidade entrar na definição do perfil de investidor de um cliente, estas questões vão destacar-se”

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Adérito Oliveira. Créditos: Vitor Duarte

Como se costuma dizer, o bom filho à casa torna. Adérito Oliveira agora responsável pela área de sustentabilidade da BPI GA ingressou na entidade gestora como gestor de carteiras em 2007, e depois de alguns anos fora da instituição, acabou por regressar em 2016, na altura precisamente para analisar o mundo ESG.

Mais tarde, com a entrada do CaixaBank na componente acionista do banco, desempenhou funções no processo de integração da BPI Gestão de Ativos no CaixaBank Asset Management. Sete anos depois, Adérito Oliveira volta ao tema da sustentabilidade, desta vez assumindo a liderança da área.

Na opinião do agora responsável, não podiam estar reunidas melhores condições para desenvolver o tema, e fala mesmo de um “alinhamento de fatores”. Por um lado, refere, “empresas e governos têm estado muito alinhados em fazer face às alterações climáticas”. Por outro lado, existe muita informação, algo que em 2016 recorda como escassa. Mas acima de tudo, um fator muito importante para o especialista é a existência de um verdadeiro mercado atualmente. “Por exemplo, o mercado de green bonds tem-se vindo a expandir fortemente. O volume programado para este ano é equivalente a todo o stock dos anos anteriores, e espera-se que quintuplique até 2025”, detalha. Recentemente, a entidade lançou mesmo dois fundos artigo 9º da SFDR, um deles focado em green bonds.

Embora durante o surgimento da pandemia se tenha pensado que todas estas questões pudessem ficar para trás, a verdade é que tal não aconteceu. Pelo contrário. A própria procura dos investidores é outro dos fatores que Adérito OIiveira coloca em cima da mesa para destacar o potencial da área.

Transversalidade de clientes

Se no início eram apenas os institucionais que procuravam soluções relacionadas com o tema, agora o caso mudou de figura. “A regulação e a necessidade de classificação da oferta em diferentes categorias em matérias de sustentabilidade, exige que comuniquemos com os clientes de uma determinada forma, e estas questões passaram a ser muito transparentes. Na verdade, existem estudos que apontam para que os clientes das gerações mais novas – e que terão um crescente poder de decisão nos investimentos - demonstram preferências mais marcadas relativas ao tema da sustentabilidade”, justifica. Embora as questões de sustentabilidade não tenham estado até agora muito relacionadas com os clientes de retalho, na perspetiva de Adérito Oliveira há mudanças à vista. “A partir do momento em que esta matéria entra na definição do perfil de investidor, estas questões vão destacar-se”, enfatiza.

Atraso RTS

Apesar das questões regulatórias não terem sido até agora um impedimento para que a entidade se desenvolva no campo da sustentabilidade, os possíveis atrasos nas RTS (Regulatory Technical Standards) são “claramente uma fonte de preocupação”. O responsável entende que o “grau de incerteza do texto final”, bem como “as orientações que serão dadas pelas autoridades locais”, adicionam alguma indefinição.  “Está aprovada e em vigor a legislação de nível um, mas sem as normas técnicas que nos podem ajudar na componente prática ficamos no campo da incerteza”, destaca.

Ainda assim, é da opinião de que trabalhar com base no best effort é a única solução. Desse modo, espera que do lado dos reguladores haja “alguma tolerância, durante algum tempo”.

Equipas

Dentro de portas, por sua vez, continuam cientes de que é importante formar as equipas de investimento, mas também as de outras áreas. “Queremos disseminar na casa gestora as responsabilidades ligadas ao tema da sustentabilidade. Toda a gente tem de estar empenhada neste tema, e todos têm de integrar essas preocupações no seu dia a dia”, considera. No entanto, nem todas as soluções vêm de dentro. “Tal como acontece nos temas financeiros, em que nos alavancamos em entidades terceiras – sistemas de informação, providers de research, etc.- também continuaremos a apoiar-nos em fornecedores externos nos temas de sustentabilidade, como acontece com ratings externos, research ESG, etc.”, conclui.