BCE avisa que as taxas vão continuar a subir: as reações das gestoras internacionais

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Créditos: Guillaume Périgois (Unsplash)

Seguindo a tónica do seu congénere norte-americano, o Banco Central Europeu correspondeu às expetativas do mercado e baixou o ritmo das subidas de taxas para 50 pontos base. Mas este foi o único presente da reunião de dezembro. O tom definido por Christine Lagarde foi, sem dúvida, hawkish. A presidente do BCE enviou uma mensagem clara esta quinta-feira: as taxas na Europa vão continuar a subir. A luta contra a inflação ainda não acabou. Também anunciou que vai iniciar o seu programa de ajuste quantitativo (quantative tightening) no início de março de 2023.

De acordo com as suas próprias projeções atualizadas, o BCE espera que a taxa de inflação diminua muito lentamente. Espera que mesmo em 2025 ainda estará acima do valor-alvo do BCE. Concretamente, espera uma taxa média de 6,3% (contra 5,5% das previsões anteriores) em 2023, e em 2025 as expetativas são de 2,4%.  "Uma vez que as previsões são sempre baseadas nas expetativas do mercado (e não nas próprias expetativas do BCE) quanto às novas subidas das taxas de juro, isso significa que o BCE deve convencer ainda mais os mercados da sua determinação”, afirmou Martin Moryson, economista-chefe para a Europa na DWS.

E assim, mais uma vez, vemos uma reação muito negativa nos principais mercados de ações. Os índices europeus e norte-americanos estão com quedas de mais de 2% na sessão. Os ativos de risco estão a ser afetados pelo tom pessimista das duas reuniões do banco central.

Como salienta Nicolas Forest, responsável de Rendimento Fixo da Candriam, estas medidas também vão pressionar os mercados obrigacionistas. E dado que se prevê mais oferta em 2023, existe um risco claro de taxas de juro elevadas, o que poderá enfraquecer o mercado imobiliário. “Em 2023, o BCE vai fazer um jogo perigoso. A recessão está a chegar e a forte redução da liquidez nos primeiros meses de 2023 terá de ser monitorizada”, prevê Forest.

Uma espiral de inflação preocupa

Um ponto-chave realçado por Silvia Dall'Angelo, economista sénior da Federated Hermes Limitedo BCE espera continuar a ajustar as taxas a um ritmo estável para níveis suficientemente restritivos. "A Presidente Lagarde chegou a dizer que o BCE precisa de fazer mais do que os mercados financeiros estão neste momento a avaliar (antes da reunião, os mercados de taxas de curto prazo previam uma taxa máxima abaixo dos 3% em 2023). Sugeriu que um ritmo constante significa uma série de subidas de taxas de 50 pontos base.”

O tom foi tão hawkish que a flexibilidade ainda concedida pela dependência dos dados e pela abordagem reunião a reunião passou para segundo plano. Para a especialista, o BCE está claramente preocupado com a possibilidade de uma inflação elevada se consolidar através de efeitos colaterais, e a recente evolução dos salários é provavelmente um sinal de alarme para o organismo presidido por Lagarde.

À medida que os mercados começaram a prever numa inflação mais calma, a mensagem do BCE é que ainda há uma luta pela frente. Lagarde sublinhou repetidamente que as pressões inflacionistas continuam a ser demasiado elevadas. Porquê? "Porque o principal fator por detrás do ligeiro declínio da inflação da zona euro em novembro não foi um enfraquecimento das pressões inflacionistas, mas um grande efeito de base, como mostrámos recentemente num estudo", explica Pablo Duarte, analista do Flossbach von Storch Research Institute.

Membros dovish tomam atitude hawkish

No entanto, nem todas as gestoras acreditam nesta mensagem restritiva. "Vemos os membros dovish do Conselho do BCE a tomarem uma atitude hawkish, não a tornarem-se hawkish", afirma Anna Stupnytska, macroeconomista global da Fidelity International. A especialista acredita que a partir de agora o BCE dependerá dos dados. Se o crescimento a curto prazo surpreender pela positiva, graças em parte a um inverno mais quente no início de 2023, é provável que o BCE continue a ajustar a política monetária, com mais dois aumentos de 25 pontos base no primeiro semestre do ano, e que o ciclo termine com uma taxa terminal de 2,5%, abaixo da expetativa de mercado. “Acreditamos que esta é uma posição suficientemente restritiva para reduzir a inflação, evitando uma recessão profunda”, afirma.